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COMO HERDAMOS O PECADO DE ADÃO? Como podemos pagar justamente pela atitude de outra pessoa

INTRODUÇÃO

“Porque estamos sofrendo as consequências de um ato cometido por outra pessoa?” Pergunta o cristão procurando entender onde há justiça em sofrer pelos erros de outra pessoa, no caso Adão. O pensamento pressupõe que, dado que nenhum de nós estávamos lá, o que nós temos a ver com isso? Seria justo eu pagar a dívida de outro? Esse é o grande dilema. Seria Deus injusto em fazer todos herdarem a natureza pecaminosa de Adão? Tentaremos responder essa questão de forma a satisfazer a nossa fé e a nossa mente.
                  
UM POR TODOS – COMO PODEMOS PAGAR JUSTAMENTE PELA A ATITUDE DE UM OUTRO QUE NÃO É NÓS
A raiz da resposta a esse questionamento está nas palavras do irmão Paulo quando diz:

“Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.
E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
2 Coríntios 5:14,15
O irmão Paulo usa o seguinte argumento: “se um morreu por todos, logo todos morreram”, para ficar mais claro, podemos recorrer a uma história contada nas Escrituras, o combate entre o irmão Davi e Golias.

“E parou, e clamou às companhias de Israel, e disse-lhes: Para que saireis a ordenar a batalha? Não sou eu filisteu e vós servos de Saul? Escolhei dentre vós um homem que desça a mim.
Se ele puder pelejar comigo, e me ferir, a vós seremos por servos; porém, se eu o vencer, e o ferir, então a nós sereis por servos, e nos servireis.
Disse mais o filisteu: Hoje desafio as companhias de Israel, dizendo: Dai-me um homem, para que ambos pelejemos.”
1 Samuel 17:8-10
Era comum, antigamente, quando um exército ia pelejar contra outro, ao invés de promover uma carnificina através da uma guerra de vários dias, meses ou anos, cada exército escolher seu melhor guerreiro e esse guerreiro representar o seu povo. O exército que tivesse o seu guerreiro derrotado, se tornava escravo do outro, pois quando um homem luta por todos, todos lutam e quando o que luta por todos é derrotado, todos são derrotados, essa é a lógica. Por isso, quando Cristo morreu por mim, eu também morri e nova criatura eu sou, como está escrito:

“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.
Porque aquele que está morto está justificado do pecado.
Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos;”
Romanos 6:6-8
Dessa forma, igualmente a Cristo, Adão era o nosso representante, e como ele pecou, todos pecaram com ele, como está escrito:
“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.”
Romanos 5.12
“Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.
Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.”
1 Coríntios 15:21,22

Assim, a morte passou a todos os homens e todos os homens pecaram com Adão, mas uma pergunta pode vir em mente – como isso é possível?
EXPLICAÇÕES FILOSÓFICAS
Quando Adão pecou, houve em Adão uma mudança ontológica, houve nele uma mudança de natureza, no seu ser, por isso mesmo ele morreu espiritualmente. Adão se separou de Deus em sua rebelião, adquirindo uma natureza corrompida ou como chamamos em teologia, totalmente depravada. A prova que damos a isso é que as escrituras dizem que quando há uma conversão nós nos tornamos uma “nova criatura”, como está escrito:

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”
2 Coríntios 5.19

As Escrituras são claras ao dizer que na conversão não há somente uma mudança de atitude, mas uma mudança de natureza e a nossa nova natureza nos leva a ter uma mudança de atitude, como está escrito:

“Em resposta, Jesus declarou: ‘Digo a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo’.”
João 3:3

“Respondeu Jesus: “Digo a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito. O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito. Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo.”
João 3:5-7

Aqui nesse versículo, o Senhor Jesus faz o claro contraste entre o que é “nascido da carne”, isso é, todo homem na condição de filho de Adão, e aquele que é “nascido do Espírito” que são os novos nascidos, que morreram para a velha natureza e nasceram para Deus com uma nova natureza, como mais claramente explicita o irmão João:

“Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.”

João 1:12-13

Vejam que Adão, antes de pecar, tinha uma natureza semelhante a do salvo, mas rebelou-se contra Deus e consequentemente separando-se Dele, tornando-se assim, um homem natural. Jesus quando nos reconcilia com Deus, remove essa separação, nos livrando da natureza de Adão.
Mas isso ainda não nos diz como o pecado é passado de Adão para nós. Poderíamos pensar o seguinte: “foi Adão quem fez, não eu, quando ele morresse, findava-se o ciclo e começava outro”. Além da explicação da representatividade, que nos mostra porque há justiça em nascermos depravados, ainda assim temos que explicar como isso é filosoficamente ou teologicamente possível, a resposta para isso é a seguinte: um homem não cria outro, ele gera outro, isso implica dizer que quando nascemos, não podemos ser ontologicamente diferentes daquele que nos gerou, há uma diferença grande entre gerar e criar. Deus nos criou, por isso somos ontologicamente diferentes Dele, embora semelhante, assim como um homem pode criar uma estátua semelhante a si, mas um homem não cria outro, ele gera outro e portanto um igual a ele, como Adão tinha uma natureza pecaminosa, essa natureza passou para todos os outros homens fazendo a cada um de nós, um outro Adão, portanto, estamos presos desde o nascimento em uma natureza herdada.

IMPLICAÇÕES DO ARGUMENTO – PRIMEIRA IMPLICAÇÃO: ADÃO NÃO TEVE FILHOS NO ÉDEN

Essa conclusão óbvia, refuta o argumento de que Adão poderia ter tido outros filhos ainda no Éden, antes de pecar, pois se assim fosse, Adão iria gerar outros homens iguais a ele em estado de amizade com Deus e com uma natureza sem pecado e portanto, esses não poderiam ser contaminados pelo pecado e poderíamos ter uma geração de homens corruptos e outros incorruptos e a justiça se faria pondo Adão para fora do jardim, mas não os outros, dessa forma, a conclusão mais razoável é que Adão e Eva não tiveram filhos antes de serem expulsos do Jardim.


SEGUNDA IMPLICAÇÃO DO ARGUMENTO DA REPRESENTATIVIDADE E DA NOVA NATUREZA – A EXPIAÇÃO LIMITADA

Em 2 Coríntios 5.14 tá escrito:

“Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.”
Esse versículo, juntamente com o próximo, pode trazer uma dificuldade para aqueles que acreditam em uma expiação ilimitada, porque se Cristo morreu por todos, logo todos morreram, e se todos morreram, todos estão salvos. A conclusão inequívoca de uma interpretação de quem defende o posicionamento de que Cristo morreu por todas as pessoas do mundo, é que todas as pessoas do mundo serão salvas, já que Cristo era o representante delas, ou seja, universalismo. Quando Davi venceu Golias, todo o povo no qual ele representava, já saiu de imediato como vencedor e os outros como escravos de Israel, não era preciso aceitar isso, era uma vitória por imputação. Assim, quando Adão foi derrotado pelo pecado, todos nós nos tornamos escravos do pecado, e quando Cristo venceu por nós, nos libertou das garras do pecado.

O versículo aumenta a dificuldade quando se é dito que “se”, Cristo “morreu por todos”, a conclusão é que “todos morreram”. Todos sabemos que morrer com Cristo significa a conversão, como está escrito:
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” Gálatas 2.20

Mas se todos morreram, então todos estão salvos! Mas a questão é – todos serão salvos? Se Cristo morreu por todos, a resposta é sim, é o que o irmão Paulo escreve “que, se um morreu por todos, logo todos morreram.” E isso confirma ainda mais no versículo seguinte, quando se diz que:
 “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”

2 Coríntios 5:14,15.

O irmão Paulo aqui faz uma ligação com a ideia exposta por ele mesmo em Gálatas 2.20: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim;” Percebam a ligação direta entre morrer e viver para Cristo, relacionada diretamente a morte e ressurreição do Salvador. Morrer é a conversão do homem que morre para o mundo e agora vive para Cristo. Paulo quando diz que Cristo vive nela, está diretamente ligado à “ter a mente de Cristo” e metanóia (novo nascimento) ou mudança de mente. 

O texto usado como prova escriturística de uma expiação ilimitada, é justamente uma prova do contrário, pois se Cristo morreu por todos, então todos morreram, e se todos morreram, todos serão salvos. Assim, a interpretação mais razoável, dado que o universalismo é rejeitado na tradição cristã ortodoxa é que Cristo não morreu por todos os homens individualmente, mas por toda espécie de homem, seja ele negro, branco, amarelo etc. O Senhor Jesus morreu pelo seu povo, pela sua Igreja, como está escrito:
“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas; e elas me conhecem; assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.” João 10:14,15

Jesus deu a vida pelas ovelhas, não deu a vida pelos bodes:

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;
E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;
E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.
Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;”

Mateus 25:31-34

Assim, fica concluído que a expiação limitada, é a doutrina verdadeiramente defendida nas escrituras que está de acordo com os credos da Igreja Cristã.
CONCLUSÃO

Concluímos que é razoável quando se tem um representante de outros, que tanto a conquista quanto a perda daquele representante é imputada a todos. Fazemos isso em vários momentos na nossa vida, como exemplo atual, podemos lembrar que quando a seleção brasileira de futebol perde ou ganha, ninguém reluta quando se é dito que o Brasil perdeu ou ganhou o jogo, porque a verdade é que quando eles perdem ou ganham, todos do país perdemos ou ganhamos, pois estão lá como representantes do nosso país. Mesmo que o exemplo anterior posa haver algum defeito (eu não vejo defeito algum, mas posso não ter visto), o exemplo de Davi e Golias é claro e objetivo, pois é fato mostrado nas infalíveis Escrituras, que todos os habitantes de Israel venceram com Davi e participaram da sua conquista, assim como os filisteus foram derrotados juntamente com Golias. Assim, só recebeu a vitória aquele por quem Davi lutou, e aqueles por quem Davi venceu, receberam automaticamente a vitória. Portanto, se Cristo tivesse vencido por todas as pessoas individualmente, automaticamente todos teriam vencido com Ele, mas se nem todos vencem, então a conclusão é que Cristo não morreu por todos, pois se tivesse morrido por todos, todos teriam morrido (sido convertidos).


Por Francisco Tourinho 

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