INTRODUÇÃO
Que os calvinistas defendem que Deus determina atos maus isso não é novidade, afinal de contas defendemos uma providência divina exaustiva (quer dizer minuciosa sobre todos os acontecimentos), pois acreditamos que uma vez que Deus é causa primeira, e o motor imóvel que move todo o resto (causa segunda), é logicamente impossível que qualquer evento aconteça fora dos seus domínios, supervisão e estrito controle, se algo acontece a parte do mover de Deus, esse algo torna-se também um motor imóvel e, portanto, outro Deus e assim teríamos dois deuses, o que é absurdo, assim a providência exaustiva é necessária para que o conceito de Deus possa existir. No entanto, uma pergunta salutar pode surgir: se Deus controla absolutamente tudo, e decreta e determina tudo, então ele determina os atos maus? E se ele determina os atos maus, então ele é mau? A resposta a primeira pergunta é sim, e a resposta para a segunda pergunta é não, e responderemos o porquê.
DEUS É RESPONSÁVEL PELO AGIR, NÃO PELO PECAR
Calvino ao explicar esse problema, da determinação dos atos maus, usa a seguinte ilustração:
“E, indago eu, donde provém o mal cheiro em um cadáver que, pelo calor do sol, não só se fez putrefato, mas até já entrou em decomposição? Todos vêem que isso é provocado pelos raios do sol; contudo, ninguém por isso diz que eles cheiram mal. Daí, como no homem mau residem a matéria e a culpa do mal, que razão há para que se conclua que Deus contrai alguma mácula se, a seu arbítrio, ele faz uso de sua atuação?” (CALVINO, J. Institutas 1.17.5)
A ilustração de Calvino é bem elucidativa, a luz divina é o poder para energizar o homem (causa primeira), e o cadáver representa o homem de natureza depravada (causa segunda), quando a energia de Deus o move, ele irá exalar sua podridão, se a mesma luz incide sobre um corpo vivo, ele produz vida, saúde etc (isso acontece porque a causa segunda é movida de acordo com a natureza que lhe é própria). Observamos claramente que o problema não está na luz, mas na natureza do corpo a ser atingido, a mesma luz sobre dois corpos, dois resultados diferentes. Assim, a determinação dos atos maus acontece por causa da natureza do corpo a ser movido, se o corpo é morto, ele apodrece, se é um corpo vivo, ele se torna mais vivo. Há uma diferença digna de nota na determinação dos atos bons para a determinação dos atos maus, pois na determinação dos atos bons, Deus é sua causa física (pela infusão do bem no homem, pois esse é naturalmente mau) e sua causa ética (pois aprova os atos bons), já com os atos maus Deus não é sua causa física (pela infusão do mal) nem sua causa ética (pela aprovação dele), mas somente a causa de sua manutenção e mover, que como a luz do sol, é essencialmente bom sendo desviada pela corrupção da natureza criada. Assim, a responsabilidade é total da natureza criada, não da causa primeira que é Deus.
CONCLUSÃO
Saber reconhecer as diferenças entre causa primeira e causa segunda na concorrência divina é a chave para todo o entendimento do governo divino, sem isso, cairemos nos erros de tornar Deus o autor do mal, o que é blasfêmia.
2 respostas em “SE DEUS DETERMINA OS ATOS MAUS COMO ELE NÃO É CULPADO DO MAL?”
podemos interpretar questões do tipo: quando DEUS usa a babilônia para punir Israel e depois puni a babilônia, a patir desse texto?
quando Deus usa Babilônia para punir, Ele está exercendo o seu juízo, e todo juízo é justo. Não há infusão do pecado, nem do mal, mas quem peca, peca por conta de sua própria natureza.