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Infralapsarianismo vs Supralapsarianismo: uma refutação a Dione Cândido

O irmão Dione Cândido, a quem tenho muito apreço, escreveu recentemente um pequeno texto em seu perfil no facebook a respeito da questão infra/supralapsarianismo, talvez a disputa mais encarniçada dentre os eruditos calvinistas. Vamos ao texto de Dione Cândido:

“A questão não é entre infralapssarianismo e supralapssarianismo. A questão é entre ou ser supralapssariano ou não ser nada sobre o assunto, i.e. suspender o juízo totalmente. Se uma mente racional não está disposta a pensar dos fins para os meios, jamais estará disposta a pensar dos meios para os fins. Se não podemos fornecer a primeira opção como padrão para a mente divina, pintando-a como uma mente teleológica que desde sempre sabe aonde quer chegar, muito menos poderemos fornecer o segundo padrão no qual a mente divina pensa dos meios para os fins randomicamente, o oposto de intencionalidade e determinação racional. Pense num exemplo no qual uma mente, em seus pensamentos, tenta chegar a algum lugar pensando a partir dos meios — para começar, não se pode pensar em chegar a algum lugar, isso já seria pensar dos fins para os meios! Sim, o aspecto teleológico deve ser omitido no infralapssarianismo desde o princípio para que o aspecto randômico possa assumir a dianteira e, então, deve aparecer falaciosamente ao final como se sempre estivesse embutido no todo, fazendo tudo parecer proposital, predeterminado e intencional. No final das contas, os infralapssarianos só conseguem nos pintar um quadro esquizofrênico da mente divina. A loucura mental é o único exemplo compatível do nosso mundo para a doutrina deles. Os infralapssarianos estão tão equivocados que nem sequer poderiam disputar com os supralapssarianos; eles nunca jogaram conosco realmente e, por isso, a questão seria entre ou ser supralapssariano ou não ser nada sobre o assunto.”
O irmão Dione Cândido afirma que se Deus não pensar dos fins para os meios, então seu pensamento não pode ser racional, eu não discordaria necessariamente disso, mas discordo totalmente que isso esteja ligado ao supralapsarianismo, muito pelo contrário, o supralapsrianismo é justamente o grande problema desse argumento. O supralapsarianismo é uma variação do pensamento reformado, mas que não é confessional. Para os supralapsarianos, a ordem lógica dos decretos (antes da criação na eternidade) é a seguinte:

1) Eleger alguns homens que seriam criados para a vida, e condenar outros para a destruição.
2) Criar toda a humanidade: os eleitos e os reprovados.
3) Decretar a queda
4) Prover um Redentor para os eleitos.
5) Enviar o Espirito Santo para aplicar a redenção obtida por Cristo, no coração dos eleitos.
Então eles ensinam que se alguém planeja ir a uma loja, primeiramente ele pensa na loja, depois no caminho que vai pegar até ela, mas quando vai executar, primeiro pega o caminho e depois chega à loja. Assim eles pensam que os decretos na ordem da intenção, devem ser o inverso da ordem da execução. Até então não temos muitas discordâncias, o problema é aplicar isso à Deus dentro de um esquema supralapsariano. Lembrando que o conhecimento de Deus de um evento certo no futuro, só se dá por ocasião da emissão do decreto. Só existe presciência por decreto. Mas se Deus emite o decreto de eleger homens, antes de emitir o decreto de criar homens, então Deus tem por certo o evento futuro da criação de homens, sem decretar a esse evento futuro, o da existência dos mesmos. Ou seja, caímos no erro arminiano ou molinista de atribuir a Deus um conhecimento de evento futuro como certo, sem a necessidade de um decreto. Ou seja, para se pensar em uma lanchonete, primeiro deve-se existir a lanchonete, pois assim como homem algum pensa em algo que não existe, Deus também não pode pensar em um evento futuro necessário sem que ele mesmo tenha colocado esse evento lá através do decreto, logo, o supralpsarianismo é impossível por esse método aplicado pelo nosso irmão Dione Cândido, e ele mesmo nos oferta a ferramenta para a derrota do seu argumento. Não entendo que racionalidade há em eleger o que não há para ser eleito, é como se Deus ficasse em uma casa vazia procurando os móveis, é esquizofrenia pura! A racionalidade então, se torna loucura no sistema supralapsariano.
No entanto, nós infralapsarianos não sofremos de tal problema, pois Naquele que tudo sabe sem progressão alguma, consideramos uma dupla ordem as obras de Deus: uma é a obra da providência e outra é a obra da predestinação. Na ordem da providência Deus primeiramente, em sua ordem da intenção, quis manifestar sua glória na criação e então na permissão da queda. Conforme a ordem da predestinação, Deus na ordem da intenção quer manifestar sua glória pela misericórdia, elegendo muitos dentre os caídos e providenciando redenção a estes, e sua justiça, deixando outros aos seus próprios pecados. No entanto, entendemos a salvação em três modos: destinação, aquisição e aplicação. Então há três decretos em relação a ela: eleição, redenção e vocação. Assim, Deus por sua eterna bondade, mostra sua misericórdia à raça humana, pois dado que todos caíram, a humanidade inteira estaria destinada ao inferno, Deus então elege incondicionalmente a muitos, para evitar a tragédia da humanidade inteira se perder, e a outros ele “passa por cima”, e entrega aos seus próprios caminhos, para executar seu juízo. Isso servirá como um meio de lembrar ao homem no futuro, que o pecado não fica sem punição, pois se todos são salvos, os seres humanos poderiam pensar que nada acontece caso pequem, já que todos foram salvos. Mas, visto que, ele não poderia exercer misericórdia sem livrá-los da ira divina, então decreta a morte do cordeiro, que será o expiador dos pecados dos eleitos, adquirindo para eles salvação, fé e santificação. Após a criação, queda, eleição e reprovação, morte de Cristo, temos o chamado eficaz, no qual Deus concede a graça eficaz para todos os eleitos, por ocasião da pregação da Palavra de Deus. Através da graça, ao homem é dado fé, arrependimento e justificação, tudo pelo mérito de Cristo, que salva o eleito incondicionalmente. Não há espaço para previsão de méritos. A reprovação prevê méritos somente no tocante ao pecado original, que é condenatório, visto que todos já eram perdidos por seus próprios méritos.

Vejam, Deus quer primeiramente manifestar a sua glória, e para isso Ele emite decretos que não precisam ser supralapsarianos, pois se fossem, estaríamos postulando um Deus esquizofrênico, que elege o que inelegível, e um Deus arminiano que prevê futuro sem decreto.

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