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Quem escreveu as leis da natureza?



Do livro de Antony Flew

Talvez o mais popular e intuitivamente plausível ar­gumento pela existência de Deus é o assim chamado argumento do desígnio. De acordo com ele, o desígnio que se vê na natureza sugere a existência de um Planeja­dor cósmico. Tenho freqüentemente dito que esse é de fato um argumento “da ordem para o desígnio”, porque tais argumentos procedem da ordem percebida na natu­reza para mostrar a evidência de um plano e, assim, de um Planejador. Embora eu já tenha sido um ferrenho crí­tico do argumento do desígnio, passei a ver que, quando corretamente formulado, ele constitui uma defesa persuasiva da existência de Deus. Avanços em duas áreas em particular levaram-me a essa conclusão. A primeira é a questão da origem das leis da natureza e as idéias, a isso relacionadas, de importantes cientistas modernos. A segunda é a questão da origem da vida e a reprodução. O que quero dizer quando falo das leis da natureza? Por “lei”, eu me refiro àregularidade ou simetria na na­tureza. Alguns exemplos, tirados de livros didáticos, po­dem ilustrar o que digo:

A lei de Boyle estipula que, dada uma temperatu­ra constante, o produto do volume e da pressão de uma quantidade fixa de um gás ideal é constante.

De acordo com a primeira lei do movimento de Newton, um objeto em repouso permanecerá em re­pouso a menos que uma força externa atue sobre ele, e um objeto em movimento permanecerá em movi­mento a menos que uma força externa atue sobre ele.

De acordo com a lei de conservação da energia, a quantidade total de energia em um sistema isolado permanece constante.
O mais importante não é o fato de haver essas regularidades na natureza, mas sim que elas são matematica­mente precisas, universais e interligadas. Einstein refe­riu-se a elas como “a razão encarnada”. O que devemos perguntar é o que fez a natureza surgir do jeito que é. Essa, sem dúvida, é a pergunta que os cientistas, de Newton a Einstein e a Heisenberg, fizeram e para a qual encontraram a resposta. Essa resposta foi: a Mente de Deus.

Esse modo de pensar não é encontrado apenas nos conhecidos cientistas teístas pré-modernos, como Isaac Newton e James Maxwell. Pelo contrário, muitos impor­tantes cientistas da era moderna consideram as leis da natureza pensamentos da Mente de Deus. Stephen Hawking termina seu best seller Uma breve história do tempo com a seguinte passagem:
Se descobrirmos uma teoria completa, ela terá de ser compreendida por todas as pessoas, não apenas por alguns cientistas. Então nós todos, filósofos, cientistas e pessoas comuns, devemos ser capazes de participar da discussão sobre o motivo de nós e o universo exis­tirmos. Se encontrarmos a resposta, esse será o supre­mo triunfo da razão humana, porque, então, conhece­remos a mente de Deus.
Mesmo que haja uma única, unificada teoria, ela será apenas um conjunto de regras e equações. Pergunto: o que dá vida às equações e cria um universo para que elas o descrevam?
Hawking disse mais sobre isso em entrevistas poste­riores. “O que causa maior impressão é a ordem. Quanto mais descobrimos sobre o universo, mais vemos que ele é governado por leis racionais.” “E uma pergunta conti­nua: por que o universo dá-se ao trabalho de existir? Se quiserem, vocês podem definir Deus como a resposta para essa pergunta.”

Quem escreveu todos aqueles livros?


Muito antes de Hawking, Einstein usava linguagem similar: “Quero saber como Deus criou este mundo. Que­ro conhecer Seus pensamentos, o resto são detalhes”. Em meu livro God and Philosophy, eu disse que não podemos tirar muita coisa desses trechos, porque Einstein dissera que acreditava no Deus de Spinoza. Como, para Baruch Spinoza, as palavras “Deus” e “natureza” eram sinôni­mos, poderíamos dizer que Einstein, aos olhos do judaís­mo, do cristianismo e do islamismo, era inequivocamen­te um ateísta e “pai espiritual de todos os ateístas”.

Mas o livro recente, Einstein e a religião; física e teolo­gia, de Max Jammer, um dos amigos de Einstein, pinta um quadro muito diferente da influência de Spinoza e das próprias crenças de Einstein. Jammer mostra que o conhecimento que Einstein tinha de Spinoza era bastan­te limitado, que dele lera apenas Ética e que rejeitara re­petidos convites para escrever sobre sua filosofia. Em res­posta a um desses convites, ele replicou: “Não tenho conhecimento profissional suficiente para escrever um ar­tigo sobre Spinoza”. Embora Einstein compartilhasse a crença de Spinoza em determinismo, Jammer afirma que é“artificial e infundado” presumir que o pensamento de Spinoza influenciou a ciência de Einstein”. Jammer ob­serva ainda que “Einstein tinha afinidade com Spinoza porque percebia que ambos sentiam necessidade de so­lidão e também pelo fato de terem sido criados na tradi­ção judaica e mais tarde abandonado a religião de seus ancestrais”.
Mesmo chamando atenção para o panteísmo de Spinoza, Einstein expressamente negava ser ateísta ou panteísta:
“Não sou ateísta, e não acho que posso me chamar de panteísta. Estamos na situação de uma criança que en­tra em uma enorme biblioteca cheia de livros escritos em muitas línguas. A criança sabe que alguém escre­vera aqueles livros, mas não sabe como. Não entende os idiomas nos quais eles foram escritos. Suspeita va­gamente que os livros estão arranjados em uma or­dem misteriosa, que ela não compreende. Isso, me parece, é a atitude dos seres humanos, até dos mais inteligentes, em relação a Deus. Vemos o universo ma­ravilhosamente arranjado e obedecendo a certas leis, mas compreendemos essas leis apenas vagamente. Nossa mente limitada capta a força misteriosa que move as constelações.” (Grifo acrescentado.)
No livro Deus: um delírio, Richard Dawkins fala de minha antiga opinião de que Einstein era ateísta. Fazen­do isso, ignora a declaração categórica de Einstein, citada acima, de que ele não era ateísta, nem panteísta. Isso é surpreendente, porque Dawkins cita Jammer, mas deixa de fora numerosas declarações, tanto de Jammer como de Einstein, que são fatais para seu argumento. Jammer observa, por exemplo, que “Einstein sempre protestou contra o fato de ser visto como ateísta. Em uma conversa com o príncipe Hubertus de Lowenstein, ele declarou que ficava zangado com pessoas que não acreditavam em Deus e o citavam para corroborar suas idéias. Einstein repudiou o ateísmo porque nunca viu sua negação de um deus personificado como uma negação de Deus”.

Einstein, naturalmente, não acreditava em um Deus personificado, mas disse:
Uma outra questão é a contestação da crença em um Deus personificado. Freud endossou essa idéia em sua última publicação. Eu próprio nunca assumiria tal ta­refa, porque tal crença me parece preferível à falta de qualquer visão transcendental da vida, e imagino se seria possível dar-se, à maioria da humanidade, um meio mais sublime de satisfazer suas necessidades metafísicas.
“Resumindo”, conclui Jammer, “Einstein, como Maimônides e Spinoza, categoricamente rejeitava qual­quer antropomorfismo no pensamento religioso”. Mas, diferentemente de Spinoza, que via na identificação de Deus com a natureza a única conseqüência lógica da ne­gação de um Deus personificado, Einstein sustentava que Deus se manifesta “nas leis do universo como um espíri­to infinitamente superior ao espírito do homem, diante do qual nós, com nossos modestos poderes, devemos nos sentir humildes”. Einstein concordava com Spinoza na idéia de que quem conhece a natureza conhece Deus, não porque a natureza seja Deus, mas porque a busca da ciên­cia, estudando a natureza, leva à religião.

A “mente superior” de Einstein


Einstein obviamente acreditava em uma fonte trans­cendental da racionalidade do mundo, que ele chama­va de “mente superior”, “espírito superior infinito”, “força inteligente superior” e “força misteriosa que move as constelações”. Isso fica evidente em várias de suas declarações:
“Nunca encontrei uma expressão melhor do que “reli­giosa” para definir a confiança na racional natureza da realidade e de sua peculiar acessibilidade à mente humana. Onde não há essa confiança, a ciência dege­nera, tornando-se um procedimento sem inspiração. Se os sacerdotes lucram com isso, que o diabo cuide do assunto. Não há remédio para isso.
Quem quer que tenha passado pela intensa experiên­cia de conhecer bem-sucedidos avanços nesta área (ciência) é movido por profunda reverência pela ra­cionalidade que se manifesta em existência… a gran­deza da razão encarnada em existência.
O certo é que a convicção, semelhante ao sentimento religioso, da racionalidade ou inteligibilidade do mundo, está por trás de todo trabalho científico de uma ordem superior. Essa crença firme em uma mente superior que se revela no mundo da experiência, ligada a profundo sentimento, representa minha concepção de Deus.
Todos os que seriamente se empenham na busca da ciência convencem-se de que as leis da natureza manifestam a existência de um espírito imensamente su­perior ao do homem, diante do qual nós, com nossos modestos poderes, devemos nos sentir humildes.
Minha religiosidade consiste de uma humilde admiração pelo espírito infinitamente superior que se re­vela nos pequenos detalhes que podemos perceber com nossa mente frágil. Essa convicção profundamente emocional da presença de um poder racional supe­rior, que é revelado no incompreensível universo, for­ma minha idéia de Deus.”

Saltos quânticos na direção de Deus


Einstein, descobridor da relatividade, não foi o único grande cientista que viu uma conexão entre as leis da natureza e a Mente de Deus. Os pais da física quântica, outra grande descoberta científica dos tempos modernos, Max Planck, Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger e Paul Dirac, também fizeram declarações similares, e abai­xo reproduzo algumas delas.

Werner Heisenberg, famoso por seu princípio da in­certeza e pela mecânica das matrizes, disse: “No decor­rer de minha vida, vejo-me freqüentemente compelido a refletir sobre o relacionamento dessas duas áreas de pen­samento (ciência e religião), porque nunca pude duvidar da realidade daquilo para o que elas apontam”. Em ou­tra ocasião, ele disse:
“Wolfang (Pauli) me perguntou de modo inesperado: Você acredita em um Deus personificado? Perguntei se podia reformular a pergunta, dizendo que preferia fazê-la da seguinte maneira: você, ou qualquer outra pessoa, pode chegar à ordem central de coisas e acon­tecimentos cuja existência parece estar além da dúvi­da tão diretamente quanto pode alcançar a alma de outra pessoa? Estou usando o termo alma deliberada­mente, para não ser mal-compreendido. Se fizer sua pergunta dessa forma, eu direi que sim. Se a força magnética que tem guiado essa bússola especial e qual mais poderia ser sua fonte, a não ser a ordem central? se extinguisse, coisas terríveis aconteceriam à humanidade, muito mais terríveis do que campos de concentração e bombas atômicas.”
Outro pioneiro da física quântica, Erwin Schrödinger, que desenvolveu a mecânica ondulatória, declarou:
“O quadro científico do mundo a minha volta é muito deficiente. Ele me dá muitas informações factuais, põe toda nossa experiência em uma ordem magnificamente coerente, mas mantém um horrível silêncio sobre tudo o que é caro ao nosso coração, o que é realmente im­portante para nós. Esse quadro não me diz uma pala­vra sobre a sensação de vermelho ou azul, amargo e doce, sentimentos de alegria e tristeza. Não sabe nada de beleza e fealdade, de bom e de mau, de Deus e de eternidade. A ciência, às vezes, finge responder a es­sas perguntas, mas suas respostas, quase sempre, são tão tolas que não podemos aceitá-las seriamente. A ciência é reticente também quando se trata de uma pergunta sobre a grande Unidade da qual nós, de alguma forma, fazemos parte, à qual pertencemos. Ago­ra, em nosso tempo, o nome mais popular para isso é Deus, com D maiúsculo. A ciência tem sido, costumeiramente, rotulada de ateísta e, depois de tudo o que já dissemos, isso não é de surpreender. Se o qua­dro do mundo da ciência não contém beleza, alegria, tristeza, se personalidade foi eliminada dele, por co­mum acordo, como poderia conter a idéia mais subli­me que se apresenta à mente humana?
Max Planck, que foi o primeiro a introduzir a hipóte­se quântica, sustentou claramente que a ciência complementa a religião, declarando que “nunca poderá haver um real antagonismo entre religião e ciência, porque uma é o complemento da outra”. Ele também disse que “a re­ligião e a ciência natural estão lutando juntas numa cru­zada sem trégua contra o ceticismo e o dogmatismo, con­tra a descrença e a superstição, e, assim, a favor de Deus!”.

Paul A. M. Durac, que complementou o trabalho de Heisenberg e Schrödinger com uma terceira formulação da teoria quântica, observou que “Deus é um matemáti­co de altíssima categoria, que usou matemática avança­da para construir o universo”.

Antes desses cientistas, Charles Darwin já expressa­ra uma opinião semelhante:
“A razão me fala da extrema dificuldade, ou melhor, da impossibilidade de concebermos a idéia de que esse imenso e maravilhoso universo, incluindo o homem com sua capacidade de olhar para o passado distante e para o futuro remoto, foi resultado de acaso cego. Assim refletindo, sinto-me compelido a procurar uma Primeira Causa com mente inteligente, análoga, de certo modo, àquela do homem. Mereço ser chamado de teísta.”
Essa linha de pensamento é mantida viva nos escri­tos de muitos dos mais importantes cientistas de hoje, como Paul Davies, John Barrow, John Polkinghorne, Freeman Dyson, Francis Collins, Owen Gingerich, Roger Penrose, e filósofos da ciência, como Richard Swinburne e John Leslie.

Davies e Barrow, em particular, têm desenvolvido em teorias as idéias de Einstein, de Heisenberg e outros cien­tistas a respeito da relação entre a racionalidade da natu­reza e a Mente de Deus. Ambos receberam o prêmio Templeton por suas contribuições a esse estudo. Suas obras corrigem muitas concepções errôneas à medida que lançam luz sobre os assuntos discutidos aqui.

Leis de quem?


No discurso que fez na entrega do prêmio Templeton, Paul Davies disse que “a ciência só progredirá se os cien­tistas adotarem uma visão do mundo essencialmente teo­lógica”. Ninguém pergunta de onde vieram as leis da fí­sica, mas “mesmo os cientistas mais ateus aceitam, como um ato de fé, a existência de uma ordem na natureza que obedece a leis e é, pelo menos parcialmente, compreensí­vel para nós”. Davies rejeita duas comuns idéias errô­neas. Diz que é errada a idéia de que uma “teoria de tudo” teoria hipotética que unificaria todos os fenômenos físicos mostraria que este é o único mundo logicamen­te consistente, e que isso pode ser demonstrado, porque não há nenhuma prova de que o universo é logicamente necessário, e na verdade é possível imaginar universos alternativos que sejam logicamente consistentes. Davies diz também que é uma “tolice completa” supor-se que as leis da física são leis nossas, não da natureza. Os físicos não podem acreditar que a lei da gravitação de Newton seja uma criação cultural. As leis da física “realmente exis­tem”, declara Davies, e o trabalho dos cientistas é desco­bri-las, não inventá-las.
Ele chama atenção para o fato de que as leis da natu­reza por trás dos fenômenos não são descobertas por meio de observação direta, mas reveladas por experiência e teo­ria matemática. Essas leis são escritas num código cósmi­co que os cientistas devem decifrar a fim de que seja reve­lada a mensagem que é “a mensagem da natureza, a mensagem de Deus a escolha do termo é sua , mas não nossa mensagem”.
A questão principal, diz Davies, é dividida em três partes:
“De onde vêm as leis da física?
Por que temos essas determinadas leis, em vez de um conjunto de outras?
Como explicamos o fato de que temos um conjun­to de leis que dão vida a gases sem traços característi­cos, consciência ou inteligência?”
Essas leis “parecem quase planejadas funcionan­do em perfeita harmonia, como dizem alguns comentaristas para que a vida e a consciência possam emer­gir”. Ele conclui, dizendo que essa “natureza planejada da existência física é fantástica demais para que eu a aceite como um simples fato. Ela aponta para um significado fundamental e mais profundo da existência”. Palavras como “propósito” e “planejamento”, ele diz, captam ape­nas de modo imperfeito o porquê do universo. “Mas exis­te um porquê, disso não tenho a menor dúvida.”

John Barrow, em seu discurso na fundação Templeton, observa que a complexidade infinita e a perfeita estrutu­ra do universo são governadas por algumas leis simples, simétricas e inteligíveis. “Existem equações matemáticas, que parecem meros rabiscos num papel, que nos dizem como universos inteiros se comportam.” Como Davies, ele descarta a idéia de que a ordem do universo é impos­ta por nossa mente. “A seleção natural não requer a com­preensão de quarks e buracos negros para nossa sobrevi­vência e multiplicação.”

Barrow observa que, na história da ciência, novas teo­rias ampliam e incluem teorias antigas. Embora a teoria da mecânica de Newton tenha sido substituída pela de Einstein e poderá ser substituída por alguma outra no futuro , daqui a mil anos engenheiros ainda recorrerão às teorias de Newton. Do mesmo modo, Barrow diz, as concepções religiosas a respeito do universo também usam aproximações e analogias para facilitar a compreen­são de coisas novas. “Elas não são toda a verdade, mas isso não impede que sejam parte da verdade.”

O divino legislador


Alguns filósofos escreveram também sobre a divina procedência das leis da natureza. Em seu livro The Divine Lawmaker: Lectures on Induction, Laws of Nature and the Existence of God, o filósofo de Oxford, John Foster, defen­de que a melhor explicação para a regularidade da natu­reza, seja como for que a descrevamos, é uma Mente di­vina. Se aceitamos o fato de que há leis, então temos de aceitar que existe alguma coisa que impõe essa regulari­dade ao universo. Mas o que é a impõe? Foster sustenta que a opção teísta é a única séria, de modo que “é racio­nalmente justificada nossa conclusão de que é Deus o Deus explicado pelos teístas que cria as leis, impondo as regularidades ao mundo”. Mesmo se negarmos a exis­tência de leis, ele argumenta, “há um forte argumento a favor da explicação de que as regularidades são da auto­ria de Deus”.

Swinburne faz uma observação semelhante numa res­posta à crítica feita por Dawkins ao seu argumento do desígnio:
“O que é uma lei da natureza? (Nenhum de meus críti­cos enfrentou essa questão.) Dizer que é uma lei da natureza que todos os corpos se comportem de certa maneira — por exemplo, atraem-se mutuamente de acordo com certa fórmula — é, eu sugiro, dizer ape­nas que cada corpo físico comporta-se assim, isto é, atrai cada corpo dessa maneira. É mais simples supor que essa uniformidade surge da ação de uma subs­tância que faz com que todos comportem-se da mes­ma maneira do que supor que o comportamento uni­forme de todos os corpos é um fato irracional e final.”
O principal argumento de Swinburne é que um Deus personificado com as qualidades tradicionais explica melhor a operação das leis da natureza.

Richard Dawkins rejeitou esse argumento, dizendo que Deus é uma solução muito complexa para explicar o universo e suas leis. Parece-me bizarra essa declaração a respeito do conceito de um Ser espiritual onipotente. O que há de complexo na idéia de um Espírito onisciente e onipotente, uma idéia tão simples que é compreendida por todos os seguidores das três maiores religiões monoteístas, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo? Alvin Plantinga recentemente observou que, pela pró­pria definição de Dawkins, Deus é simples, não comple­xo, porque é um espírito, não um objeto material e que, portanto, não tem várias partes.
Retornando a minha parábola do telefone via satélite do capítulo anterior, as leis da natureza são um problema para os ateístas porque elas são uma voz de racionalida­de ouvida pelos mecanismos da matéria. “A ciência ba­seia-se na suposição de que o universo é meticulosamen­te racional e lógico em todos os níveis”, escreve Paul Davies, comprovadamente o mais influente expositor con­temporâneo da ciência moderna. “Os ateístas alegam que as leis da natureza existem sem nenhuma razão, e que o universo é, em última análise, absurdo. Como cientista, acho difícil aceitar isso. Tem de haver um solo firme e racional onde está enraizada a ordenada e lógica nature­za do universo.”

Esses cientistas que apontam para a Mente de Deus não apenas adiantam-se na apresentação de uma série de argumentos, ou de um processo de raciocínio silogístico, como propõem uma visão da realidade que emerge do centro conceitual da ciência moderna e im­põe-se à mente racional. E uma visão que eu, pessoalmente, considero não só convincente como irrefutável.

CONCLUSÃO


Para saber mais sobre os erros e refutações de outros argumentos contra o desígnio, sugiro os seguintes textos:

Sobre Hume – http://questoesultimas.blogspot.com.br/2013/12/hume-e-seus-adeptos-nao-derrubaram-o.html

Design aparente ou intencional – http://questoesultimas.blogspot.com.br/2013/12/de-onde-surge-toda-ordem-e-beleza-que.html


REFERENCIAS

1- http://www.iblauzane.com.br/web/e_books/Antony%20Flew%20-%20Deus%20Existe.pdf – pág. 71 à 82.



Por Francisco Tourinho

12 respostas em “Quem escreveu as leis da natureza?”

De onde vêm as leis da física? Possivelmente de flutuações quânticas que fizeram aparecer o nosso universo e outros.
Por que temos essas determinadas leis, em vez de um conjunto de outras? Talvez as leis tenham aparecido aleatoriamente no multiverso e nós temos que estar num universo em que estas permitam vida.
Como explicamos o fato de que temos um conjun­to de leis que dão vida a gases sem traços característi­cos, consciência ou inteligência? Não tenho a certeza de que percebi esta. Leis que dão vida a gases? Se está a falar do aparecimento de vida neste universo, nós temos que estar num universo dentro do multiverso em que a vida seja possível (factor de selecção). (*)

Quanto a deus, a sua existência não resolve o problema do facto das constantes e leis físicas serem como são, pois deus (o tal ser espiritual, transcendente, inteligente, imaterial, omnipresente, omnipotente, etc) podia querer um universo muito diferente (incluindo penicos voadores inteligentes, unicornos dourados, etc). Um deus que se queira revelar e estabelecer uma relação com os seres que criou (o deus dos teístas) também não é melhor – também se pode revelar a um penico voador inteligente num universo completamente diferente do nosso e estabelecer uma relação com este.

*Nota: para perceber melhor do que eu estou a falar deve consultar estas páginas: http://en.wikipedia.org/wiki/Eternal_inflation e http://en.wikipedia.org/wiki/Space-time_foam

A ideia de multiversos está longe de ser explicação para alguma coisa, primeiro porque assim como deus, ela tbm não pode ser avaliada.
http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=does-the-multiverse-really-exist&page=2

Os multiversos apenas multiplicam o problema, se descobrir a origem de um universo é difícil, agora imagina descobrir a origem de vários? Na verdade, essa hipótese, que está longe de ser falseável, só é agradável porque é uma tentativa de minimizar o problema do ajuste fino do universo.

Em segundo lugar, a teoria do universo múltiplo é tão ampla que qualquer acontecimento pode ser explicado por ela. Por exemplo, se perguntarmos "Por que os aviões atingiram as torres do World Trade Center e o Pentágono?", não poderemos culpar os terroristas islâmicos: a teoria nos permite dizer que simplesmente aconteceu de nós estarmos no universo onde aqueles aviões — embora parecesse que estivessem voando deliberadamente na direção daqueles prédios — verdadeiramente atingiram os prédios por acidente. Com a teoria do universo múltiplo, podemos até mesmo tirar a responsabilidade dos atos de Hitler. Talvez tenha calhado de estarmos no universo onde o Holocausto parece ser assassinato, mas, na verdade, os judeus secretamente conspiraram com os alemães e entraram sozinhos nos fornos.
O fato é que a teoria do universo múltiplo é tão aberta que pode ser até mesmo usada como desculpa para os ateus que a criaram. Talvez estejamos por acaso no universo onde algumas pessoas sugerem que a tal falta de sentido é a verdade!

Como assim as leis surgem das flutuações quânticas? As flutuações quânticas tbm não tem suas leis? Ou está sugerindo que as leis da natureza existem por causa de outras leis e essas por causa de outras e outras e outras até não ter mais leis alguma e chegarmos ao absurdo de que as leis vem do nada?

O texto fala bastante por si só tbm, acredito que muitas das perguntas que fez estão de forma, até mesmo implícita, respondida.

«Os multiversos apenas multiplicam o problema, se descobrir a origem de um universo é difícil, agora imagina descobrir a origem de vários?» Isso foi explicado e está respondido no meu comentário anterior. Mais ainda, se há infinitos universos não é preciso afinar nada para a existência de vida.

«Como assim as leis surgem das flutuações quânticas? As flutuações quânticas tbm não tem suas leis?» É possível que exista uma "espuma" quântica onde partículas subatómicas vão aparecendo e desaparecendo. sugiro que leia outra vez os artigos que indiquei. Quanto aos detalhes, esses são para os físicos. De onde é que isso veio? Não sei. Talvez tenha sempre existido.

«A ideia de multiversos está longe de ser explicação para alguma coisa, primeiro porque assim como deus, ela tbm não pode ser avaliada.» Além de ter acabado de dar um tiro no próprio pé, eu não disse que ela pode ser avaliada, apenas que é uma possibilidade.
O que eu quero demonstrar é que existem algumas hipóteses razoáveis para explicar o que observamos no nosso universo e que deus não é uma boa explicação e já justifiquei isso.

Além de tudo o mais as leis físicas não são coisas que estão escritas como se escreve num disco rígido ou algo do género – estas são descrições daquilo que se passa na natureza, das regularidades da natureza. Sobre as suas origens e o porquê disso ser assim, o que tenho dito acima é uma possível explicação. Se explicarmos a origem do universo, explicamos a origem das suas leis (ou regularidades) e se ao multiverso juntarmos um factor de selecção explicamos porque é que nos encontramos num universo com estas leis e constantes. Mas isto é só uma possibilidade.

Quanto a deus, este podia querer este universo ou outro qualquer. Não explica nada. A sua verosimilhança é nula. Se quiser esqueça o multiverso, esqueça as flutuações quânticas e tudo o resto. Deus não serve. Organismos inteligentes de outros universos vão dar ao mesmo. Nada disso serve e também não pode ser testado.

«Os multiversos apenas multiplicam o problema, se descobrir a origem de um universo é difícil, agora imagina descobrir a origem de vários?» Isso foi explicado e está respondido no meu comentário anterior. Mais ainda, se há infinitos universos não é preciso afinar nada.

«Como assim as leis surgem das flutuações quânticas? As flutuações quânticas tbm não tem suas leis?» É possível que exista uma "espuma" quântica onde partículas subatómicas vão aparecendo e desaparecendo. sugiro que leia outra vez os artigos que indiquei. Quanto aos detalhes, esses são para os físicos. De onde é que isso veio? Não sei. Talvez tenha sempre existido.

«A ideia de multiversos está longe de ser explicação para alguma coisa, primeiro porque assim como deus, ela tbm não pode ser avaliada.» Além de ter acabado de dar um tiro no próprio pé, eu não disse que ela pode ser avaliada, apenas que é uma possibilidade.
O que eu quero demonstrar é que existem algumas hipóteses razoáveis para explicar o que observamos no nosso universo e que deus não é uma boa explicação (e já disse porquê).

Maria, Leis implicam em um legislador, ordem implica em racionalidade, quem não vê uma mente na natureza não poderá dizer que existe uma mente no homem.

Eu não dei tiro no pé porque nunca defendi que deus pudesse ser avaliado. Deus pertence ao campo filosófico e teológico e deve ser avaliado nesse campo de conhecimento.

Existe uma ordem na natureza e isso não surge da desordem, o que vc acha, que a matéria criou a mente ou a mente criou a matéria?

Se existir um multiverso, aí sim, realmente ficará mais fácil ter um universo só com afinado, pq as probabilidades se multiplicam, mas e se não existir? Se só existir o nosso, essa possibilidade não foi descartada, nesse caso, o ajuste fino parece ser bem improvável para ter sido criado pela desordem e irracionalidade.

Sugiro a leitura desse texto:

http://questoesultimas.blogspot.com.br/2013/12/de-onde-surge-toda-ordem-e-beleza-que.html

«A ideia de multiversos está longe de ser explicação para alguma coisa, primeiro porque assim como deus, ela tbm não pode ser avaliada.» Pelo seu raciocínio, deus também não é explicação para coisa alguma. Sugiro que desinfecte a ferida porque se não o pé tem que ser amputado.

Uma mente divina nao pode ser avaliada, ainda, não sabemos se no futuro isso poderá ser possível.

Tanto uma mente divina como multiversos são uma tentativa de explicação, a diferença é que uma mente divina explicaria o problema de vez, já os multiversos seria semelhante a panspermia, apenas jogaria o problema para cima, pois teríamos que explicar a origem e o porque de todos os multiversos existirem. Hoje, já sabemos que universos podem ser criados em laboratórios, isso abre margem para a hipótese do nosso universo ter sido realmente fruto de um projeto.

Dê uma olhada nesse artigo e veja que mesmo a ideia de multiversos não exclui um criador e dependendo do ponto de vista é até algo favorável.

http://social.stoa.usp.br/osame/artigos/cas-osame-kinouchi-6.pdf?view=true

«…apenas jogaria o problema para cima, pois teríamos que explicar a origem e o porque de todos os multiversos existirem.» Já lhe expliquei como podem surgir vários universos (um multiverso) e porque é que um deus omnipotente não pode ser aceite como explicação.

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