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Justificação pela fé: perspectiva protestante (contra Armstrong)

Neste artigo, viso responder ao senhor Dave Armstrong em seu primeiro artigo contra mim. O artigo pode ser lido no link a seguir:

Em meu primeiro artigo, intencionei demonstrar que a Escritura ensina uma justificação somente pela fé. Essa mesma fé não é dissociada das boas obras, mas estas não são as mesmas coisas, nem têm o mesmo fim.

Em resposta, o senhor Armstrong diz que há uma justificação inicial, sem obras, e outra justificação que é feita através de fé e obras.

O senhor Armstrong começa seu artigo dizendo:

1) Parece-me uma distinção sem diferença. Por que ir ao “problema” de afirmar que “só x justifica” e, ao mesmo tempo, afirmar que “y deve estar sempre com este x que sozinho justifica, para que x não deixe de ser verdadeiramente x”? Eu entendo as distinções sutis, traçadas acima: soteriologia protestante padrão com a qual estou muito familiarizado, mas ainda me parece estar lutando contra os mosquitos. Se y (obras) está sempre — e deveria estar sempre — ali com x (fé), então não há um sentido em que y tem alguma conexão com a justificação, também? E essa relação entre as duas coisas é o que os católicos pensam que Tiago 2 está lidando.

*

Argumentarei que a Bíblia ensina uma conexão orgânica entre fé e obras: não meramente uma “parceria” abstrata onde “nunca os dois se encontrarão” em alguns aspectos. Dois lados de uma moeda também são distinguíveis um do outro, mas ambos precisam estar lá para que a moeda seja o que é, não é? Não dizemos que “apenas metade da moeda comprou o chiclete na máquina”. Dizemos que a moeda (que contém dois lados distintos por natureza) comprou o chiclete. [desculpe pelas duas expressões idiomáticas. Espero que traduzam bem para o português!]”

Defendi em meu primeiro artigo que há uma distinção entre justificação e santificação, a primeira se dá pela imputação dos méritos de Cristo somente pela fé, a segunda dar-se-ia pela prática das boas obras através da graça, porém, uma distinção não é uma separação, mas também não é uma aglutinação; é possível haver uma via média. Cito um exemplo na ordem da fé: a Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são o mesmo Deus, porém não posso dizer que o Pai é o Filho, nem que o Espírito Santo é o Pai, nem posso dizer que o Pai encarnou somente porque o Senhor Jesus afirma que “Quem me vê a mim, vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” Jo 14.9, se o senhor Armstrong estiver correto em seu exemplo, pelo simples fato não conseguirmos dissociar o Deus Filho do Deus Pai, os dois deveriam ser confundidos, o que impugna ao Credo Niceno endossado por nós dois. Nem mesmo os ofícios são os mesmos, embora sejam inseparáveis.

O senhor Armstrong também não lidou com os meus exemplos na ordem da razão: Luz e calor no sol estão tão relacionados a ponto de serem inseparáveis, no entanto, só a luz ilumina e só o calor aquece.Com efeito, se a claridade do sol não pode ser separada de seu calor, porventura com isso diremos que a terra é aquecida por sua luz, mas que é iluminada por seu calor?” (Institutas 3.11.6) Novamente: tal qual o pulmão que sozinho é responsável pela força da respiração, mas jamais funcionaria desligado dos outros órgãos como o fígado e coração.

Para obter sucesso, o senhor Armstrong deveria citá-los diretamente e refutá-los, mas, invés disso, citou um exemplo externo que prova o seu ponto de vista, mas que não representa a tese que estou defendendo.

O exemplo da moeda apenas prova que existem distinções que são apenas o mesmo objeto visto por ângulos diferentes (como é o caso da distinção bíblica entre alma e espírito), mas a justificação pela fé e pelas boas obras não são o mesmo objeto visto por ângulos diferentes: são dois objetos diferentes que estão intimamente associados.

Dito isto, solicito, por gentileza, que o senhor Armstrong traga a definição mais exata possível do que é justificação e santificação segundo seu ponto de vista.

Mesmo o senhor Armstrong admite haver uma justificação inicial que não depende de boas obras, e que somente em um segundo estágio essas obras contribuiriam para a justificação, como podem ser a mesmas coisas? Exceto se pensarmos somente no que o senhor Armstrong chama de segundo estágio da justificação, a saber, o seu processo.

Assim, para ficar mais clara ainda a distinção entre justificação e santificação de acordo como a perspectiva protestante, explico:

Justificação: é distinta em duas: justificação diante de Deus e justificação diante dos homens.

Justificado diante de Deus, segundo João Calvino: aquele que, ao juízo de Deus, não só é considerado justo, mas que também foi aceito em razão de sua justiça, porque, como a iniqüidade é abominável à vista de Deus, assim o pecador não pode achar graça a seus olhos, na qualidade de pecador e por quanto tempo for tido como tal. Conseqüentemente, onde quer que haja pecado, aí também se manifesta a ira e vingança de Deus. Portanto, justificado é aquele que não é tido na conta de pecador, mas de justo, e por esse titulo se posta firme diante do tribunal de Deus, onde todos os pecadores se prostram abatidos. Da mesma forma, se um inocente acusado for levado perante o tribunal de um juiz imparcial, depois de ser julgado segundo sua inocência, se diz que foi justificado diante do juiz; assim é justificado diante de Deus aquele que, excluído do número dos pecadores, tem a Deus por testemunha e arauto de sua justiça. (Institutas 3.11.2)

Justificado pelas obras aquele em cuja vida se haverá de achar essa pureza e santidade que mereça o testemunho de justiça ante o trono de Deus, ou aquele que, em razão da integridade de suas obras, possa responder e satisfazer-lhe ao juízo. Em contraposição, será justificado pela fé aquele que, excluído da justiça das obras, apreende pela fé a justiça de Cristo, revestido da qual aparece perante Deus não como pecador, mas, pelo contrário, como justo. Portanto, interpretamos a justificação simplesmente como a aceitação mercê da qual, recebidos à sua graça, Deus nos tem por justos. E dizemos que ela consiste na remissão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo.(Institutas 3.11.2)

2) Minha segunda reação inicial geral a uma apresentação como acima é dizer que não há diferença prática alguma, ou diferença na vida cotidiana dos cristãos, entre o que Francisco escreveu acima e como um católico praticante vive sua vida. Costumo fazer essa observação. Católicos e protestantes estão de acordo absoluto em dois pontos:

*

A) A graça é a causa capacitadora última da fé, justificação e salvação (sola gratia);

*

e

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B) As boas obras são absolutamente necessárias e não facultativas na vida cristã como prova ou fruto inevitável da autenticidade de uma fé genuína.

Sendo este o caso, eu afirmo que há um forte sentido em que parece fútil e desnecessário até mesmo contestar os pontos delicados de se justificação e santificação estão juntas (catolicismo) ou categorias separadas, com apenas justificação diretamente ligada à salvação (protestantismo). Por que se importar? A resposta e o resultado são os mesmos: o cristão fiel que creu e se apropriou da graça e justificação de Deus passa a fazer boas obras: as quais, se ausentes, colocam em séria dúvida sua posição em relação a Deus e a fé.

Concordo com o senhor Armstrong que católicos e protestantes, sobretudo os reformados, que estou defendendo, concordam com as sentenças A e B. Porém, concordar com uma sentença nem sempre é concordar com seu conteúdo. Na sentença A, se o termo justificação não tem o mesmo significado para católicos e protestantes, então não estamos realmente de acordo, embora pareça em uma primeira análise.

Meu segundo parecer é que há uma diferença na vida cotidiana das pessoas que realmente entendem o que está envolvido. Não pretendo ser exaustivo na exposição de motivos nesse exato momento, mas farei-o mais adiante. Se a justificação é uma declaração forense em que os méritos de Cristo são todos imputados sobre mim através da fé, então posso ter paz com Deus, como diz São Paulo em Rm 5.1: “justificados mediante a fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Cristo Jesus”. Se Cristo cumpriu a Lei e também teve uma obediência perfeita, então seus méritos são perfeitos quando imputados sobre mim e eu posso, portanto, ter paz com Deus – o justo pelo injusto. Essa paz não será obtida se a justificação for um processo de toda a vida, não sem muita dificuldade. Quando serei justo diante de Deus se a minha justificação também depende de minhas boas obras? Quantas boas obras terei que fazer para ser considerado justo diante de Deus? São Tiago dirá que “Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos. Porque quem quebra um só mandamento da lei é culpado de quebrar todos.” Tg 2.10. Quando serei justo se um pequeno pecado já me torna culpado de todos? Quantas virtudes tenho que desenvolver? A verdade é que, se assim for, somente aqueles que alcançam uma absoluta perfeição poderão ter paz com Deus; logo, ninguém tem paz com Deus. Quem poderá dizer: “sou perfeito diante de Deus”?

Na justificação inicial, como a chamamos, isso é verdade. Este é um terreno mais comum. Ela não pode ser provocada por nenhum trabalho, porque é originada pela graça e originada por Deus (monergístico neste estágio: para usar um termo reformado favorito). Mas esta é apenas a primeira etapa.

Sinceramente, gostaria que esta distinção ficasse mais clara e mais precisa: em que consiste a justificação inicial? Qual é a segunda etapa? São duas justificações ou são pontos de vista diferentes da mesma justificação?

No segmento seguinte começamos o debate bíblico sobre o tema da Justificação. Defendi nossa confissão com base no texto de Rm 3.28 “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”.

O Senhor Armstrong responde:

A chave que desvenda o significado dessas duas passagens é a palavra “lei”. Paulo está colocando em oposição ou antítese a fé e a lei mosaica, não a fé e as obras. Os protestantes costumam usar essas passagens (e outras que mencionam “obras da lei”: Rm 3:20; Gl 3:2, 5, 10) para afirmar que as obras são antitéticas à fé e à graça. Mas “obras da lei” tem um significado particular além de simplesmente “boas obras” ou “todas as obras”. Esse entendimento foi afirmado por um movimento protestante de estudos paulinos chamado de “HYPERLINK “https://en.wikipedia.org/wiki/New_Perspective_on_Paul”Nova Perspectiva sobre Paulo”. O bispo anglicano e professor de teologia NT Wright (nascido em 1948) é o mais conhecido proponente dela. O artigo da Wikipedia explica: As cartas de Paulo contêm uma quantidade substancial de críticas em relação às “obras da Lei”. A diferença radical nessas duas interpretações do que Paulo quis dizer com “obras da Lei” é a característica distintiva mais consistente entre as duas perspectivas. As perspectivas protestantes históricas interpretam esta frase como se referindo ao esforço humano para fazer boas obras a fim de atender aos padrões de Deus (Justiça das Obras). Nessa visão, Paulo está argumentando contra a ideia de que os humanos podem merecer a salvação de Deus apenas por suas boas obras (observe que a “nova” perspectiva concorda que não podemos merecer a salvação; a questão é exatamente o que Paulo está abordando).

Em contraste, os estudiosos da nova perspectiva veem Paulo falando sobre “distintivos de membro da aliança” ou criticando os crentes gentios que começaram a confiar na Torá para reconhecer o parentesco judaico. Argumenta-se que no tempo de Paulo, os israelitas estavam sendo confrontados com a escolha de continuar a seguir seus costumes ancestrais, a Torá, ou seguir a tendência do Império Romano de adotar costumes gregos (Helenização, veja também Antinomianismo , Judaísmo Helenístico e Controvérsia da circuncisão no cristianismo primitivo). A visão de nova perspectiva é que os escritos de Paulo discutem os méritos comparativos de seguir os antigos costumes israelitas ou gregos antigos . Paulo é interpretado como crítico de uma visão judaica comum de que seguir os costumes tradicionais israelitas torna a pessoa melhor diante de Deus, apontando que Abraão era justo antes da Torá ser dada. Paulo identifica os costumes que o preocupam como circuncisão, leis dietéticas e observância de dias especiais.

Devido à sua interpretação da frase “obras da lei”, os teólogos das perspectivas protestantes históricas veem a retórica de Paulo como sendo contra o esforço humano para ganhar a justiça. Isso é frequentemente citado por teólogos protestantes e reformados como uma característica central da religião cristã, e os conceitos de graça e são de grande importância dentro dos credos dessas denominações.

As interpretações de “nova perspectiva” de Paulo tendem a resultar em Paulo não tendo nada negativo a dizer sobre a ideia de esforço humano ou boas obras, e dizendo muitas coisas positivas sobre ambos. Estudiosos da nova perspectiva apontam para as muitas declarações nos escritos de Paulo que especificam os critérios do julgamento final como sendo as obras do indivíduo.

O uso dessas passagens para sugerir que o apóstolo Paulo era contra todas as obras humanas, seja qual for, é equivocado. Muitas outras passagens (algumas das quais citarei no devido tempo) provam que ele não era contra obras, e de fato os ordenou e os anexou à santificação, justificação e salvação.

Francisco afirmou: “Nenhuma antítese seria criada entre fé e obras se as duas contribuíssem para a justificação”. Mas “obras da lei” tem um significado diferente de apenas “obras” ou “boas obras”. Portanto, a antítese de Romanos 3:28 e Gálatas 2:16 é diferente do que Francisco pensa que é e, portanto, não apoia em nada o ponto de vista ( soteriologia sola fide protestante clássica ) que ele deseja estabelecer.

A objeção feita pelo senhor Armstrong não logra êxito devido às falhas claras da Nova Perspectiva em Paulo (NPP). Só para efeito de curiosidade, Cornélio Lapide, na época da Reforma, também propôs a mesma distinção entre obras da lei e obras que não eram da lei, já sendo respondido em sua época. O parecer do senhor Armstrong parece deixar claro que a justificação também é pelas obras, obras essas que não sejam obras da lei como Leis Dietéticas, Circuncisão e Observância de Dias Especiais.

Discordo da interpretação do Rev Wright por vários motivos:

1 – O texto não trata somente de judeus, mas de toda a humanidade pois diz que “Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.” Romanos 3:9,10 Novamente: Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.
Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.
É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente,
Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão. Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei. Romanos 3:26-31

O texto não trata somente de judeus, mas de todos os homens. Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Por que todos pecaram? Porque todos quebraram a lei, porque onde não há Lei também não pode haver transgressão (Rm 4.15), e se não há lei, hoje, então também não há pecado. Onde há pecado, há lei. Se existe pecado hoje, é porque também existe lei. A lei continua viva julgando todo aquele que não crê em Cristo. A lei abarca toda boa obra, não somente o cumprimento de leis cerimoniais ou civis (dietéticas, circuncisão e observação de dias especiais), mas principalmente a lei moral contida nos 10 Mandamentos. A lei moral é de cunho natural, não podendo ser abolida. Paulo certamente incluiu a lei moral dentre as obras que não podiam justificar – ou seja, estão inclusas todas as boas obras. A teologia católica romana tende a fazer esta interpretação de que o texto da Carta aos Romanos trata apenas de obras da lei, mas não das “obras da esperança, temor e amor”, as quais a fé gera e produz, e que estão sob a fé como filhas sob uma mãe, razão pela qual gostam tanto de texto de Gl 5.6. Porém, o próprio São Paulo também chama estas obras de obras da lei: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei”. (Romanos 13:8) Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor. Romanos 13:9,10

Acredito que o fulcro da questão não tenha sido apresentado. Por que as objeções da NPP e do senhor Armstrong não logram êxito? A resposta está em um ponto que já enfatizei no artigo anterior: a objetividade e a universalidade da justificação encontrada em Cristo e a justificação pela fé como justificação pelo Cristo-da-fé, que a NPP e os Católicos Romanos parecem desconhecer quase que completamente. O ponto crucial, por seu turno, é que, para os cristãos reformados, a objetividade e a universalidade da extensão da obra de Cristo para a justificação do mundo requer que Ele mesmo esteja presente na fé que recebe a justificação. Assim, a “justificação pela fé somente” não é uma “justificação pela fé” no sentido de que a fé é uma entidade abstrata salvadora. A fé é salvadora, mas somente enquanto mira em Cristo, não por um poder inerente a si mesma. Assim como o Pai pode ser chamado de salvador, mas não no sentido em que Cristo o é. Uma pessoa pode ter uma fé verdadeira em Alá e não ser justificada, porque é o objeto da fé que justifica, ao invés da fé em si. Mas se o objeto de nossa fé é Cristo, e Cristo tem uma justiça perfeita, então ao recebê-lo temos também uma justiça perfeita, sendo, portanto, totalmente justificados. Nenhuma boa obra pode merecer Cristo sobre nós, nem mesmo a fé pode merecer Cristo, pois Deus não nos justifica pelo fato de termos fé, como se a fé fosse a causa formal da justificação, os cristãos não se tornam merecedores da justificação por terem fé, mas somos tidos por justos com base na justiça de Cristo que nos é imputada mediante a fé. A fé é uma causa instrumental somente, não uma causa formal da justificação. A fé é como um pote cheio de ouro, onde o ouro é Cristo, certamente o homem que obtém o pote não se torna rico pelo pote, mas pelo tesouro que ele carrega.

Como ficam os judeus neste caso? O ponto central de que Paulo trata é a descrença dos judeus na justificação por Cristo somente. Eles não criam que Jesus era a Aliança por excelência. Eles não criam que Jesus era o Israel por excelência, eles não queriam ser justificados por Cristo somente. Algo além de Cristo, era necessário, razão pela qual Paulo fala das obras da lei. Não há sequer menção a um debate entre obras da lei e obras que não são da lei, pois o fulcro não era este, senão que Paulo os admoestava que nada mais era preciso para ser justificado além da fé! Paulo quer dizer que Cristo é suficiente. Temos PAZ com Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Rm 5.1). São Paulo afirma que não há justiça própria em sua pessoa e sim a justiça de Cristo que vem pela fé: E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, E seja achado nele, não tendo justiça própria que procede da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; Filipenses 3:8,9

Mas a maior prova de que Paulo está falando de toda a qualquer obra no texto de Rm 3.28 vem da própria interpretação do Senhor Armstrong quando diz:

No catolicismo (e eu digo, na Bíblia, e é precisamente por isso que acreditamos nisso) eles estão organicamente ligados à fé, justificação e salvação; nunca sozinho; sempre com fé.

Tiago 2:24 Você vê que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé.

A frase “somente fé” aparece exatamente uma vez na RSV: neste versículo. A justificação pela “fé somente” é expressamente negada! Esta é uma das três vezes (juntamente com Tiago 2:21 e 2:25 mais abaixo) que a Bíblia também expressa a noção de “justificado pelas obras” (no contexto, junto com a fé). Quatro outras passagens em Tiago diretamente contradizem expressamente “somente a fé”, mas com palavras diferentes:

Tiago 2:14 Que aproveita, meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Sua fé pode salvá-lo?

Tiago 2:17 Assim a fé por si mesma, se não tiver obras, é morta.

Tiago 2:20 Você quer ser mostrado, homem superficial, que a fé sem obras é estéril?

Tiago 2:26 Pois, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem as obras está morta.

Acompanhem o raciocínio: segundo o senhor Armstrong, São Tiago está ensinando que obras justificam desde que não sejam obras da lei, pois o senhor Armstrong nega que as obras da lei possam justificar, já que essa foi a sua defesa para dizer que o texto de Rm 3.28 não ensinava uma justificação somente pela fé e a antítese criada por São Paulo era em relação às obras da lei que não justificavam. O problema é que São Tiago também estava falando de obras da lei, pois diz: Porquanto, quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas uma das suas ordenanças, torna-se culpado de quebrá-la integralmente. (Tg 2.10). Mas isto não acaba aqui. São Paulo, logo após discursar sobre a relação entre justificação pela fé e obras no capítulo 3 de Romanos, continua sua argumentação no capítulo 4, em que cita Abraão (Baseado em Gn 15:6) como alguém justificado sem obras, mas somente pela fé. O senhor Armstrong então observa que essas obras eram obras da lei, não boas obras que não são da lei:

Paulo usa o exemplo de Abraão em Romanos 4, enfatizando a fé, contra as obras judaicas da circuncisão como um suposto meio de fé e justificação (portanto, ele menciona a circuncisão em 4:9-12, e salvação para os gentios, bem como judeus em 4:13-18). Mas esta passagem também remonta à questão das “obras da lei”.

Porém, o senhor Armstrong, quando interpreta o texto de Tiago, que também está interpretando o caso abrâamico, muda o discurso:

Tiago 2:20-26 também se refere a Gênesis 15:6, e dá uma interpretação explícita da passagem do Antigo Testamento, afirmando: “e se cumpriu a Escritura que diz: …”(2:23). Os três versículos anteriores eram todos sobre justificação, fé e obras, todos interligados, e é isso que Tiago diz que “cumpriu” Gênesis 15:6. O versículo seguinte então condena a soteriologia protestante ao discordar da noção de “somente a fé” da maneira mais clara imaginável.

No primeiro momento, ao tratar do texto de Rm 3.38 e de Rm 4.5 que tratam da justificação de Abraão, ele diz: Ou, parafraseando todos os Romanos 4:5: “E a Abraão, antes que ele tivesse feito qualquer obra da Torá, mas ainda acreditasse nAquele que considera os gentios como justos, sua crença foi creditada como um ato de justiça”. (citando Adomnan.)

Ou seja, o texto de Gn 15.6, no parecer do senhor Armstrong, quer dizer que Abraão não foi justificado pelas obras da Torah. Mas, curiosamente, segundo o mesmo senhor Armstrong, São Tiago não viu obras da Torah no texto de Gn 15.6, pois segundo o senhor Armstrong São Tiago fala de obras que não são da lei e que justificam. O senhor Armstrong deverá decidir se o texto referente a justificação de Abraão (Gn 15.6 citados por São Tiago e São Paulo) trata de obras da Torah (que não justificam) ou se não tratam de obras da Torah (que justificam), pois o mesmo se contradiz em sua interpretação.

Concluindo: quando o senhor Armstrong aborda o texto de Abraão na carta aos romanos, diz que Paulo falou que Abraão não foi Justificado pelas obras da lei. Em seguida, ele disse que São Tiago interpretou corretamente este texto. Ora, mas segundo o próprio senhor Armstrong, São Tiago não encara aquelas obras como obras da lei. O senhor Armstrong usa o texto de Abraão citado por São Paulo para dizer que o que estava sendo referido ali são obras da lei, e que Paulo militou contra as obras da Torah e, ao mesmo tempo, usa a interpretação de Tiago que trata do mesmo texto sobre Abraão para dizer que essas boas obras são obras que justificam porque não são obras da lei.


Ora, se as obras da lei não justificam e é a isso que São Paulo se refere ao citar Abraão, então São Tiago não deveria entender que tais obras justificam. Diante da patente contradição, sobra a interpretação protestante, sendo muito mais coerente.

Na interpretação protestante, São Tiago e São Paulo interpretam a justificação de Abraão da mesma forma, mas por ângulos diferentes. São Paulo trata o texto teologicamente enquanto São Tiago trata o texto pastoralmente. São Paulo está explicando o porquê das obras não justificarem diante de Deus. São Tiago está explicando o porquê somente a fé não nos justifica diante dos homens. Prova-se da seguinte maneira:

– São Tiago também está a falar de obras da lei: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.” Tiago 2:10. Esse fato ratifica nosso parecer, pois já estamos em acordo que as obras da lei não justificam (Rm 3.8; 4.5; etc), mas aqui São Tiago diz que elas justificam, sim, (Tg 2.21-24); logo, partindo do pressuposto que os dois apóstolos não estão se contradizendo, e que nem a Escritura pode se contradizer por ser a Palavra de Deus, as justificações devem ter sentidos diferentes, sendo, portanto, analisadas por ângulos diferentes. São Paulo está tratando de temas teológicos: pecado original, direito natural, eleição e reprovação, etc. São Tiago, tratando da vida em comunidade.

No primeiro versículo do cap 2 São Tiago diz: Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas Tiago 2:1. Ele começa dizendo que nossa fé não deve se manifestar em acepção de pessoas para depois descrever o que não se deve fazer e conclui: Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? Tiago 2:7. O texto ecoa outros textos da Escritura que tratam de como o cristão é observado pelos homens ímpios:
Todos os servos que são escravos devem considerar seus senhores dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e o nosso ensino não sejam blasfemados.
1 Timóteo 6:1. a serem equilibradas, puras, dedicadas a seus lares, a cultivarem um bom coração, submissas a seus maridos, a fim de que a Palavra de Deus não seja difamada Tito 2:5,8. Digno de especial atenção é o fato do próprio São Paulo na carta aos Romanos, antes de falar que as obras da lei não justificam, diz exatamente o mesmo aos cristãos Romanos: Tu, que te orgulhas da Lei, desonra a Deus, desobedecendo à própria Lei? Pois, como está escrito: “Por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre todos os povos!” Porquanto, a circuncisão tem valor se obedecerdes à Lei, mas, se tu não observares a Lei, a tua circuncisão já se tornou em incircuncisão. (Rm 2.23-25). Notem que São Paulo ensina o mesmo que São Tiago, dizendo que o nome de Deus é blasfemado porque as pessoas desobedecem à lei, e, em ato contínuo, diz que a circuncisão nada vale sem as boas obras, sendo como a fé, i.e., morta sem a obras. Fazendo um paralelo entre os dois ensinos, vemos que os dois ensinam das mesmas coisas: que há uma justificação somente pela fé (diante de Deus) e há uma justificação pelas obras (diante dos homens, para que o nome de Deus não seja blasfemado).

São Tiago continua: Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Tiago 2:20,21. Ora, a própria Escritura diz que Abraão foi testado nessa ocasião: Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Hebreus 11:17. Digam-me, testado em relação a quem? Deus por um acaso foi em algum momento ignorante em relação aos atos futuros? Por acaso Deus, sendo conhecedor de tudo que vai acontecer e tudo que poderia acontecer, não saberia infalivelmente o que Abraão faria caso recebesse esta ordem? Por um acaso Deus ficou esperando para ver se Abraão passaria no teste? A resposta é não! Todo homem piedoso há de convir que o teste não foi em relação a Deus, mas em relação aos homens. Aos homens que eram ignorantes a respeito da fé de Abraão foi dada a prova de que o mesmo era um homem justo. Assim, São Tiago está falando daquilo que se vê, enquanto a fé é a prova do que não se vê, as obras são a prova da fé, ele acrescenta: E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Tiago 2:23, ou seja, a obra de Abraão era o cumprimento da sua fé, São Tiago diz que Abraão foi chamado amigo de Deus no momento em que creu, ou seja, ele foi tornado justo em relação a Deus, mas em relação aos homens essa fé precisava ser provada. Por isto São Tiago conclui: Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. Tiago 2:26. Por um acaso alguém vê os espíritos? Não vemos os espíritos (Deus vê; homens, não), mas sabemos que alguém está vivo pelo seu corpo através dos seus movimentos, e o mesmo acontece com a fé: só sabemos que ela está ali através das obras de piedade. Nota-se a verdade das afirmações acima quando vemos que São Tiago começa sua abordagem com um evento que é posterior (Gn 22, isto é, o sacrifício de Isaac) ao chamado de Abraão (Gn 15.6). Em Gn 15.6 é mostrado que Abraão foi justificado independentemente de qualquer obra, mas em Gn 22 é mostrado aos homens por meio de uma antropopatia “Agora sei que temes a Deus” (Gn 22.12), pois sabemos que Deus nunca foi ignorante dos eventos futuros. É falsa a ideia de que Deus não sabia e passou a saber, mas sua manifestação antropopática mostra que o fulcro era a prova de que Abraão tinha uma fé verdadeira.

São Paulo destaca que se “Abraão foi justificado por obras, então ele tem de que se gloriar; porém, não diante de Deus” (Rm 4.2), ou seja, ele não tinha motivo para gloriar-se (kauchema) (o que deve ser extraído do versículo precedente). O argumento procede da destruição do consequente para a destruição do antecedente. Se Abraão foi justificado por obras, então tem de que se gloriar em si mesmo, como se tivesse contribuído com algo propriamente seu, pelo qual se devia uma recompensa no tribunal de Deus. No entanto, ele não tem, em si, de que se gloriar na presença de Deus. Portanto, ele não foi justificado por obras diante de Deus, embora possa ter sido justificado diante dos homens, como afirma São Tiago.

Mas continuo com mais provas: a palavra grega “dikaioo” pode significar “atribuir justiça” como em Romanos 4.5, ou “mostrar-se justo” como em Lucas 7.35. Em Lc 7.35 o Senhor Jesus diz que a “Sabedoria é JUSTIFICADA (dikaioo) por seus filhos”, em uma passagem paralela o Senhor Jesus diz: Entretanto a sabedoria é justificada (dikaioo) pelas suas obras. Mateus 11:19. A palavra usada aqui é a mesma usada em Tiago quando diz: Vedes então que o homem é justificado (dikaioo) pelas obras, e não somente pela fé. Tiago 2:24. Ou seja, assim como a sabedoria é demonstrada pelos seus frutos, a alegação de fé de Abraão foi justificada (demonstrada) pela sua obediência. São Lucas narra que, depois de ouvir a Cristo, o povo justificou a Deus (Lc 7.29). São Lucas nunca quis dizer que as pessoas imputaram ou infundiram justiça em Deus, o que seria um absurdo, já que Deus é a própria justiça, mas tributaram a Deus e a sua doutrina o louvor que merecem.

Mais provas: a justificação diante dos homens não era desconhecida por parte dos judeus, nem por parte do Senhor Jesus quando diz: Mas Jesus lhes disse: — Vocês são os que se justificam diante dos homens, mas Deus conhece o coração de vocês; pois aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus. Lucas 16:15 Os fariseus estavam cientes de que uma justificação diante de Deus, que eles acreditavam ser pela aliança herdada de nascimento pela etnia, não era suficiente e, que, portanto, deveriam se justificar diante dos homens. Porém, o Senhor Jesus os repreende ao afirmar que a justificação diante dos homens só é válida se tiver fé, o mesmo ensino de São Tiago. Enquanto São Tiago ensina que a fé somente não justifica diante dos homens, Cristo ensina que as obras sozinhas também não justificam diante dos homens. O conceito de uma dupla justificação: diante de Deus e diante dos homens (Coram hominibus vs Coram Deo) está claramente presente nas Escrituras.

Mais provas, essa em particular definitiva: o autor de Hebreus no capítulo 11, ao falar dos heróis da fé, diz que todas aquelas ações citadas são um testemunho público da fé, não uma ação justificante diante de Deus. Vejam: Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala. Hebreus 11:4 . Novamente: Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus. Hebreus 11:5. Assim, ele também cita o caso de Abraão oferecendo Isaac: Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Hebreus 11:17 , logo após citar vários testemunhos diz: E todos estes, tendo tido testemunho pela fé Hebreus 11:39. “Todos” inclui Abraão, é lógico, alcançaram o testemunho, não a justificação diante de Deus. A justificação diante dos homens é justamente o bom testemunho que damos através da fé. Esse texto prova cabalmente que São Tiago ensina uma justificação diante dos homens.

Depois foi discutido Gl 2.21: “Não frustro a graça de Deus; porque se a justiça vem da lei, então Cristo morreu em vão”. Com esse texto eu almejei provar duas coisas:

1 – Que a justiça vem de Cristo;

2 – Que a justiça não vem das obras da lei.

O senhor Armstrong respondeu que: Ninguém discorda disso. É meramente uma variação da noção de depender das “obras da lei [mosaica]” para justiça ou salvação, que foi discutida acima. Paulo expressou isso mais sucintamente mais tarde na mesma epístola:

Gálatas 5:6: Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão valem, mas a fé que atua pelo amor.

Notem como ele não abordou o meu raciocínio diretamente. Ele apenas disse que Paulo está a tratar das obras da lei mosaica, mas não de outras boas obras, como que dissesse que as outras boas obras podem merecer a Cristo, ou como se tivesse a dizer que a justiça de Cristo é imperfeita ao precisar de um complemento de nossa parte quando é imputada sobre nós. A questão aqui não é se a obra é da lei ou não, mas se a justiça vem somente de Cristo ou se também vem de nós. Afirmo que é somente de Cristo, e como somente a fé recebe Cristo, então é impossível que sejamos justificados pelas obras. Este foi o argumento, e o senhor Armstrong não o abordou.

Repito: se Cristo tem uma justiça perfeita, então ao receber Cristo devo ter também uma justiça perfeita. A negativa desse fato é tornar a justiça de Cristo imperfeita, se eu digo que não sou justificado diante de Deus mesmo após receber a Cristo em meu coração, e que preciso passar por um processo de justificação pelas minhas boas obras, então a justiça de Cristo não é perfeita e precisa ser aperfeiçoada pelas minhas boas obras.

Tampouco o texto de Gl 5.6 provam uma justificação por obras e fé. A fé em Cristo já em seu princípio é justificadora. O crescimento ou formação da fé pelo amor diz respeito à santificação, não à justificação. Quanto a passagem de Gálatas, ela não está tratando de justificação diante de Deus. São Tiago no capítulo 2 e São Paulo na epístola aos Gálatas 5:6 tratam de uma fé como algo que pode ser aperfeiçoado. Isto ecoa o ensino de Jesus que por diversas vezes chamou os seus discípulos de “homens de pouca fé” (Mt 16:8; Lc 12:28; Mt 6:30; Mt 8:26; Mt 14:31). Os discípulos pediram a Jesus que ele lhes aumentasse a fé (“Disseram então os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a fé” Lc17:5). Jesus ensinou acerca da força de uma grande fé (“E disse o Senhor: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria” Lc17:6). São Paulo falou que a fé dos tessalonicenses crescia (“a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros” 2 Ts1:3). Todos esses versículos tem como foco a natureza da fé, não o seu objeto. O objeto da fé é Cristo. A justificação se centraliza na morte substitutiva de Cristo e na sua ressurreição, e isso não pode ser aumentado nem diminuído, pois é uma obra perfeita. A justificação diante de Deus agarra-se a esta obra meritória de Cristo, que jamais mudará, não podendo ser aumentada ou diminuída. É por isso que os reformados, embasados no ensino escriturístico, fazem a distinção entre justificação e santificação. A justificação não se repete, e não depende da qualidade (ou quantidade) da fé. Uma fagulha de fé já justifica. A justificação não acontece porque alguém possui uma fé amorosa ou muita fé, senão porque a obra Cristo foi imputada mediante a instrumentalidade da fé, seja grande ou pequena. Na santificação, por sua vez, a fé é melhor vista na sua qualidade e quantidade, isto é, na fé como fé amorosa e como pouca ou grande. A santificação é um processo e, portanto, cresce e se aperfeiçoa. A justificação é um único ato de imputação. Por isto, quando Paulo fala que a fé opera pelo amor (Gl 5:6) ele está falando propriamente de santificação. O amor e as boas obras seguem a justificação pela fé. O justificado pela fé vai amar a Deus, vai fazer boas obras e vai buscar se santificar ao longo de toda a sua vida restante. Entretanto, essas coisas virão porque ele é justificado e não para que ele seja justificado.

Encerro esta parte com uma citação do Dr Branco:

Olhar o Cristo crucificado e ressuscitado é crer que os méritos Dele são suficientes. Nada mais é preciso fazer. Ele fez tudo por nós. A Aliança é nada mais do que estar em Cristo. Como os judeus fariseus não entenderam isso, viam a Aliança como um contrato no qual a eles era requerido agradar a Deus pela obediência da Lei. No cristianismo, o cumprimento da Lei é agir em conformidade com o Cristo cujos méritos já cumpriram a Lei por nós. Este é o ponto, a doutrina da justificação pela fé revela a necessidade de Cristo somente. Até a santificação é caminhar em Cristo, e um cumprimento da Lei em Cristo, e não uma obediência coercitiva da Lei. (BRANCO, D. Justificação: Núcleo da Fé Cristã. Theóphilus. São Luís-MA. 2021. p 351)

O senhor Armstrong também cita o caso do jovem rico para dizer que Cristo ensinou uma justificação pelas boas obras:

Se quisermos discutir indicações bíblicas a favor ou contra a crença protestante na “fé somente”, tenho várias para apresentar em favor do ponto de vista católico. Deixe o leitor julgar qual posição é mais bíblica e plausível!

Mateus 19:16-22 (RSV) E eis que um se aproximou dele, dizendo: “Mestre, que boa ação devo fazer para ter a vida eterna?”[17] E ele lhe disse: “Por que você me pergunta sobre o que é bom? Existe um que é bom. Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos.”[18] Ele lhe disse: “Qual?” E Jesus disse: “Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, [19] Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo”.[20] Disse-lhe o jovem: Tudo isto tenho observado; o que ainda me falta?”[21] Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.”[22] Ao ouvir isso, o jovem retirou-se triste; pois ele tinha grandes posses.

Esta é provavelmente a refutação sustentada mais convincente e indiscutível de “somente a fé” no Novo Testamento (embora as passagens de Tiago 2 cheguem muito perto), porque o jovem rico faz a Jesus a mesma pergunta que está no coração do católico-protestante. Disputa sobre fé e obras: “que boa ação devo fazer para ter a vida eterna?” Se “somente a fé” fosse uma verdadeira doutrina bíblica, e boas ações não tivessem nada a ver diretamente com a salvação, então esta era a oportunidade de ouro para Jesus esclarecer isso, sabendo que estaria na Bíblia para centenas de milhões lerem e aprenderem. De (e sabendo em Sua onisciência as disputas sustentadas que os cristãos teriam sobre essas questões).


Há muito a ser observado aqui. Primeiro, que Jesus está diante de um homem que acha que pode ser bom o suficiente para ter a vida eterna, ou seja, que as boas obras merecem a vida eterna. Jesus rechaça esse pensamento logo no começo: “Bom só existe um” (Mt 19.17), mas nos textos paralelos de São Lucas e São Marcos, o Senhor Jesus é mais contundente: “Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus.” Marcos 10:18 E em Lucas: “Jesus respondeu: — Por que você me chama de bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus.” Lucas 18:19

Ora, qualquer homem piedoso sabe que o Senhor Jesus não pecou, que cumpriu toda a lei, então como ele mesmo diz que não é bom? A mensagem que Jesus ensina para esse jovem é: você nunca será bom diante de Deus pelas obras, pois o jovem pergunta “o que fazer para herdar a vida eterna?” – em outras palavras, “que boa obra devo fazer?”. Jesus então cita várias boas obras da lei e em seguida cita uma obra de caridade para mostrar para o jovem que ele não era bom como ele achava que era. É como se Jesus dissesse: “eu cumpro toda a lei e não sou bom”, ensinando que esse deveria ser o proceder de todo homem, pois nunca somos bons diante de Deus.

Em seguida, os apóstolos perguntam ao Senhor: “Neste caso, quem pode ser salvo?”

Essa perplexidade é de quem entendeu que é impossível alcançar a salvação pelas obras, mas Jesus olhou para eles e respondeu: “Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis”. Mt 19.25,26. O texto intenta mostrar a incapacidade humana de conseguir a salvação pelas obras, exatamente o contrário do que o senhor Armstrong tenta provar.

O segundo erro do senhor Armstrong é afirmar que os protestantes ensinam que as boas obras nada tem a ver com a salvação quando diz: “que boa ação devo fazer para ter a vida eterna?” Se “somente a fé” fosse uma verdadeira doutrina bíblica, e boas ações não tivessem nada a ver diretamente com a salvação, então esta era a oportunidade de ouro para Jesus esclarecer isso.

Sei que o senhor Armstrong sabe que não defendemos o antinomianismo, razão pela qual a objeção é ineficaz em seu intento. Ora, a justificação é a reconciliação com Deus, a declaração de que somos justos através dos méritos de Cristo. É na justificação que negamos a necessidade de boas obras. A salvação envolve as boas obras, e não só as boas obras, mas também os sacramentos; o que ela não envolve é a justificação. A salvação envolve a eleição, regeneração/chamado, justificação mediante a fé somente, adoção, santificação e glorificação. São várias etapas, mas o senhor Armstrong desconsiderou todas elas. Senhor Armstrong continua:

Mas Ele nunca menciona a crença nele ou a fé (mesmo em um sentido que não seja “sozinho”). Tudo o que Ele faz é falar de obras: perguntar se ele guardou os Dez Mandamentos e depois dizer-lhe para vender tudo o que tinha e dar aos pobres.

Este argumento também não logra êxito. O Senhor Jesus não menciona a fé em momento algum! Mas nós sabemos que a fé é necessária para a salvação, o que prova que Jesus de fato queria mostrar a esse homem a ineficácia das boas obras. Isto se prova pela própria teologia da Igreja de Roma que ensina que as boas obras sem fé não justificam. Ora, para este texto concordar com a tese da Igreja de Roma, o Senhor Jesus deveria falar de fé e obras, não somente das obras, pois a Igreja de Roma igualmente não aceita como sendo suficientes para a salvação à parte da fé. Vemos que o texto prova o contrário do que o senhor Armstrong quis ensinar. Em seguida, ele cita vários versículos:

Romanos 2:6-8: Pois ele retribuirá a cada um segundo as suas obras; [7] aos que, com perseverança em fazer o bem, buscam glória, e honra, e imortalidade, ele dará a vida eterna;[8] mas para aqueles que são facciosos e não obedecem à verdade, mas obedecem à impiedade, haverá ira e furor.(cf. 2:13: “os praticantes da lei que serão justificados”)

Como falei anteriormente, a salvação envolve a eleição, regeneração/chamado, justificação mediante a fé somente, adoção, santificação e a glorificação. Quando São Paulo fala sobre a retribuição segundo obras, está referindo-se ao julgamento final (“galardão”), não à justificação que acontece no dia da conversão no tempo. Quanto a Rm 2.13, a passagem só prova que quando Paulo fala de obras da lei está se referindo a todas as obras, que de outro modo não poderiam justificar, em contraste com a interpretação de Rm 3.28 do senhor Armstrong segundo a qual as obras da lei não justificam. Segundo, o texto implica que um homem seria justificado se pudesse praticar a lei, mas como ninguém pode guardá-la perfeitamente, não é possível uma justificação por esse meio (Tg 1.22-25), pois Deus conhece os segredos de todos os homens (v 16), e São Paulo mesmo afirma que por esse critério: “Não há um justo, nenhum sequer” Rm 3.10.

Adiante o senhor Armstrong cita: Gálatas 6:7-9 Não se deixe enganar; Deus não se deixa escarnecer, pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Pois quem semeia na sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desanimarmos.

Esta passagem nada tem a ver com justificação, mas com santificação. Uma admoestação contra o pecado e pela prática do bem jamais tem a intenção de dizer que a justificação diante de Deus tem por causa as boas obras, sequer que a salvação tem por causa formal as boas obras, pois o próprio São Paulo diz: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie; Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. Efésios 2:8-10

Somos justificados para as boas obras, não por causa delas. Além disto, essa carta é dirigida a crentes, pessoas já justificadas pela fé, que já creem. São Paulo também diz: Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra. Romanos 11:6

Após esse: 1 Timóteo 6:18-19 Eles devem fazer o bem, ser ricos em boas obras, liberais e generosos, estabelecendo assim para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida que é a verdadeira vida.

O mesmo que o anterior, uma admoestação às boas obras refletem tão somente uma perspectiva humana. Somos lembrados de que temos que fazer boas obras para que o propósito da eleição se mantenha firme. Muitos autores cometem o erro de confundir a ordem transcendental com a ordem predicamental na interpretação não só dos textos bíblicos como dos pais da Igreja. Por exemplo: quando o Senhor Jesus diz que “aquele que perseverar até o fim será salvo” devemos supor que Deus já sabe quem perseverará e quem não perseverará. Mas o texto é indeterminado, como se aquele que admoesta não soubesse da informação, e, de fato, os apóstolos não eram oniscientes, assim como os pregadores da Palavra também não são. Então, partindo do pressuposto de que ninguém conhece totalmente o coração de ninguém, deve-se admoestar a todos como se todos pudessem perder a salvação, mas isso não significa que do ponto de vista de Deus seja igual, já que Ele já sabe quem vai ficar firme até o final. Assim, há a perspectiva de Deus, que já sabe quem são os justificados e os que perseverarão até o fim, e há a perspectiva humana, que deve admoestar, cuidar e se utilizar de todos os meios para manter firme todas as pessoas, pois não sabemos quem são os eleitos.

O Senhor Jesus e os apóstolos, ao admoestarem as pessoas, baseiam-se ou na ignorância das pessoas, ou na ignorância do pregador e das pessoas. A mensagem é para os homens, pois não sabemos do nosso futuro.

O senhor Armstrong cita mais versículos:

Hebreus 5:9 e, sendo aperfeiçoado, tornou-se fonte de salvação eterna para todos os que lhe obedecem,

Hebreus 12:14… Esforço … pela santidade sem a qual ninguém verá o Senhor.

Ora, os próprios textos já deixam claro que se trata de santificação, não de justificação. Tampouco o texto citado de: 1 Pedro 4:17 Porque já é tempo de começar o julgamento pela casa de Deus; e se começa conosco, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?, prova qualquer coisa, pois entra na mesma categoria dos textos anteriores. Sem santificação ninguém verá a Deus. Ninguém nega isso. O fulcro da questão não é este, mas se a reconciliação com Deus, que é a justificação, se dá somente pela fé ou pela fé e pelas obras.

Em todas essas seis passagens, somos informados de que “fazer o bem” e “obras” e “fazer o bem” / “boas ações” e “obedecer” e “santidade” são o que “colherá a vida eterna”. ” e “salvação eterna” ou lançar o “fundamento” para o mesmo; não somente a fé. A verdade, o evangelho e Deus, todos têm que ser “obedecidos”: não apenas acreditados.

O senhor Armstrong mais uma vez cai no erro de confundir o processo inteiro de salvação com a justificação, que é somente uma das etapas. Isto já foi tratado anteriormente.

Isso é contrário à doutrina protestante, que sustenta que as obras se enquadram na categoria de santificação, que por sua vez supostamente não tem nada a ver diretamente com justificação ou salvação. No protestantismo, tais “obras” são feitas em agradecimento por uma justificação e salvação já recebidas e asseguradas. No catolicismo (e eu digo, na Bíblia, e é precisamente por isso que acreditamos nisso) eles estão organicamente ligados à fé, justificação e salvação; nunca sozinho; sempre com fé.

Os textos não provam o contrário do que o protestantismo ensina. Pelo contrário, deve-se fazer as devidas distinções. Mostrei diversas vezes que falamos de justificação somente pela fé, mas que a santificação se dá pela fé e obras. Essa santificação é contínua e salvação também. A santificação e a salvação são um processo. Tanto posso dizer que já estou salvo, pois creio que se morro hoje estaria no paraíso com Cristo, estando livre da ira divina, como diz: Quem crê no Filho tem a vida eterna; Jo 3.36, novamente: Em verdade, em verdade vos asseguro: quem ouve a minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Jo 5.24, de novo: Quem nele crê não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no Nome do Filho unigênito de Deus. Jo 3.18

“Está condenado” no presente e também será condenado no futuro. Em outras palavras, está em um estado de condenação presente que se concluirá no futuro. Também posso dizer que serei salvo, pois sei que meu encontro com Deus e a glorificação ocorrerá apenas no futuro. Neste sentido, salvação está relacionada ao julgamento final, ao estado de felicidade eterna em ato: Aquele que crer e for batizado será salvo. Todavia, quem não crer será condenado! Mc 16.16. Compare com Jo 3.18 que diz: já está condenado; ou seja, tanto está como será, presente e futuro. Por isto São Lucas dirá: É na vossa perseverança que confirmais a salvação da vossa alma. Lc 21.19. A salvação é confirmada, ela é um processo que se estende até o último dia: E a perseverança deve ter plena ação, a fim de que sejais aperfeiçoados e completos, sem que vos falte virtude alguma. Tg 1.4 Aperfeiçoar é um processo que equivale à santificação, não à justificação. São Pedro: Já que tendes purificado as vossas almas na obediência à verdade, que leva ao amor fraternal não fingido, de coração amai-vos ardentemente uns aos outros,1 Pedro 1:22 Purificar a alma, o mesmo que aperfeiçoar, santificar. São Paulo: De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. Filipenses 2:12,13 Operar ou desenvolver a salvação; só se desenvolve o que já se tem. Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer. Salmos 51:12 Como o Rei Davi pediria para ter a alegria de uma salvação que ele ainda não tinha?

Concluindo: a salvação e a santificação são um processo. Se é santo atualmente, mas em processo; se é salvo atualmente, mas em processo.

A justificação, porém, é o contrário: se é justificado atualmente, não é um processo. São Paulo diz: “Por este se vos anuncia a remissão dos pecados, e todo aquele que nele crê está justificado de todas essas coisas das quais não pudestes ser justificados na lei de Moisés” At 13.38, 39. Notem que a justificação provém da pura benevolência de Cristo e para recebermos a Cristo precisamos somente da fé. Para o senhor Armstrong provar que está certo, deverá provar pela Escritura que recebemos a Cristo, recebemos a absolvição dos nossos pecados em Cristo através de qualquer obra meritória. Mas continuo: Digo a vocês que este desceu justificado para a sua casa, e não aquele. Porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado. Lucas 18:14 Vemos o publicano descendo já justificado, e o fariseu achando que poderia se justificar pelas próprias obras, sem conseguir. Note como o fariseu cita o decálogo: O fariseu ficou em pé e orava de si para si mesmo, desta forma: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano. Lucas 18:11 À semelhança do jovem rico, ele cumpria a lei, mas não era justificado. Observem também que ele se refere ao decálogo como lei, não somente às leis cerimoniais ou civis. Também: pela obediência de Cristo somos constituídos justos (Rm 5.19). Nossa justificação provém não só da pura benevolência, mas também da obediência de Cristo. Ambas são perfeitas, Cristo cumpriu toda a lei, sua satisfação é perfeita e não temos Cristo pela metade, pelo contrário, o Espírito de Cristo habita em nós, como diz o apóstolo: Porém, se Cristo está em vós, o corpo está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. Rm 8.10. CRISTO ESTÁ EM NÓS! Aleluia!! Não por metade, mas completo, com sua justiça completa. Portanto, estamos justificados. Deus não enxerga mais nossos pecados, mas enxerga a justiça de Cristo sobre nós, o Cristo que habita em nós. São Paulo novamente: Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; Romanos 6:6-8 Quem morre com Cristo, justificado, está de seus pecados.

O senhor Armstrong continua:

Romanos 4:5 E ao que não trabalha, mas confia naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.

Aqui está o que o Comentário de Navarra (Católico) afirma sobre Romanos 4:5 e, por extensão, Gênesis 15:6:

O ato de fé é o primeiro passo para obter a justificação (= salvação)….Este primeiro ato de fé leva a pessoa a reconhecer e arrepender-se de seus pecados; confiar na misericórdia de Deus e amá-lo acima de todas as coisas; e desejar os sacramentos e decidir viver uma vida santa… Deus considera essa fé “como justiça”, isto é, como algo que merece ser recompensado. Não são, portanto, boas obras que levam à justificação; antes, a justificação torna as obras boas e meritórias da vida eterna. A fé nos abre novas perspectivas.

Este comentário é muito oportuno, pois ratifica minha tese em diversos pontos:

1 – O ato de fé é o primeiro passo para obter a justificação (= salvação): segundo o autor, há passos para se obter a salvação, o que ratifica minha defesa quando digo que há etapas da salvação que não devem ser confundidas, embora estejam interligadas. O senhor Armstrong confunde em diversos momentos a justificação com santificação e salvação. Isto não nos afeta, mas gostaria que ele desse uma definição clara, a partir de citações de Teólogos Católicos Romanos de cada um destes pontos.

2 – Este primeiro ato de fé leva a pessoa a reconhecer e arrepender-se de seus pecados;: reconhecer e arrepender-se é um ato de fé, ou seja, já é a fé em exercício. Isto é muito importante, pois não podemos confundir o dom da fé, dado por Deus, portanto sobrenatural, com os atos do intelecto, como crer e reconhecer (que são atos naturais, já que são atos do intelecto). Podemos considerar a fé em si mesma como sendo o dom de Deus, e podemos considerá-la já rodeada de circunstâncias.

3 – Deus considera essa fé “como justiça”, isto é, como algo que merece ser recompensado: pergunto ao senhor Armstrong: o que o autor entende por fé aqui neste contexto? É o próprio ato de crer? É um ato sobrenatural de Deus que o homem recebe passivamente? Gostaria de uma clarificação a respeito disso. Outra pergunta: essa fé é uma virtude em si mesma? São perguntas que merecem respostas.

4 –Não são, portanto, boas obras que levam à justificação; antes, a justificação torna as obras boas e meritórias da vida eterna. A fé nos abre novas perspectivas: isto também ficou dúbio. Segundo o autor as boas obras não levam à justificação, mas segundo o senhor Armstrong as boas obras não só levam, mas justificam! A seguir, o autor diz que a justificação torna boas as obras que, portanto, merecem a vida eterna. Isto parece mais com a perspectiva protestante do que com a perspectiva católica romana: se a justificação torna o que antes era obra má em obra boa, então as boas obras são frutos da justificação, não a própria justificação em si ou a causa da justificação, como defendeu o senhor Armstrong até aqui.

Continua: Paulo usa o exemplo de Abraão em Romanos 4, enfatizando a fé, contra as obras judaicas da circuncisão como um suposto meio de fé e justificação (portanto, ele menciona a circuncisão em 4:9-12, e salvação para os gentios, bem como judeus em 4:13-18). Mas esta passagem também remonta à questão das “obras da lei”. Um comentarista regular no meu blog que atende por “Adomnan” explicou: Quando Paulo diz que Abraão “não trabalha”, ele não está dizendo que Abraão não fez boas obras. De fato, Abraão foi justificado porque respondeu à auto-revelação de Deus em Ur e fez muitas boas obras dignas de serem consideradas justas. Romanos 4:5 está descrevendo apenas um exemplo de uma boa obra (um ato de fé) que foi considerada justa.

Embora o caso de Abraão tenha sido trabalhado anteriormente, farei algumas observações:

1 – Em Gn 15, em momento algum, absolutamente nenhum, é citada qualquer boa obra feita por Abraão. Não há uma só referência a qualquer obra de qualquer tipo. Assim, o exegeta introduz no texto um conceito inexistente ao dizer: Quando Paulo diz que Abraão “não trabalha”, ele não está dizendo que Abraão não fez boas obras. Abraão com certeza fez boas obras, mas acompanhadas da fé, a questão não é essa. A questão é que o autor não consegue provar no texto que esta boa obra de Abraão foi de alguma forma a causa de sua justificação. Isto inexiste no texto, sendo, aliás negado pelo apóstolo Paulo, que diz: Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Romanos 4:2. No entanto, sequer este é o status quaestionis. Porque o texto diz: Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Romanos 4:4. O que o texto está ensinando é que aquele que trabalha é digno do seu salário. Em outras palavras, um trabalho não pode ser alvo da graça como recompensa (porque graça é um favor imerecido), mas é recompensado segundo uma dívida, e, portanto, não mais seria fruto de graça. O autor citado pelo senhor Armstrong sequer abordou o fulcro do texto, desviando-se totalmente de seu sentido, tentando dizer que Abraão fez boas obras e, ainda, que tais obras foram causa de sua justificação. Nada disto está no texto. Continua: De fato, Abraão foi justificado porque respondeu à autorrevelação de Deus em Ur e fez muitas boas obras dignas de serem consideradas justas. Onde estão na Escritura estas boas obras que justificaram Abraão diante de Deus? O próprio São Tiago citará um evento específico em Gn 22, mas já explicamos que este evento não justificou Abraão diante de Deus, mas o justificou diante das criaturas. Foi um teste para saber se sua fé era viva, e, como já argumentamos, Deus não precisava saber de nada que já não soubesse, pois nada ignora. Mas Abraão, seu filho e sua posteridade, quando lessem sobre isto, saberiam que Abraão foi um homem santo. Importante é salientar que Abraão perdeu a fé em Gn 16, e sua mulher chega a rir de Deus em Gn 18, o que nos leva a necessidade de uma prova de fé diante dos homens em Gn 22.

Armstrong Continua:

Romanos 4:5 está descrevendo apenas um exemplo de uma boa obra (um ato de fé) que foi considerada justa. Aqui de fato há um grande problema exegético. O texto de Rm 4.5 diz: Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. Romanos 4:5 Agora pergunto, a fé é uma ação? Seria a fé uma obra? Bem, se a fé é um ato de justiça, então a fé mesma se torna uma obra, contra toda a teologia Bíblica que diz que se é por fé já não é por obras.

Continua: No contexto, “não trabalha” significa “não está fazendo as obras da Lei”: isto é, Abraão ainda não foi circuncidado e ainda é um gentio. Ele não faz obras da Lei Judaica, obras da Torá.

Em grego, a frase “aquele que não trabalha” poderia ser traduzida – desajeitadamente – como “o que não trabalha”, não-trabalhador, não no sentido de não fazer boas obras, mas no sentido de não fazer as obras da Torá. O uso do pronome definido por Paulo sugere que ele tem uma pessoa definida em mente (Abraão)….

Ou, parafraseando todos os Romanos 4:5: “E a Abraão, antes que ele tivesse feito qualquer obra da Torá, mas ainda acreditasse nAquele que considera os gentios como justos, sua crença foi creditada como um ato de justiça”.

Já expliquei no presente trabalho o porquê de Paulo, quando trata de obras da lei, se refere a toda e qualquer obra. Espero que tenhamos por entendido isto, o que já serve como refutação ao último comentário. Paulo usa Abraão como sendo nosso pai na fé, implicando que todos nós seríamos justificados do mesmo modo que ele, à parte das obras da lei. Este é ponto. Mas a questão é que não vemos Paulo em momento algum fazendo tal distinção entre obra da lei e obra que não é da lei. Pelo contrário, ao intimar os judeus sobre a não prática da lei, invés de citar leis cerimoniais, o mesmo cita leis morais, do decálogo, que são para todos os homens, vejam: Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;E sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; E confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas,
Instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
Romanos 2:17-23 Pergunto ao senhor Armstrong: adulterar, furtar, idolatrar são pecados previstos na lei cerimonial, civil ou na lei moral, que é de cunho natural? Ser fiel à sua esposa e aos homens não são obras de amor? Não idolatrar são obras estritas da Torah, ou todo homem está sujeito a este mandamento? Não idolatrar não é uma obra de amor a Deus? Não é a lei que diz: Amarás o SENHOR, teu Deus, com todo o coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. (Dt 6.5) e amarás ao teu próximo como assim mesmo (Levítico 19.18)? Ora, se Paulo cita não idolatrar, não roubar, não idolatrar, o que pressupõe o decálogo em sua inteireza, e depois diz que Abraão não foi justificado pelas obras da lei – ou seja, por nenhuma dessas obras – então ele está falando não somente de obras da lei cerimonial, mas de toda boa obra, inclusive as de cunho natural. A lei régia que é o amor a Deus e ao próximo está prevista no decálogo. Isto prova que as obras de amor também não justificam. Ora, se as obras cerimoniais não justificam, se as obras do decálogo não justificam, se as obras de amor não justificam, peço que me diga, senhor Armstrong, qual obra Paulo deixou de citar para poder ser dito a seu respeito que havia qualquer obra que justificasse? Obra nenhuma justifica! Se o decálogo é obra da lei, e as obras da lei não justificam, então nada sobra que possa justificar, pois o amor, a fé e a esperança estão inclusas no decálogo.

Armstrong continua:

Tiago 2:20-26 também se refere a Gênesis 15:6, e dá uma interpretação explícita da passagem do Antigo Testamento, afirmando: “e se cumpriu a Escritura que diz: …” (2:23). Os três versículos anteriores eram todos sobre justificação, fé e obras, todos interligados, e é isso que Tiago diz que “cumpriu” Gênesis 15:6. O versículo seguinte então condena a soteriologia protestante ao discordar da noção de “somente a fé” da maneira mais clara imaginável.

Discordo completamente. Apesar de já ter sido tratado neste artigo, acrescentarei algo ao tema:

1 – O argumento de São Tiago é do efeito para a causa, ou seja, ele começa por Gn 22, para somente depois voltar para o antecedente que é Gn 15. Ele diz que Gn 22 é o cumprimento de Gn 15, ou seja, que Gn 22 é o efeito de Gn 15, não o contrário, como quer o senhor Armstrong. Para que o senhor Armstrong estar correto, ele teria que provar que as obras feitas por Abraão não eram um efeito da fé de Abraão em Gn 15. Por esta razão, São Tiago diz: “cumpriu-se a Escritura”, assim como no caso de Raabe, que foi justificada quando guardou os espias. Ora, justificada diante de quem? Não foi diante dos espias? Já tinha fé a prostituta Raabe, não tinha? “Pela fé, Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias.” Hebreus 11:31. Raabe já tinha fé, tendo manifestado sua fé diante dos homens. A fé somente justifica diante de Deus; a fé e as obras justificam diante dos homens. Como nós saberíamos da fé de Raabe se ela não tivesse ajudado os espias? E como os espias saberiam que ela tinha fé se não fossem ajudados? O autor aos Hebreus faz questão de ressaltar que todos estes, tendo tido testemunho pela fé Hebreus 11:39, ou seja, as ações dessas pessoas obtiveram o TESTEMUNHO, não a justificação. O testemunho da fé pelas boas obras é citado várias vezes em Hebreus 11: Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala. Hebreus 11:4 . Novamente: Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus. Hebreus 11:5.

Continua:

Tiago 2 é geralmente aplicado pelos protestantes à santificação, mas não é isso que a passagem diz. Menciona “justificado” (dikaioo: palavra de Strong #1344) três vezes (2:21, 24-25): a mesma palavra grega usada em Romanos 4:2, bem como 2:13; 3:20, 24, 28; 5:1, 9;8:30; 1 Coríntios 6:11; Gálatas 2:16-17; 3:11, 24; 5:4; e Tito 3:7. Se Tiago realmente quis dizer santificação, por outro lado, ele poderia ter usado uma das duas palavras gregas (hagiazo/hagiasmos: Strong # 37-38) que aparecem (juntos) 38 vezes no Novo Testamento (a maioria das vezes pelo próprio Paulo ).

O problema aqui está no foco errado. O protestante de fato fala que é santificação, mas não se nega que é uma justificação diante dos homens, ou seja, que uma justificação diante dos homens é da mesma obra que a santificação. Por exemplo, a palavra “dikaioo” citada pelo senhor Armstrong. A palavra é usada justamente no sentido em que os protestantes usam. Vejam: a palavra grega “dikaioo” pode significar “atribuir justiça”, como em Romanos 4.5, ou “mostrar-se justo” como em Lucas 7.35. Em Lc 7.35 o Senhor Jesus diz que a “Sabedoria é JUSTIFICADA (dikaioo) por seus filhos”, em uma passagem paralela o Senhor Jesus diz: Entretanto a sabedoria é justificada (dikaioo) pelas suas obras. Mateus 11:19. A palavra usada aqui é a mesma usada em Tiago quando diz: Vedes então que o homem é justificado (dikaioo) pelas obras, e não somente pela fé. Tiago 2:24. Ou seja, assim como a sabedoria é demonstrada pelos seus frutos, a alegação de fé de Abraão foi justificada (demonstrada) pela sua obediência. Também usado em Lc 16.15: Vocês são os que se justificam (dikaioo) diante dos homens, mas Deus conhece o coração de vocês; pois aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus. Mesmo o texto de Rm 4.2, citado por Armstrong como prova, fala em nosso favor, pois o texto diz: Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Romanos 4:2. O texto não diz que Abraão foi justificado diante de Deus. Se tivesse de se gloriar de algo, que fosse diante dos homens.

Outro texto citado é Romanos 2.13, que diz: Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Romanos 2:13 Mas não foi o próprio Armstrong quem disse que as obras que justificam não são obras da lei? Não foi ele quem disse que São Tiago não está a falar de obras da lei? Então como estes dois termos, de Rm 2.13 e os textos de São Tiago 2.21, podem ser equivalentes se na mente do senhor Armstrong tratam de obras diferentes? Porém, para nós protestantes o texto se encaixa, pois cremos que os dois textos tratam da justificação diante dos homens. Como veem, o arrazoado do senhor Armstrong nada prova contra nós, senão que prova nossa tese.

A mesma palavra também é usada em Mt 12.37, após o Senhor Jesus ensinar que pelo fruto se conhece a árvore. Ele diz que os fariseus são condenados pelas suas palavras e também justificados por elas: porque, pelas suas palavras, você será justificado (dikaioo) e, pelas suas palavras, você será condenado. Mateus 12:37 . Ou seja, conhecemos a fé pelas ações da pessoa, pois a boca fala do que está cheio o coração. Mt 12.34.

Também São Paulo, em 1 Co 4.3-5, quando ensina que não devemos julgar os outros por aparência, ensina que não devemos nos importar com o tribunal humano (justificação diante dos homens, atentai para a palavra tribunal) se nossa consciência está limpa de que não fizemos nada de errado:

Mas a mim pouco importa ser julgado por vocês ou por um tribunal humano; nem eu julgo a mim mesmo. Porque a consciência não me acusa de nada. Mas nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, não julguem nada antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações. E então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus. 1 Coríntios 4:3-5

É certo que a palavra dikaioo tem vários sentidos de acordo com o contexto, então deve ser analisada caso a caso, e nos textos de São Tiago já foram dados muitos motivos para pensar que o mesmo não trata de uma justificação diante de Deus, mas diante dos homens.

O senhor Armstrong agora usa o argumento do apologista católico Jimmy Akin. Reconheço que este argumento foi um pouco mais elaborado, mas, igualmente, não ficará sem resposta. Segue-se o argumento:

Gênesis 15:6. . . afirma que quando Deus deu a promessa a Abraão de que seus descendentes seriam como as estrelas do céu (Gn 15:5, cf. Rm 4:18-22), Abraão “creu em Deus e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4:3). Esta passagem nos ensina claramente que Abraão foi justificado no momento em que acreditou na promessa relativa ao número de seus descendentes.

Agora, se a justificação é um evento de uma vez por todas, ao invés de um processo, então isso significa que Abraão não poderia receber justificação antes ou depois de Gênesis 15:6. No entanto, as Escrituras indicam que ele fez as duas coisas. Primeiro, o livro de Hebreus nos diz que “Pela fé Abraão obedeceu quando foi chamado para partir para um lugar que deveria receber como herança, sem saber para onde ia”. (Hebreus 11:8) Todo protestante concordará apaixonadamente que o assunto de Hebreus 11 é a fé salvadora — o tipo que agrada a Deus e ganha sua aprovação (Heb. 11:2, 6) — então sabemos que Abraão tinha fé salvadora de acordo com Hebreus 11.

Mas quando ele teve essa fé? A passagem nos diz: Abraão o tinha “quando foi chamado para ir ao lugar que depois receberia”. O problema para a visão de justificação de uma vez por todas é que o chamado de Abraão para deixar Harã está registrado em Gênesis 12:1-4 – três capítulos antes de ele ser justificado em 15:6. Portanto, sabemos que Abraão foi justificado bem antes (na verdade, anos antes) de ser justificado em Gênesis 15:6….

Mas assim como Abraão recebeu a justificação antes de Gênesis 15:6, ele também a recebeu depois, pois o livro de Tiago nos diz: “O nosso antepassado Abraão não foi justificado pelas obras quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar [ver Gênesis 22: 1-18]? Você vê que a fé estava ativa junto com suas obras, e a fé foi completada pelas obras. Assim se cumpriu a escritura que diz: ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça’, e ele foi chamado amigo de Deus”. (Tiago 2:21-23)…

Como resultado, a justificação deve ser vista, não como um evento de uma vez por todas, mas como um processo que continua por toda a vida do crente. (HYPERLINK “http://www.ewtn.com/library/ANSWERS/PASTPRES.HTM”Salvation Past, Present, and Future”; uma versão impressa um pouco expandida deste argumento ocorre em seu livro, The Salvation Controversy [San Diego: Catholic Answers, 2001], 19-21)

1 – O primeiro ponto é que nenhum protestante jamais afirmou que a primeira vez em que Abraão foi justificado se deu no evento de Gn 15. Tanto Lutero, quanto Calvino e exegetas modernos como Robertson e Carson confirmam que a justificação se deu em Gn 12, ou até mesmo antes, pois Santo Estevão diz que Abraão foi chamado da terra de Ur dos caldeus. Quem utiliza este texto como prova da justificação somente pela fé e não pelas obras é São Paulo na Carta aos Romanos. Os protestantes apenas ecoam sua voz. São Paulo tinha um objetivo ali: mostrar que a justificação se dá somente pela fé, ou seja, que Abraão creu e isso lhe foi imputado (não infusa a justiça, como pensam os católicos romanos) por justiça. São Paulo escolhe este texto pelo simples fato de ser o primeiro texto a falar de fé na Escritura. Ele não estava querendo ensinar quando essa justificação se deu, mas mostrar como essa justificação se dava: não se dava pelas obras da lei, fossem cerimoniais, civis, morais (ou seja, do decálogo), ou obras de quaisquer espécies (como já foi demonstrado nesse artigo).

2 – São Paulo cita Gn 12 e ratifica novamente que a justificação se dá somente pela fé. São Paulo diz: Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão.
Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo:
Todas as nações serão benditas em ti. Gálatas 3:6-8

Primeiro ele cita Gn 15.7 para em seguida associar este evento a Gn 12 ao citá-lo quando diz: Todas as nações serão benditas em ti. Ou seja, Abraão teve sua justiça imputada somente pela fé em Gn 12, e, em Gn 15, essa declaração de justiça é colocada na conjuntura da vida do patriarca para ressaltar o fato de que nada foi acrescentado à fé como o caminho para a justiça. Durante a vida de Abraão, nada foi acrescentado à sua fé para ser justificado, seja antes ou depois, Abraão seguiu justificado somente pela fé, é isso que aprendemos aqui, seja antes, depois ou no fim da vida, Abraão segue justificado somente pela fé.

3 – Gostaria também de salientar que Abraão perdeu fé em Gn 16, esquecendo a promessa que Deus deu, a mesma promessa cuja crença lhe foi imputada por justiça, enquanto São Tiago o chama de justo o tempo inteiro. Não somente ele, mas sua esposa Sarah, zomba de Deus quando escuta que vai conceber um filho. Ele esqueceu da promessa, teve um filho com uma mulher que não era a sua, algo que todos os teólogos reprovam, e precisamos apenas olhar para o resultado para vermos que foi do total desagrado de Deus. Se a justificação fosse um processo, certamente Abraão teria deixado de ser justo e eu não vejo como um fato como esse possa ter sido ignorado por todos os homens da Escritura. Mas invés de injusto, todos lembram de Abraão como justo, porque a justificação não depende de nossas obras. Se dependesse, certamente Abraão teria perdido sua justificação.

Depois disso, discutimos o texto de Romanos 5:9: “Muito mais agora, tendo sido justificado pelo seu sangue”

Com este texto eu argumentei que o sacrifício de Cristo era perfeito, que ao receber Cristo adquirimos sua justiça. Eu disse:

Os méritos de Cristo são perfeitos, seu sacrifício é perfeito e satisfaz toda a justiça divina. Nenhuma obra pode complementar tal justiça satisfeita na cruz, pois o Senhor Jesus disse: “Está consumado” ( tetelestai ) está completo, nada mais falta, o preço está pago. Se as obras não nos fazem merecer os méritos de Cristo, resta que é somente pela fé que recebemos o sangue e os méritos de Cristo que nos justificam.

Agora notem que, em sua resposta, o senhor Armstrong sequer tocou em meu argumento. Meu argumento é que o Cristo da fé conquistou nossa justiça na cruz. A resposta do senhor Armstrong se resumiu a mostrar textos que mostram uma santificação, mas não o momento em que recebemos a Cristo pela fé. Vejam o que ele diz:

A princípio, sim (justificativa inicial). Mas então devemos “desenvolver” nossa salvação e completar nossa fé. Muitos versículos ensinam expressamente que:

Aqui, novamente, ele confunde justificação com todas as etapas da salvação. Para exemplificar como se dá tal confusão, seria o mesmo que dizer que a eleição se dá no tempo, assim como a justificação, somente pela razão da eleição ser parte da salvação. A eleição se dá na eternidade, não se confundindo com justificação, assim como não se confunde com santificação nem adoção. Aliás, falta ao senhor Armstrong provar que as obras podem complementar o merecer a justiça de Cristo sobre nós. Isso já foi explicado neste mesmo artigo. Não pretendo delongar-me mais. Segue-se uma série de versículos que em nada tratam de justificação:

Atos 2:40 E ele testificava com muitas outras palavras e os exortava, dizendo: “Salvai-vos desta geração corrupta”.

Romanos 8:13 porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.

1 Coríntios 9:27 mas eu cerco o meu corpo e o subjugo, para que, depois de pregar a outros, eu mesmo não seja desqualificado.

1 Coríntios 10:12 Portanto, quem pensa estar em pé, olhe para que não caia.

Gálatas 5:1… Permanecei, pois, firmes e não vos submetais novamente a um jugo de escravidão...

Filipenses 2:12-13 Portanto, meus amados, como sempre obedecestes, assim agora, não somente como na minha presença, mas muito mais na minha ausência, operai a vossa salvação com temor e tremor; pois Deus está operando em você, tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.

Filipenses 3:11-14 para que, se possível, eu alcance a ressurreição dos mortos. [12] Não que eu já tenha obtido isso ou já seja perfeito; mas prossigo para torná-lo meu, porque Cristo Jesus me fez seu. [13] Irmãos, não considero que o tenha feito meu; mas uma coisa faço, esquecendo o que fica para trás e avançando para o que está adiante, [14] prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.

Colossenses 1:22-23 ele agora se reconciliou em seu corpo de carne por sua morte, para apresentar-vos diante dele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, [23] contanto que vocês permaneçam na fé, estáveis ​​e firmes, não mudando de a esperança do evangelho que ouvistes, . . .

1 Timóteo 4:16 Cuida de ti mesmo e do teu ensino; guarda-o, porque assim salvarás … você mesma …

2 Timóteo 4:7 Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé.

Hebreus 3:14 Pois participamos de Cristo, contanto que mantenhamos firme até o fim a nossa primeira confiança.

Hebreus 6:11-12 E desejamos que cada um de vós mostre a mesma diligência em alcançar a plena certeza da esperança até o fim, [12] para que não sejais indolentes, mas imitadores daqueles que pela fé e paciência herdam as promessas.

Hebreus 10:36 Porque tendes necessidade de perseverança, para fazerdes a vontade de Deus e receberdes a promessa….

Hebreus 10:39 Mas nós somos… daqueles que têm fé e guardam suas almas.

1 João 3:3 E todo aquele que assim espera nele purifica-se a si mesmo como ele é puro…

2 Pedro 1:10 Portanto, irmãos, sede mais zelosos em confirmar a vossa vocação e eleição, porque se assim fizerdes, nunca caireis;

Tais versículos não podem ser refutados, porque sequer tratam do tema. Sequer citam a palavra justificação. O senhor Armstrong terá que provar que a justificação é o mesmo que santificação. Terá o senhor Armstrong que provar que a justificação se dá pela infusão de justiça, não por uma imputação de justiça. Deve o senhor Armstrong provar que a justiça de Cristo sobre o homem que sinceramente o recebe não o justifica completamente, como se a justiça de Cristo carecesse de algo. Todos estes são pontos que foram totalmente ignorados pelo senhor Armstrong.

A seguir, eu e ele debatemos sobre Rm 8.33, onde novamente afirmei os méritos de Cristo somente pela fé:

Como diz São Paulo: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8,33). O próprio Cristo é a nossa justiça; portanto, vós sois dele em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria da parte de Deus, justiça, santificação e redenção, para que, como está escrito: glória no Senhor”. Pregação no poder do Espírito. (1Cor 1,30-31). Cristo é a justiça perfeita que é apreendida somente pela fé, devemos nos gloriar nEle, em Suas obras e em Seus méritos.

O senhor Armstrong novamente não respondeu diretamente minha pergunta, ele diz:

Tudo isso era bom, exceto quando se tratava apenas da fé, o que é antibíblico, como já abundantemente demonstrado. Devemos conformar nossos pontos de vista com a Bíblia, e não vice-versa.

Onde foi demonstrado que a justiça de Cristo pode ser merecida pelo homem através de qualquer obra? Onde, senhor Armstrong? O senhor não respondeu ao meu argumento e o renovo: se a justiça de Cristo é perfeita, e o homem recebe a Cristo e o faz morada, como pode tal homem não estar justificado se ele tem em si os méritos de Cristo? Como São Paulo ressalta: Porém, se Cristo está em vós, o corpo está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. Rm 8.10. Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; Romanos 6:6-8

Quando citei “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8,33) quis mostrar um texto claro que através da antítese se prova a absolvição de toda culpa, pois quem poderá acusar aquele que não tem mais culpa? O senhor Armstrong sequer tocou nessa questão.

Depois, debatemos Filipenses 3:9:

E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé

O senhor Armstrong apelou à [suposta] distinção entre obras da lei e obras que não são da lei, embora nunca tenha dito em que consiste essas obras que não são da lei e justificam. Solicito ao dileto que possa esclarecer este ponto para nós de forma definitiva. Além disso, dei respostas claras sobre a inutilidade de tal distinção: ela simplesmente não existe na mente dos apóstolos.

Ainda, debatemos sobre a distinção Coram Hominibus vs Coram Deo:

Creio que neste artigo já dei razões suficientes que provam que tal distinção deve ser aplicada no texto de São Tiago e São Paulo.

Ele faz uma objeção:

O problema é a afirmação de Francisco de que Tiago estava lidando com “libertinos”: aqueles que “eram como demônios que têm uma fé morta”. Isso me parece ser não-cristãos, que eles não têm uma fé autêntica e viva, e a habitação do Espírito Santo, e a graça de Deus, ao invés de uma crença morta semelhante à dos demônios. Mas o texto real (em seu contexto geral) não afirma essas coisas. Tiago se refere em 2:1 a seus leitores como “meus irmãos” que “têm a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”. Então ele os chama de “meus amados irmãos” (2:5) e “meus irmãos” novamente em 2:14. Isso está de acordo com a epístola antes e depois do capítulo 2. Tiago se refere a eles como “irmãos” (4:11; 5:7, 9-10, 12), “meus irmãos” (1:2; 3:1, 10, 12; 5:19), e “meus amados irmãos” (1:16, 19). São Paulo também usou massivamente o título de “irmãos” para todos os cristãos nas congregações que ele amava, escrevia e pastoreava.

Quando falei que São Tiago falava a libertinos e São Paulo falava a epicureus, não o quis dizer literalmente, mas fiz uso de metonímia. O que eu quis dizer foi que aqueles crentes a qual São Tiago se dirigia estavam sendo admoestados porque estavam agindo como libertinos e São Paulo dirigia-se a crentes que estavam agindo como epicureus.

Então esse é o problema de Francisco: o texto não suporta esse argumento particular dele. Quando Tiago se refere em 2:19 a “Você crê que Deus é um; você faz bem. Até os demônios acreditam – e estremecem” ele está se referindo às mesmas pessoas que ele chamou de “meus irmãos” cinco versos antes. É sem dúvida um floreio retórico, mas parece-me que ainda se relaciona com o que era antes.

Já tratamos deste texto de Tiago antes. Creio ser desnecessário acrescentar algo, senão por uma observação simples, onde novamente tocarei no ponto em que o senhor Armstrong não quis tocar: a justificação pela fé somente em Cristo!

Os demônios têm fé, mas não fé em Cristo, os demônios não têm fé na obra salvadora de Jesus, em seu sangue que purifica de todo pecado. O texto de São Tiago vem como um balde de água fria em quem acredita que a justificação é um processo e a fé é um tipo de justiça. Se a fé fosse um tipo de justiça ou tivesse uma virtude em si mesma e muita fé aumentasse a nossa justificação – e vice-versa, isto é, que pouca fé diminuísse nossa justificação -, então os demônios deveriam também ser justificados, pois é afirmado que eles também tem fé. Mas a causa da justificação não é a fé, mas o Cristo da fé que tem uma justiça perfeita e derrama seu sangue sobre o que tem fé Nele! É o objeto da fé, que já tem a justiça perfeita, que justifica, não a fé como justiça ou uma virtude. Assim, é impossível que a justificação seja um processo, pois a justificação que temos vem da obra perfeita de Jesus na cruz. Sua obediência é perfeita. São Paulo, quando foi indagado sobre como fomos justificados, responde de forma cabal: pela obediência de Cristo. Rm 5.19.

Aqui, aproveito a oportunidade para deixar mais um dilema ao senhor Armstrong. Vejam o seguinte argumento:

São Paulo diz: “Cristo, que era sem pecado, foi feito pecado por nós” (2Co 5.21). Notem que Cristo levou os nossos pecados de uma vez por todas, não por um processo. Somado a isto, Cristo leva nosso pecado de forma declarativa, pois de outro modo teríamos que dizer que Cristo se tornou inerentemente um pecador, o que seria blasfêmia, não houve uma infusão de pecado em Cristo, mas ainda assim foi tido como pecador. Assim, a justiça de Cristo que é derramada sobre nós, semelhantemente, é declarativa. A justificação é uma declaração de Deus sobre o homem de que ele não tem mais culpa baseado na imputação dos méritos de Cristo. Não há uma infusão de justiça, mas uma declaração de que se é justo. Por isso dizemos que o homem justificado é simultaneamente justo e pecador, assim como Cristo era simultaneamente justo e pecador quando levou nossos pecados sobre si. Cristo era inerentemente justo e declarativamente pecador. Nós somos inerentemente pecadores e declarativamente justos. Esse é o ensino Bíblico que os católicos romanos desconhecem completamente. Agora, pergunto: se a justificação é uma mudança ontológica como é a santificação, então devo entender que quando Cristo recebeu nosso pecado houve uma mudança n’Ele? Estou ansioso por esta resposta.

Finalmente, o senhor Armstrong cita os comentários:

O Comentário de Navarra observou sobre Tiago 2:23:

Foi-lhe imputado como justiça”: São Paulo (cf. Gl 3:6 e nota) usa estas palavras de Gênesis 15:6 para explicar que a justiça é alcançada não apenas pelos descendentes de Abraão, mas por todos os que crêem na palavra de Deus, sejam eles judeus ou não; São Tiago, de outra perspectiva, cita este texto para mostrar que a fé de Abraão o tornou justo, isto é, santo. Ambos os ensinamentos são complementares. Abraão acreditou na promessa divina de que seria pai de um grande povo apesar de sua idade e da esterilidade de sua esposa; mas essa fé foi reforçada e manifestada quando encontrou o teste que Deus estabeleceu – o de sacrificar seu único filho, enquanto ainda acreditava na promessa anterior. A mesma coisa acontece no caso do cristão: sua fé inicial é fortalecida pela obediência aos mandamentos, e assim ele alcança a santidade.

Este comentário defende que São Tiago e São Paulo abordam a questão da justificação por ângulos diferentes, que é exatamente o que tenho defendido até agora. Além disto, tenho defendido que a justificação que São Paulo trata é diante de Deus e que a justificação que São Tiago trata é diante dos homens, ou seja, a santificação. O autor diz que São Tiago, de outra perspectiva, cita este texto para mostrar que a fé de Abraão o tornou justo, isto é, santo.

Quero salientar algo curioso: o comentário citado agora refuta o senhor Armstrong. Vejam o que ele mesmo diz: Em todas essas seis passagens, somos informados de que “fazer o bem” e “obras” e “fazer o bem” / “boas ações” e “obedecer” e “santidade” são o que “colherá a vida eterna”. ” e “salvação eterna” ou lançar o “fundamento” para o mesmo; não somente a fé. A verdade, o evangelho e Deus, todos têm que ser “obedecidos”: não apenas acreditados.

*

Isso é contrário à doutrina protestante, que sustenta que as obras se enquadram na categoria de santificação

O senhor Armstrong nos condena por colocar a justificação pelas obras na categoria de santificação, mas cita um autor católico que diz: São Tiago, de outra perspectiva, cita este texto para mostrar que a fé de Abraão o tornou justo, isto é, santo.

Vemos uma contradição. Como já ficou demonstrando, o senhor Armstrong não consegue distinguir entre santificação, justificação inicial e justificação “posterior” (ele não deu nome a esta segunda etapa), ao que solicito, por gentileza, adequadas definições para o bom andamento do debate.

Logo após, o senhor Armstrong cita o comentário do Carderal Newman, que, a meu ver, já foi refutado neste artigo. Me refiro à questão das “obras da lei” como “boas obras”. Resumidamente, o argumento do Cardeal Newman pressupõe que toda obra da lei é ruim, e que para ser uma boa obra deve estar escrito: “boa obra”. Isso não é correto porque a própria Escritura diz que a Lei é santa, e o mandamento, santo, justo e bom. Rm 7.12, a obra da lei sendo obedecida pela fé é uma boa obra, porém não nos justifica diante de Deus, mas diante dos homens. Novamente: Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usar legitimamente, (1 Tm 1.8).

A questão é que o cardeal Newman também não faz a devida separação entre justificação e santificação. Newman, assim como o senhor Armstrong e todos os outros autores citados, NUNCA tocam na obra expiatória de Cristo e em como os méritos de Cristo são aplicados ao que crê.

Lembrem-se: a doutrina da “justificação somente pela fé” tem sua base alicerçada na doutrina do Solus Christus. A menos que este tema seja abordado, é impossível esboçar uma refutação. Espero que ele seja abordado no próximo artigo. É o Cristo da fé que justifica; não, a fé. Por isto mesmo a justificação é de uma vez por todas, porque a morte de Cristo foi de uma vez por todas.

Nenhuma obra, seja da lei, seja boa obra, ou obra de fé, pode acrescentar nada na justiça conquistada na Cruz por Jesus de Nararé. A distinção entre obras da lei, obras e boas obras feitas pelo Cardeal Newman só terá qualquer sucesso se antes passar por este argumento. Até lá, qualquer distinção entre obras e obras é inválida.

CONCLUSÃO

Em meu primeiro artigo fiz a seguinte observação:

A disputa também se coloca em relação ao modo de justificação, seja por imputação ou por infusão de justiça. Afirmamos que é por imputação e negamos que seja por infusão de justiça.

Não recebi qualquer resposta a essa questão.

Não recebei respostas diretas ao meu argumento da justiça de Cristo imputada.

Meu argumento sobre a perfeição da obra de Cristo foi totalmente ignorado.

Desejo que Deus abençoe o senhor Armstrong.

4 respostas em “Justificação pela fé: perspectiva protestante (contra Armstrong)”

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