Ateus não podem sofrer ou se indignar com as injustiças e barbáries do mundo. Pelo menos não se quiserem manter sua coerência.
A razão é muito simples:
Se a origem do ser humano é apenas o impulso cego de um Universo não consciente – sem planejamento, pessoalidade ou transmissão de qualquer ordem moral transcendente – não há realidade objetiva em conceitos como certo x errado ou bem x mal. Tais coisas são apenas construções socioculturais com adaptabilidade para diferentes contextos antropológicos.
Assim, deve-se admitir que tudo o que ocorre no mundo como fruto da ação humana não é passível de julgamento moral, mas está aí apenas como resultado dos movimentos de forças naturais, cegas, antigas e instintivas que agem nos homens.
Aos céticos que insistem em afirmar que é possível haver um “estabelecimento de códigos de conduta” que independe de qualquer divindade, o qual visa a sobrevivência, baseado em convenções e contratos sociais, que foram sendo elaborados ao longo dos milênios, com base na observação da realidade por parte de nossos ancestrais “Pitecos” (lembra do personagem da Turma da Mônica? kkkk… vou chamá-los assim), podemos responder:
Para dar força ao argumento da elaboração espontânea e autônoma de códigos morais complexos, os ateus superestimam ao nível do absurdo as capacidades intelectuais de seres que, segundo a própria teoria da evolução, ainda estariam galgando a escada darwiniana rumo à plena humanidade, ao status de Homo sapiens.
Os Pitecos deveriam observar atentamente a realidade, perceber no cotidiano as leis de causa e efeito na relação deles com o mundo à sua volta e orquestrar as demandas coletivas com os interesses individuais a fim de montar padrões de conduta funcionais, que garantissem convivência razoável e sobrevivência. Mas não para por aí!! Nossos ancestrais deveriam ainda encontrar a melhor forma de convencer os outros a aderirem ao “contrato”, desenvolver e ensinar mínimas noções de tolerância, respeito e sacrifício, transmitir o “legado” de “guardiães do contrato” às gerações posteriores e garantir que o mesmo se convencionasse, ou seja, que se consagrasse com o tempo e uso, adquirindo força e peso de tradição. Ora, cumprir tal empreitada, ou ao menos ter na mente a visualização dela e o intento de realizá-la requer um altíssimo nível de consciência, criatividade, eficiência, influência – em suma: inteligência! Portanto fica esclarecido aqui que estamos tratando de algo complexo. E, sinceramente, difícil supor que tais hominídeos possuíssem essa estrutura mental/moral, já que a própria versão evolucionista da história da vida em nosso planeta afirma que tudo ocorreu – incluindo o desenvolvimento da raça humana – no decorrer de “milhões e milhões de anos.”
Pode ser que alguns tentem refutar o raciocínio anterior afirmando que é perfeitamente possível que as coisas tenham de fato assim ocorrido. Isso porque nossos ancestrais “tiveram tempo” para progredir na elaboração e estabelecimento dos códigos morais, visto que o processo foi longo. No entanto, a questão do tempo e desenvolvimento lento dos hominídeos só confere força ao nosso argumento. Explico:
Num ambiente hostil, com ameaças vindas de forças da natureza e outros seres vivos, como animais e outros hominídeos, tendo o impulso de sobrevivência própria como o instinto mais forte e considerando a morosidade natural de seu desenvolvimento, a mentalidade dos Pitecos conseguiria “fazer todos os upgrades” a tempo de alcançar a complexidade intelectiva necessária para dar conta da incrível façanha que explicamos e garantir maior período de sobrevivência da espécie?
Em outras palavras: os hominídeos conseguiriam evoluir ( mentalmente/intelectualmente) em tempo hábil para:
1 – Desenvolver um aparato intelectual que percebesse a necessidade de regras e códigos de conduta funcionais tendo em vista a sobrevivência;
2 – Elaborar as regras e códigos de conduta;
3 – Garantir que houvesse adesão e permanência dos códigos e assim, sobrevivência da espécie?
Quem crê em coisas com tão pouca plausibilidade, deve ter muita fé! Portanto, fica exposta a fragilidade do argumento da elaboração espontânea e autônoma de códigos morais complexos que visam a sobrevivência, por parte de supostos ancestrais hominídeos, num longo período de tempo.
O fato é que não há conteúdo moral numa cosmovisão puramente evolucionista. O Nada e as forças aleatórias e não planejadas do processo evolutivo não produzem um referencial de moralidade e MUITO MENOS um senso sofisticado de justiça.
Sendo assim, se há regras no mundo, se há bem e mal, tudo isso não passa de, repito, CONSTRUÇÕES SOCIOCULTURAIS. Não sendo portanto, valores e conceitos reais que se fundamentam num Padrão Absoluto pelo qual podemos aferir todas as coisas. Nesse contexto, a moral é sintética, artificial.
Ora, o que estamos fazendo aqui nesse texto? Apenas entrando no pressuposto evolucionista e demonstrando suas conclusões lógicas, levando-o até suas últimas consequências e indicando onde ele desemboca, de verdade.
Diante disso, a grande questão é: há ateus machos o bastante para admitir as implicações reais de seu sistema de pensamento? A saber: Se do Nada viemos e para o Nada iremos e se mal e bem não são concretos nem objetivos, então não há razão para a indignação, revolta ou sofrimento diante do que entendemos como atrocidades ou injustiças. Pois não há como classificar objetivamente um ato como horrendo, atroz ou injusto. Eu o entendo assim apenas porque o vejo com minhas “lentes culturais”. Que faço então com Hitler, Stalin, ISIS e outros monstros e movimentos genocidas? Como os julgo? A resposta fria e seca é: não julga.
Mas podemos ir além: há ateus MACHOS O BASTANTE para assumirem EM SI MESMOS as consequências de sua não-crença e desistirem de qualquer busca por justiça, ordem e sentido? A saber: Se não há o Bem concreto, não há sentido. Se não há sentido, os pensamentos e sentimentos mais lindos que alguém pode ter em relação ao amor pelo cônjuge ou por um filho não passam de mera reação bioquímica num cérebro que não possui nenhuma “mente”. Tudo é apenas carne e sensação, que um dia vai apodrecer. Não há uma alma, um espírito que possui ligação com a Transcendência. Não há vida. Apenas sobrevivência. Sendo assim, porque não assumir a macheza de disparar um tiro na cabeça?
O desejo dos cristãos sinceros e do Espírito Santo de Deus é que nenhum ateu precise ser macho em sua não-crença e coerente com seu pressuposto a ponto de levar isso até as últimas (literalmente) consequências.
Que seja macho apenas para admitir que nós seres humanos pensamos tanto sobre o Bem e Justiça, não porque os “Pitecos”, em seu “brilhantismo das cavernas” perceberam a necessidade de elaboração de códigos de conduta com o objetivo de sobrevivência da espécie.
Nós não apenas pensamos, mas QUEREMOS o Bem e a Justiça, porque, mesmo que não admitamos, queremos a Deus.
“Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti.” Santo Agostinho.
John.
Texto do colaborador John Wesley Pedrinha.
Revisão teológica: Francisco Tourinho