Há umas semanas atrás, coincidentemente ou “Jesuscidentemente”, kkkk, como bom calvinista eu não acredito em coincidências, muitas pessoas me procuraram fazendo a mesma pergunta – “Tourinho, não sinto mais Deus, o que fazer?”, sempre relatando aquela sensação de abandono, como se Deus tivesse se voltado contra elas, ou sumido sem nenhuma razão aparente. Eu já tinha falado sobre isso em um vídeo, (nesse vídeo eu ainda não tinha tido essas conversas, então não foi fruto dessa experiência contada agora) mas resolvi, no decorrer das conversas que tive com cada uma delas, observar o que havia de comum em todas, ou na maioria, para poder rastrear o possível problema, o resultado dessa pesquisa será apresentado aqui logo adiante:
1 – A idade pode influenciar, mas não é uma regra, embora a maioria tivesse entre 15 e 18 anos, dentre os 12 que falaram comigo, apenas um estava na casa dos 30, outro tinha 25 e o restante abaixo disso.
2 – As histórias são muito parecidas com pequenas variações por conta da individuação.
3 – Essas crises são muito mais frequentes em certos grupos evangélicos, normalmente aqueles que valorizam por demais as sensações e sentimentalismos, por exemplo os pentecostais. É ensinado nessas denominações que nós necessitamos “sentir” Deus o tempo todo. A presença de Deus, sua aprovação e legitimação, se confirmam pelo que sentem, não pela obediência através das manifestações dos frutos do Espírito. Ora, a Fé está para muito além dos meros e insuficientes 05 sentidos, por isso, ela permanece quando estes faltarem ou forem vagos e imprecisos. Não se guiem por vistas, guiem-se pela fé, que é a prova das coisas que não se vêem (Hb 11).
4 – É notória a incapacidade de lidar com a disciplina da santidade. Isso se dá porque confundem santidade com infalibilidade, acham que para serem puros, aceitos por Deus ou para que sejam dignos da presença Dele, necessitam tornarem-se impecáveis. Essa dinâmica da infalibilidade confundida com santidade faz com que os mais sinceros vivam em desespero, numa espécie de inferno em vida, e os mais cínicos se tornem hipócritas fingindo um padrão de retidão que jamais alcançaram ou alcançarão. Parece existir dois grupos dentro da igreja, o daqueles que assumem as suas fraquezas e não negam que pecam e que são fracos, e os que fazem um marketing pessoal passando a imagem do santarrão, do ungido, do homem que tem ligação direta com Deus, fazendo todos quererem ser iguais a ele, ao mesmo tempo em que ele passa a ser o guru da igreja, ele se torna o hipócrita, pois não existem santarrões, não existem ungidões impecáveis, existem apenas pessoas, todas pecadores, assim, a igreja premia o hipócrita, dando a ele cargos e oportunidades de pregação, enquanto pune o sincero, por achar ele comum demais, isso faz a igreja se tornar um teatro, o que pode ser a ruína, a pá de cal na fé do sincero.
5 – Em todos os casos, o que de fato se destaca é uma ausência da compreensão profunda da Graça de Deus em Jesus. São praticantes de uma tendência pagã de querer “aplacar a ira de deus” com sacrifícios, auto-flagelos e intermináveis anulações pessoais. Estão sempre a lutar contra um Deus irado, um Deus que dá e tira. Notei que a maioria vive em uma paranoia, pois no medo de perder sua salvação, colocam sobre si um fardo e constroem a própria prisão da religiosidade, do legalismo, e da meritocracia, achando que por fazerem mais que outros, são mais dignos e merecedores da salvação do que aqueles que fazem menos, ou acham que por fazerem menos, se tornam menos dignos daqueles que fazem mais, isso com o tempo, vai minar a fé e fazer a pessoa perder a alegria da salvação pois guiará ela – ou ao caminho para fora da igreja, ou a guiará para o caminho da hipocrisia dentro da igreja, que em termos práticos, não é muito diferente de ser um ímpio. Esses transformam o novo testamento em um livro de leis e vivem como um fariseu, no mundo do pode e não pode baseado na letra da lei, não no amor de Deus que nos libertou do jugo da letra, para nos colocar no Espirito da lei. Digo a esses: Não há perda da salvação! As coisas de Deus são eternas, e nada pode nos separar do seu amor. Não há nada que você faça que vai fazer Deus te amar mais ou menos, pois seu amor é incondicional! Você não pode impressionar a Deus, porque o que é bom em você, veio Dele mesmo, tentar impressionar a Deus com boas atitudes, seria como alguém tentar impressionar você gastando do dinheiro que você mesmo deu a ele, é cômico. Ele mesmo vai nos guardar (Jd 24) e nos preservar para que tenhamos forças para perseverar até o fim, confie mais em Deus e menos em você, é uma boa dica.
No final das contas, as orientações dadas a cada um foram variadas, mas em geral, minha orientação foi voltada para a Verdade em Amor – só o conhecimento da Verdade liberta! Digo com todo cuidado para a pessoa em questão que ela precisa com urgência conhecer a Jesus – sei que é complicado dizer isso para alguém que pensa que o conhecimento do Mestre se dá por osmose através da denominação, sim amigos, é uma verdade lamentável, muitos crentes não conhecem a Cristo, conhecem-no de ouvir falar, mas não conhece de andar com Ele, não entenderam ainda o que é a graça de Deus, e saem da prisão do mundo, para a prisão da religião. Quanto a isso, somente uma epifania para ensinar, a caminhada com Cristo é um caminhada solitária, cada um deve encontrar seu caminho, e entender o caminho da graça que liberta.
Por Francisco Tourinho
P.S.: Quero agradecer ao meu amigo Carlos Alberto Fagundes Barbosa, com suas dicas e que me ajudou a escrever esse artigo.
Uma resposta em “Não sinto Deus, o que fazer?”
Muito bom esse artigo, nos ensina e estimula a andar com Cristo, conhecendo-o e aprendendo dEle, vivendo o convite que Ele nos faz de ” vinde a mim, e eu vos aliviarei”.