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História da Hermenêutica Bíblica: um breve resumo baseado na obra de Louis Berkhof


Esse resumo é baseado no livro Princípios da Hermenêutica Bíblica, de Loius Berkhof, onde tentei sintetizar ao máximo de forma que o leitor tenha um acesso rápido a todos os modos de interpretação das Escrituras na história, desde os judeus, patrística, idade média, reformadores etc.
História dos Princípios Hermenêuticos Entre os Judeus. Para Louis Berkhof, devemos fazer uma distinção entre a história da hermenêutica como uma ciência e a história dos princípios hermenêuticos. A primeira teria começado em 1567, quando Flacius Illyricus fez a primeira tentativa de um tratamento científico da hermenêutica; a última teve seu início no começo da era cristã.
 – Princípios de interpretação entre os Judeus:
            Primeiro devemos distinguir as diferentes classes de judeus:
1 – Os Judeus palestinos: Consideravam a bíblia como palavra infalível de Deus, até mesmo as letras eram sagradas, e seus copistas costumavam contar as letras com receio de que algumas delas se perdessem. Davam um valor muito grande a Lei e um valor menor aos profetas e escritos sagrados, logo, a interpretação da Lei era o grande objetivo deles. Uma grande fraqueza dos escribas estava em exaltar a Lei Oral como suporte necessário a Lei Escrita, o que no final foi usada como meio para pôr a Lei Escrita de lado, isso deu origem a todos os tipos de interpretação arbitrária. Jesus fala sobre isso em Marcos 7.13.
2 – Judeus Alexandrinos: Adotavam o princípio fundamental de Platão de que não se deveria acreditar em nada que fosse indigno de Deus. Assim, usavam interpretações alegóricas todas às vezes que encontravam algo no Antigo Testamento que não estavam de acordo com seu senso de adequação. Filo foi o grande mestre desse método de interpretação. Assim, os judeus alexandrinos, apesar de não rejeitarem o sentido literal, consideravam como uma concessão aos fracos. O método alexandrino não é bem visto por Louis Berkhof.
3 – Os Caraítas: Chamados de protestantes do judaísmo, surgiram por volta do ano 800 d.C. Representam um protesto contra o rabinismo que foi parcialmente influenciado pelo maometismo. Também chamados de “Filhos da leitura”. Eram assim chamados porque seu princípio fundamental era considerar a Escritura como uma autoridade única em matéria de fé. Isso significava uma desconsideração da tradição oral e da interpretação rabínica e um novo estudo cuidadoso das Escrituras. A fim de refutá-los, os rabinos empreenderam um estudo semelhante e o resultado desse conflito foi o texto Massorético.
4 – Os Cabalistas: Surgiram no século 12, e era bem diferente. Representa um reductio ad absurdum do método palestino, embora também usassem o método alexandrino. Acreditavam que cada letra, versos, sinais tinham sido dados a Moisés no Monte Sinai.
5 – Judeus Espanhois: Do século 12 ao 15 foi desenvolvido um método de interpretação entre os judeus da Espanha, segundo o autor, esse método era o mais sadio de todos. Eles trouxeram de volta o estudo do hebraico, quase perdido.
            O terceiro capítulo trata da História dos Princípios Hermenêuticos na Igreja Cristã.
A.      O período Patrístico: No período patrístico, o desenvolvimento dos princípios hermenêuticos está associado a três diferentes centros da vida da igreja.
1 – A escola de Alexandria: A cidade de Alexandria foi um importante local de aprendizado, onde a religião judaica e filosofia grega se influenciavam mutuamente. A escola catequética dessa cidade caiu no encanto da filosofia popular. O método natural que ela encontrou para harmonizar a religião e filosofia foi a interpretação alegórica, isso porque os filósofos pagãos (estóicos) já haviam, por um longo tempo, aplicado o método na interpretação de Homero e, assim mostrado caminho; e Filo, empresou ao método o peso da sua autoridade. Os principais representantes dessa escola foram Clemente de Alexandria e Orígenes. Ambos acreditavam que a Bíblia era a palavra inspirada por Deus, e, embora reconhecessem o sentido literal da Bíblia, eram da opinião de que só a interpretação alegórica contribuía para o conhecimento real. Clemente de Alexandria foi o primeiro a aplicar o método alegórico à interpretação do Novo Testamento assim como à do Antigo. Ele propôs o princípio de que toda Escritura deve ser entendida de maneira alegórica. Orígenes, seu discípulo, o superou em erudição e foi o maior teólogo do seu tempo. Para Orígenes o significado do Espírito Santo é sempre simples e claro e digno de Deus. Tudo que parece obscuro e imoral e inconveniente na Bíblia serve simplesmente como incentivo para transcender ou passar além do sentido literal. Para Orígenes as escrituras tinham três sentidos, o literal, o moral e o místico (alegórico).
2 – A Escola de Antioquia: As principais figuras dessa escola foram Doroteu e Lúcio, que foram seus fundadores, no final do século III, mas Farrar considera Diodoro como fundador dessa escola. As figuras mais ilustres são Teodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo. João Crisóstomo era o “boca de ouro” por sua eloquência e Teodoro era conhecido como “o Exegeta”, pelo seu caráter intelectual. O primeiro considerava as escrituras como infalível Palavra de Deus, enquanto Teodoro tinha posições liberais sobre ela. No trabalho de exegese Teodoro superou Crisóstomo, embora tenha negado a inspiração divina de alguns livros, mas sem dúvida ele estava muito a frente do seu tempo, com seu método histórico-gramatical.
3 – O Tipo de Exegese Ocidental: A grande diferença desse tipo de interpretação foi fazer valer da autoridade da tradição e da igreja na interpretação da Bíblia, algo que não tinha sido feito ainda. Esse tipo de exegese foi representado por Hilário e Ambrósio, mas especialmente por Jerônimo e Agostinho. Jerônimo foi o tradutor da vulgata. Agostinho tinha um pobre conhecimento das línguas originais, então não foi um bom exegeta, embora tenha sido um bom hermeneuta, ele defendia que em casos de dúvida, a igreja era a autoridade para decidir. Agostinho adotou um sentido quádruplo da Escritura: histórico, etiológico, analógico e alegórico, e foi nesse aspecto que ele influenciou a interpretação da Idade Média.
B – O Período da Idade Média: Durante a Idade Média, muitos, até mesmo o que clero, vivia em profunda ignorância quanto as Escrituras. E o que conheciam era devido apenas à tradução da Vulgata e aos escritos dos Pais. A Bíblia era considerada como um livro cheio de mistérios, os quais só poderiam ser entendidos de maneira mística. Nesse período, o sentido quádruplo da Bíblia era geralmente aceito, e o princípio de que a interpretação da Bíblia tinha de se adaptar à tradição e à doutrina da Igreja, tornou-se estabelecido. Reproduzir os ensinos dos Pais e descobrir os ensinos da Igreja na Bíblia eram considerados o ápice da sabedoria. Hugo de São Vitor chegou a dizer: “Aprenda primeiro as coisas em que você deve crer e, então, vá à Bíblia para encontra-las lá”. Nenhum princípio hermenêutico foi desenvolvido nessa época, e a exegese estava de mãos e pés atados pela tradição oral e pela autoridade da Igreja. Nesse período surdiu Nicolau de Lyra, que embora aceitasse o sentido quádruplo das escrituras, na prática só aceitava o sentido literal e místico. Ele se lamentou o fato de se permitir que o “sentido místico sufocasse o literal”. Argumentou quanto a necessidade de se referir ao original. Sua obra foi a maior influência de Lutero, e consequentemente da reforma.
B.      O Período da Reforma: Nos séculos XIV e XV, a ignorância densa prevaleceu quanto ao conteúdo da Bíblia. Havia doutores de teologia que nunca tinham lido inteira. A renascença foi de grande importância para o desenvolvimento de uma hermenêutica sadia, pois chamou atenção para a necessidade de se voltar ao original. Os reformadores criam na Bíblia como sendo a Palavra Inspirada por Deus, essa inspiração era orgânica, nunca foi mecânica. A Bíblia era a autoridade final e suprema de apelo em disputas teológicas. Em oposição a infalibilidade da Igreja, colocaram a infalibilidade da Palavra. Sua posição é de que “a Igreja não determina o que as Escrituras ensinam, mas as Escrituras determinam o que a Igreja deve ensinar”. O caráter essencial da exegese reformada era: “Escritura interpreta as escrituras”, e “todo entendimento e exposição da Escritura deve estar em conformidade com a analogia da fé”
1.      Lutero: as regras hermenêuticas de Lutero eram melhores que sua exegese. Ele “Defendeu o direito do julgamento particular, enfatizou a necessidade de se levar em consideração o contexto e as circunstancias históricas, exigia fé e discernimento espiritual do intérprete e desejava encontrar Cristo em todas as partes da Escritura.”
2.      Melanchthon: Braço direito de Lutero, mas foi além dele. Seus princípios eram: “As Escrituras devem ser entendidas gramaticalmente antes de serem entendidas teologicamente, e as Escrituras têm apenas um sentido claro e simples.”
3.      Calvino: Considerado o maior exegeta da reforma. Tinha os mesmos princípios de Lutero e Melanchthon, mas os superou ao conciliar sua prática com a teoria. Não gostava do método alegórico, mas acreditava no significado simbólico de muito do que tinha no Antigo Testamento, discordou de Lutero de que Cristo devia ser encontrado em todas as partes das escrituras. Achava que os profetas deveriam ser interpretados à luz das circunstâncias históricas. Sua contribuição foi a afirmativa “a primeira função de um intérprete é deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a ele o que pensamos que ele deveria dizer.”
C.      O período o Confessionalismo:  É descrito pelo autor, como um “fermento velho”, um legado a igreja católica. Embora mantivessem o princípio de a Escritura interpreta Escritura, correram o perigo de subordinar as escrituras aos Padrões Confessionais da Igreja.

D.      O período Crítico-Histórico: Esse período negou a inspiração verbal da bíblia, a bíblia deveria ser interpretada como qualquer outro livro, o elemento especial e divino da Bíblia foi desacreditado de forma geral e o intérprete, usualmente, se limitava à discussão das questões históricas e críticas. 
REFERÊNCIAS
BERKHOF, Loius. Princípios da Interpretação Bíblica. 2º Edição Revisada. Ed Cultura Cristã. São Paulo. 2004
Por Francisco Tourinho 

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