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Calvinismo

QUEM É O AUTOR DO MAL? Há um decreto de permissão? Ou um decreto de ordenação?

INTRODUÇÃO

Depois da publicação de um artigo no blog, nesse artigo farei algumas considerações a mais, pois antes eu falei sobre os atos maus dos homens e a concorrência divina e a própria determinação divina dos atos maus enquanto atividade humana, mas a pergunta que surgiu logo após isso foi – quem seria um autor do mal que há no mundo? E mais, Deus emitiu um decreto e nesse decreto o mal já fazia parte dele?

DEUS É O AUTOR DO MAL?

Aqui se faz de suma importância fazer algumas considerações para o nosso entendimento. Primeiro devemos distinguir mal do pecado e também distinguirmos a autoria transcendental do mal e a autoria do mal no nosso mundo. Quanto ao primeiro ponto, por mais que mal e pecado pareçam ser a mesma coisa, eles não são! O mal só se confunde com o pecado se for um mal moral, mas o mal natural não se confunde com o pecado, mas tem relações causais em sua origem. A Bíblia é clara que o mal entrou no mundo por causa do pecado, ou seja, Adão pecou e Deus puniu Homem com a entrada do mal no mundo. Deus amaldiçoou a terra, colocou a dor na mulher, e fez o homem trabalhar e de quebra, como prometido, fez o homem e tudo mais que é vivo entrar em estado de falência. Então ao ser perguntado quem foi o autor do mal que está no mundo, pode-se dizer apropriadamente que foi Deus, mas somente nesse sentido, pois foi Deus quem amaldiçoou a terra e o homem como punição pelo pecado, o que nós NUNCA, JAMAIS, podemos dizer é que Deus é o autor do pecado, pois nunca o é, nem será.

ANÁLISE DO TEXTO BÍBLICO

 Primeiro, já existia uma promessa, feita por Deus, que isso iria acontecer como castigo divino: 
“Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que NÃO MORRAIS.”

Gênesis 3:3

Então depois da desobediência, o próprio Deus AMALDIÇOOU a serpente.
“Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, MALDITA serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.”Gênesis 3:14

O próprio Deus também colocou a inimizade entre os filhos da serpente (os reprovados) e os filhos de Deus (os eleitos), aqui, é importante ressaltar que fica destruída e toda e qualquer pretensão supralapsariana, uma vez que vemos claramente o decreto de eleição e reprovação após a queda, mas isso é outro assunto. Outro detalhe importante é que até então a serpente não era considerada uma inimiga do homem, foi Deus que colocou essa inimizade.

“E POREI INIMIZADE entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Gênesis 3:15

Deus também amaldiçoou a mulher, e também a mulher se tornou rebelde precisando o marido dominá-la:
“E à mulher disse: MULTIPLICAREI grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.”
Gênesis 3:16

Amaldiçoou a terra:
“E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida.
Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo.
No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.”

Gênesis 3:17-19

Ou seja, tudo que podemos considerar mal hoje, como os distúrbios no clima, seca no nordeste, as doenças, inimizade entre pessoas, são frutos da ira de Deus em consequência do pecado. Portanto, a origem do mal em nosso mundo é muito bem explicada, o mal é o meio pelo qual Deus pune o mundo pecador, e é nesse sentido que devemos interpretar Isaías 45.7 por exemplo. Mas não se deve atribuir a Deus os atos pecaminosos das pessoas, que podem ser apropriadamente chamados de maus. 


O MAL NA ORDEM TRANSCENDENTAL E SUA IRRELEVÂNCIA

Já notaram que a Bíblia pouco fala sobre a origem do mal antes da existência do homem? Como foi que o anjo de luz de tornou diabo, é muito pouco falado nas escrituras. O meu entendimento sobre isso é que a origem transcendental do mal é totalmente irrelevante, porque se Adão nunca tivesse pecado, o mal jamais teria entrado no mundo, e se jamais teria entrado no mundo, nós não precisaríamos refletir sobre isso hoje, então poderiam existir 500 quedas transcendentalmente, isso não faria diferença alguma caso o Homem nunca pecasse, logo, a eficácia tanto do diabo como do mal no nosso mundo se deve por conta da queda, logo a queda que é o fator diferencial, o que existiu antes é tão indiferente quanto perguntar o que Deus fazia antes de criar tudo, é uma pergunta boba. Sabemos porém que Deus não pode ter sido o autor do pecado do diabo, mas que, assim como fez com Adão, pode ter derramado sua ira sobre o Diabo por causa de seu pecado. Ressaltamos também que Deus jamais é autor de atos maldosos, pois esses são o mesmo que pecado, mas somente do mal como punição divina.

MAS SE DEUS DECRETA TUDO, ENTÃO ELE TAMBÉM NÃO DECRETOU O PECADO E O MAL?

O pecado foi permitido por Deus como diz a escritura: “Assim, deixei-o andar na teimosia de seu próprio coração”, SI 81.12; e “o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem em seus próprios caminhos”, At 14.16
Segundo os versículos acima, Deus permite sim o pecado, ele não aprova em momento algum, antes ele pune e condena o pecado. Deus sente repulsa pela iniquidade (SI 5.4-6; 45.7), a tal ponto a detesta que não a pode suportar: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal” (Hc 1.13); “porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13), porque ele não tem nenhuma culpa pelo mal (kakõn anaitios). Mas pode-se perguntar, e o decreto? Diz-se apropriadamente que Deus DECRETOU PERMITIR, mas se Deus decretou, isso não significa que isso é da vontade ética (de aprovação do pecado ou por uma relaxação ou dispensa da lei, que é oposto a proibição). Nesse sentido, se Deus permitisse o pecado, também o aprovaria como lícito ou justo (o que é absurdo), que é a confusão que Cheung e seus seguidores fazem. Antes, essa permissão é física (que é de fato não impor impedimento, que é oposto à efetuação). Essa permissão não é passiva, indolente, como se Deus sentasse em uma cadeira e ficasse observando (como pensam alguns arminianos e molinistas), mas essa permissão deve ser concebida positiva e afirmativamente; não que Deus simplesmente não queira impedir o pecado (o que é uma negação indolente), mas ele não quer impedi-lo (o que é uma afirmação eficaz). Assim a permissão envolve um ato positivo da vontade secreta, pela qual Deus digna e espontaneamente determinou não impedir o pecado, embora se possa dizer que ele o repele quanto à vontade revelada de aprovação.


CONCLUSÃO

Assim dizemos que Deus é autor do mal como castigo divino, mas não autor do pecado, nem de atos maldosos, pois estes se confundem com o pecado, pois se confundem com a natureza pecaminosa da causa segunda, como explicado nesse artigo. Mas antes, Deus pune o pecado com sua ira sobre o pecador e sobre a criação, essa ira inclui morte, dor e tudo que conhecemos hoje como sofrimento. Sobre o decreto divino, Deus permitiu decretar, o que é um decreto ativo, mas que não é uma ordenação ética daquilo que ele mesmo proíbe, isso seria uma absurdo, então Deus decretou não impedir o pecado, o que é diferente de dizer que Deus ordenou o pecado, pois se assim fosse, Deus ordenaria aquilo que ele mesmo proíbe, e isso é impossível. 

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