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O Supralapsarianismo Alto e o Absurdo da Eleição de um não ente: Uma refutação a Vincent Cheung.

           O supralapsarianismo é uma variação do pensamento reformado, mas que não é confessional. Para os supralapsarianos, a ordem lógica dos decretos (antes da criação na eternidade) é a seguinte:
1) Eleger alguns homens que seriam criados para a vida, e condenar outros para a destruição.
2) Criar toda a humanidade: os eleitos e os reprovados.
3) Decretar a queda
4) Prover um Redentor para os eleitos.
5) Enviar o Espirito Santo para aplicar a redenção obtida por Cristo, no coração dos
eleitos.
         O objetivo desse artigo é aprensentar uma objeção ao supralapsarianismo e também mostrar a ineficácia do contra-argumento supralapsariano elaborado por Vincent Cheung. A objeção que apresento e também foi apresentada por Francis Turretin, é que ao ensinar a emissão de um decreto de eleição dos homens antes do decreto da criação dos homens, eles estão ensinando que Deus elege homens que ainda não o são. 
         O conhecimento de Deus de um evento certo no futuro, só se dá por ocasião da emissão do decreto. Só existe presciência por decreto. Mas se Deus emite o decreto de eleger homens, antes de emitir o decreto de criar homens, então Deus tem por certo o evento futuro da criação de homens, sem decretar a esse evento futuro, o da existência dos mesmos. Ou seja, caímos no erro arminiano ou molinista de atribuir a Deus um conhecimento de evento futuro como certo, sem a necessidade de um decreto.
A tentativa de resolução desse problema é infrutífera. Os autores teriam que provar que Deus conhece o futuro sem decreto, o que seria um suicídio intelectual para um calvinista. Os autores[1]costumam argumentar que ao eleger, Deus pressupõe a existência dos homens, ou que ele já tem a pretensão de criar homens ao eleger. O problema é que pressuposição, intenção e pretensão não são decretos. Dizer que Deus pode conhecer o futuro certo por outro meio que não seja o decreto, é afirmar que existem acontecimentos determinados no futuro, que não foi Deus quem determinou, já que não há determinação do futuro sem decreto. Mas se a pressuposição de Deus já é suficiente para tornar o ato certo, então temos duas situações: ou o decreto é desnecessário, visto que só precisamos de intenções e pressuposições, ou, intenção e pressuposição tem valor de decreto, pois são suficientes para tornar um evento futuro certo, o que nos levaria fatalmente a conclusão de que se Deus decreta a eleição pressupondo a criação, então a criação foi decretada antes da eleição, pois a criação já era tomada como certa, através da pressuposição, antes da própria eleição. Nesse caso, o sistema todo cai. Estamos diante de um problema insolúvel, o que torna o supralapsarianismo alto, metafisicamente impossível.
Um não ente não pode ser alvo de predestinação. Deus não pode eleger um objeto que não é passível de eleição. Quando se elege, elege alguém, mas se não tem ainda o alguém, o que se elegeu? Vincent Cheung ao responder essa objeção, diz o seguinte:
Desde que eu tenho abordado isso claramente e em vários lugares, não vou repetir aqui. Eu gostaria de observar que, quando se trata deste tópico, os teólogos parecem se tornar sobrenaturalmente estúpidos. É como se eles se tornassem possuídos por algum demônio estúpido. Qualquer predestinação deve primeiro aplicar-se a uma não-entidade, e isso é especialmente verdadeiro quando se trata de Deus.
Caso contrário, isso significaria que, no momento em que Deus cria algo, ele mesmo não sabe por que está criando ou o que faria com ele. Se ele sabe por que ele está criando algo ou o que ele faria com ele, ou o propósito para isso, isso é predestinação.[2]

           Ao que respondemos que Cheung não entendeu o argumento. Há uma existênciapresença física e objetiva das coisas na eternidade de Deus. Esta presença, no entanto, não se trata de uma produção antecipada delas daquela que se dá no tempo, mas sim de seu ser de criatura, embora não medido pelo tempo, mas pela eternidade que mede os decretos divinos. Essa objeção dos supralapsários, em especial do apedeuta Vincent Cheung, não levam em consideração que os decretos divinos podem ser considerados distintamente quanto a ordem da intenção, que se realizam na eternidade e se identificam com a essência mesma de Deus, e quanto a ordem da execução, que correspondem a uma aparição determinada no tempo. Quando Deus produz efetivamente alguma coisa, esta produção se trata da correspondência passiva de um decreto que ativamente se realizou na eternidade. Toda produção ad extra (para fora) de Deus (por exemplo a criação, pré-moção, o concurso, conservação) corresponde ativamente aos decretos da ordem da intenção. Então Cheung erra feio ao não entender que um ente, para ser alvo de um decreto, só precisa está como certa sua existência na mente divina, não precisando que ela de fato exista no tempo, pois de outra forma, o decreto de nada valeria, mas vejam, o cordeiro de Deus padeceu antes da criação do mundo (ou desde), isso antes dele existir no tempo, mas se o cordeiro só se torna um ente quando existe no tempo, então ele também não poderia ser alvo do decreto. É básico em filosofia que a essência precede a existência. Então, Cheung deverá provar como que a existência precede a essência, visto que, para ele, um ente só é ente se existir no tempo. Cheung chama os teólogos infralapsários de estúpidos, mas peca em não conhecer um assunto que se aprende na terceira ou quarta aula de introdução à filosofia reformada. 

             Peguemos um outro exemplo: suponhamos que Deus pense em criar uma espada de aço, será que tem como Deus pensar tal coisa sem ter como certa a existência do aço? Ora, se Deus pensou em uma espada de aço, então o aço já existe na mente de Deus, pois de outra forma, Deus não poderia pensar no aço. Além do mais, em um ser composto, as partes são sempre maior que o todo, pois as partes são causa do todo, então como pode Deus pensar em um objeto composto sem pensar antes em suas partes? Seria como dizer que o efeito precede a causa, o que é absurdo.

CONCLUSÃO

          Damos então por derrotada o argumento dos supralapsários, na pessoa de Vincent Cheung, contra o argumento da eleição do não ens protagonizado pelos infralapasários.  


[1]                             Infralapsarianism or Supralapsarianism. 2012. Disponível em: http://www.timothypeng.org/infralapsarianism-or-supralapsarianism/ . Acesso em: 31/01/2019

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