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Justificação pela fé: perspectiva protestante (contra Armstrong): Rodada 3. Parte 1.

Em sua última resposta, o apologista católico romano Dave Armstrong dividiu seu arrazoado em três partes. Esse artigo é uma resposta à primeira parte de sua resposta, que pode ser conferido nesse link:

Primeiro, agradeço mais uma vez ao Senhor Armstrong pela oportunidade do debate.

Em segundo lugar, observo que esta é a última resposta ao senhor Armstrong antes de nossas considerações finais, razão pela qual eu tentarei ser o mais claro e exaustivo quanto possível, dentro dos limites do objeto proposto, a fim de fundamentar bem meu posicionamento.

Durante a leitura, gostaria que o leitor atentasse ao fulcro do meu argumento. Qualquer leitor está “autorizado” a deixar passar qualquer detalhe, menos este: a obra perfeita de Jesus Cristo na cruz do Calvário! O fundamento da Sola Fide (justificação somente pela fé) é a obra perfeita de Jesus na cruz. Pois somente pela fé podemos receber Jesus Cristo e, em recebendo Jesus, recebemos também seus méritos e sua justiça. Como então não somos já perfeitamente justificados no momento em que o recebemos? Um processo de justificação em que as obras também justificam quando acompanhadas da fé nega a perfeição do sacrifício de Cristo na cruz, pois teria como consequência lógica o ensino de que Cristo não é suficiente, já que minhas obras devem conquistar algo que Cristo não me deu somente por sua morte. Jesus Cristo, O Justo, transfere sua justiça para nós, enquanto leva nosso pecado sobre si. Leia o texto com isto em mente, pois repetirei várias vezes este ponto, não pela ausência de outros, mas por sua gigantesca importância.

O senhor Armstrong inicia seu argumento tratando das analogias que usei para explicar como se dá a relação entre justificação e santificação dentro da teologia protestante, mais estritamente a teologia reformada:

Eu acho que este é um bom argumento analógico. Como esse é um dos meus tipos favoritos de argumento, eu o aprecio particularmente. Eu acho que isso realmente prova demais , no entanto. Se, de fato, justificação e santificação estão tão organicamente relacionadas uma à outra, que Francisco, para defender a soteriologia reformada, sente a necessidade de compará-las ao Pai e ao Filho, que são “um” (Jo 10,30), e a a luz e o calor que vêm do sol, então eles estão tão intimamente ligados que isso me parece quase uma confirmação da posição católica, como resumi da última vez (parte verde acima).”

Agradeço por reconhecer que analogia é boa, mas a conclusão do senhor Armstrong não é a mesma que a minha. A justificação e santificação estão ligadas dentro dos limites da analogia usada, pois o Pai e o Filho são um, mas não são a mesma pessoa, assim como não é correto dizer que o Pai morreu na cruz porque era um com o Filho. A ideia era estabelecer um termo médio entre a total separação e a total identificação, assim como a doutrina correta a respeito da Trindade, grosseiramente falando, é o termo médio entre o triteísmo (doutrina que ensina que Pai, Filho e Espírito Santo são três deuses) e o modalismo (doutrina que ensina que o Pai, Filho e Espírito Santo são apenas modos de manifestação do único Deus, sem haver, portanto, distinção pessoal). Nem podemos afirmar o mesmo sobre o calor e a luz, como ficou demonstrado na analogia. Embora concorde que isso esteja perto do posicionamento da Igreja de Roma, é nossa convicção que não se trata absolutamente do mesmo posicionamento. Contrariamente ao que defini, o senhor Armstrong não faz uma diferença prática – e nem mesmo teórica – entre a justificação e santificação, embora em alguns momentos afirme serem coisas distintas, usando os termos de forma intercambiável em sua exegese dos textos Bíblicos. Como veremos mais adiante, ele não consegue demonstrar qual é a diferença entre um e outro.

É claro que Francisco – como bom protestante – negaria isso com veemência, mas pelo menos confirma novamente que há pouca diferença prática entre as duas posições, como aludi da última vez. É quase como se houvesse pouco sentido em debater isso. Por que temos que dividir tudo isso? Concordamos em muito, e na essência do assunto, e discordamos em tão pouco (principalmente distinções sutis, abstratas que não afetam a vida cristã cotidiana). Na minha opinião, sola Scriptura e a questão da regra de fé envolvem um contraste muito mais forte entre as duas visões concorrentes do que essa questão. É por isso que escrevi muito mais – como apologista – sobre a questão da autoridade.”

Deixei claro da última vez qual era o efeito prático quando disse em meu artigo anterior: se a justificação é uma declaração forense em que os méritos de Cristo são todos imputados sobre mim através da fé, então posso ter paz com Deus, como diz São Paulo em Rm 5.1: “justificados mediante a fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Cristo Jesus”. Se Cristo cumpriu a Lei e também teve uma obediência perfeita, então seus méritos são perfeitos quando imputados sobre mim e eu posso, portanto ter paz com Deus – o justo pelo injusto. Essa paz não será obtida se a justificação for um processo de toda a vida, não sem muita dificuldade. Quando serei justo diante de Deus se a minha justificação também depende de minhas boas obras? Quantas boas obras terei que fazer para ser considerado justo diante de Deus?

O senhor Armstrong tratará deste argumento novamente mais adiante e eu o responderei no momento apropriado.

Sobre o tema do Sola Scriptura, ficaria muito feliz em realizar um diálogo a respeito. O senhor Armstrong diz:

O protestante “intimamente associado” e o católico “organicamente conectado” não estão conceitualmente muito distantes, estão? Para usar outra analogia, um casamento são duas pessoas que estão “intimamente associadas”, mas em um sentido espiritual mais profundo, os dois se tornam “uma só carne”: como a Bíblia diz, ou, eu afirmo, “conectados organicamente”. Pensamos que a descrição mais precisa e bíblica da relação entre fé e obras é a última descrição, não a primeira.

Não creio que seja esta uma boa analogia para fé e obras. Embora a fé não seja contra as obras, elas são excludentes no tocante às causas da justificação, santificação e salvação diante de Deus, pois São Paulo diz: “Porquanto, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem por intermédio das obras, a fim de que ninguém venha a se orgulhar por esse motivo.” Ef 2.8,9 As boas obras não são causas formais da salvação em qualquer momento, mas apenas manifestações da transformação que Deus faz em nós, pois o operar segue o Ser. Logo, mesmo as obras santas devem ser frutos da santidade, não sua causa. Dizer que as obras são causa da salvação, portanto, da santidade, é pelagianismo, uma vez que toda boa obra de valor sobrenatural pressupõe a graça, e a ação da graça pressupõe uma capacitação, portanto, uma santificação. O senhor Armstrong parece esquecer desse princípio Bíblico e metafísico: a boa fruta é efeito da boa árvore e não o contrário; por outro lado, conhecemos a boa árvore pelos seus frutos.

O senhor Armstrong continua seu arrazoado definindo, a meu pedido, santificação e justificação. Assim diz:

A justificação, segundo o catolicismo, é uma verdadeira erradicação do pecado, uma infusão sobrenatural de graça e uma renovação do homem interior.[1] A Igreja Católica sustenta que a verdadeira fé em Jesus Cristo não é fé salvadora, a menos que frutifique em boas obras, sem as quais o crescimento espiritual é impossível.[2] Desta forma, as boas obras são necessárias para a salvação, e a santificação não é separada da justificação. Em vez disso, os dois estão intrinsecamente entrelaçados, como acontece com a Bíblia e a Tradição.[3]

Temos um problema sério aqui, pois desde o começo acuso a teologia de Roma de igualar justificação e santificação. O senhor Armstrong nega, segundo seu discurso, que a justificação seja o mesmo que santificação, mas sustenta que ambas estão tão entrelaçadas que uma não existe sem a outra, algo de que não preciso discordar absolutamente. Não obstante, afirmo que a questão não é exatamente esta, mas que não vemos a diferença entre uma e outra em suas definições ou em suas aplicações práticas. Quando ele diz que a justificação é “uma verdadeira erradicação do pecado… e uma renovação do homem interior”, o conceito aqui usado não difere de santificação.

Ele continua:

Santificação é o processo de tornar-se realmente santo, não meramente declarado legalmente.[4] Começa no Batismo, [5] é facilitado por meio de orações, atos de caridade e ajuda dos sacramentos, e é consumado na entrada no céu e união com Deus.[6] …”

Mas qual a é diferença entre esta definição de santificação e a definição de justificação? Digna de especial atenção é a negação da declaração legal, i.e., a negação da imputação dos méritos de Cristo sobre o homem, ponto ao qual retornarei em breve. Concordo que os sacramentos conferem graça e que nós nos alimentamos do corpo de Cristo, mas não sem o concurso da fé e da liberdade. Nós, protestantes, rejeitamos a passividade do ser humano no recebimento da graça através dos sacramentos e, embora este não seja o lugar apropriado para esse debate, aproveito a ocasião para perguntar: quando o católico romano alimenta-se de Cristo, não acredita alimentar-se também dos seus méritos? Ou o Cristo da Eucaristia não é o Cristo crucificado, morto e ressuscitado? O Cristo da Eucaristia vem sem os méritos conquistados pela sua vida obediente e morte na cruz? E, se vem com os méritos de sua obediência e morte, como pode alguém não ser perfeitamente justificado se o próprio Cristo com sua justiça está em nós? São Paulo afirma: “E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.” Romanos 8:10 Negar a perfeição atual da justificação é negar a presença real de Cristo na Eucaristia e esta consequência lógica é devastadora para o católico romano.

O senhor Armstrong prossegue:

O catolicismo sustenta que uma pessoa não pode se salvar por suas próprias obras auto-originadas. Este é o dogma católico, e sempre foi, apesar de quaisquer distorções dele por católicos nominais e pouco instruídos, ou polemistas anticatólicos mal-informados. Ninguém é salvo ou redimido por Maria, ou um papa, ou qualquer outra pessoa além de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”

Certamente isso não ocorre por sentença declarada, mas pode ser deduzido do conteúdo. A ideia de existir um mérito a ser recompensado (congruidade ou condignidade) pressupõe uma obra auto-originada, pois qual atleta, ao ganhar uma corrida, dirá que há méritos a serem recompensados quando ele só chegou à frente por ter obtido a ajuda que outro não teve? Quem diria haver mérito em uma vitória conquistada em razão de uma ajuda maior do que aquela recebida pelos outros? Dizer que existe mérito a ser recompensado é contra a ética cristã sob todos os ângulos. Parafraseando Lutero: não há qualquer mérito, seja de congruidade, seja de condignidade; todo mérito é de Cristo na cruz. Mas a Igreja de Roma ensina que a pessoa tem méritos, contrariamente ao que se diz: “que Deus coroa seus próprios méritos”. Deus coroa seus próprios méritos, não o mérito que o homem conquistou; Deus coroa Cristo, e os méritos que temos são todos de Cristo e recebidos pela fé, não pelas obras, razão pela qual não temos mérito algum. Como diria São Francisco de Assis:

Se este homem tivesse recebido as mesmas graças que eu, talvez tivesse sido menos infiel que eu, e se o Senhor tivesse permitido na minha vida as faltas que permitiu na sua, seria eu que estaria no seu lugar hoje. Deveríamos agradecer a Deus por todo o bem que nos fez realizar e por nos ter feito evitar todas as faltas que poderíamos ter cometido” (São Francisco de Assis apud LAGRANGE, Garrigou. O Homem e a Eternidade: a vida eterna e a profundidade da alma. 1 ed. Campinas – SP. Ecclesiae. 2018. p 42.)

O que diferencia um homem de outro é a graça, não as obras que cada um faz, sendo, portanto, mais santo, mais justo e mais puro aquele a quem Deus concedeu mais graça, pois o agir bem é um efeito do Ser já transformado pela graça, não a causa da transformação da graça. As obras, por conseguinte, não podem ser a causa da justificação ou da santificação, donde concluímos que somente pela fé em Cristo é que se é justificado e somente pela graça somos santificados, não existindo mérito algum de nossa parte.

Armstrong continua:

Sobre este assunto em particular, não há diferença alguma entre católicos e protestantes.[7] A doutrina das “obras-salvação”, muitas vezes erroneamente atribuída ao catolicismo, é uma heresia conhecida como pelagianismo, que, na verdade, foi redondamente condenada por Santo Agostinho (354-430), o supracitado Concílio em 529, e o Concílio de Trento (Cânon I da Justificação, 13 de janeiro de 1547). [pág. 25-27]”

Concordo que a doutrina das obras como causa da salvação é pelagianismo, mas não é o senhor Armstrong quem ensina que a fé somente é insuficiente para justificar o homem? Não é o senhor Armstrong quem defende que as obras também são causas da salvação?

Em seguida, falei que há dois tipos de justificação na Escritura: uma justificação diante de Deus e uma justificação diante dos homens. O senhor Armstrong replica:

Agora, quanto à última frase: onde esta distinção é encontrada na Sagrada Escritura? Em que se baseia?”

A “última frase” é uma alusão a esta sentença emitida por mim: “Justificação: Distingue-se em duas: justificação diante de Deus e justificação diante dos homens.”

Diversos foram os versículos citados em favor desta distinção no meu discurso passado, não exatamente no local desta sentença, mas adiante, no decorrer da argumentação, de modo que o correto seria o senhor Armstrong ler o arrazoado por completo para somente então emitir seu parecer. A despeito, porém, de já tê-lo demonstrado anteriormente, citarei novamente alguns versículos que provam a existência de uma justificação diante dos homens (sem o intuito de ser exaustivo, pois já cumpri esse propósito em minha última reposta):

Entretanto a sabedoria é justificada pelas suas obrasMateus 11:19.

Repetindo que o foi dito por mim:

A mesma palavra também é usada em Mt 12.37, após o Senhor Jesus ensinar que pelo fruto se conhece a árvore. Ele diz que os fariseus são condenados pelas suas palavras e também justificados por elas: porque, pelas suas palavras, você será justificado (dikaioo) e, pelas suas palavras, você será condenado. Mateus 12:37 . Ou seja, conhecemos a fé pelas ações da pessoa, pois a boca fala do que está cheio o coração. Mt 12.34.

Também São Paulo, em 1 Co 4.3-5, quando ensina que não devemos julgar os outros por aparência, ensina que não devemos nos importar com o tribunal humano (justificação diante dos homens, atentai para a palavra tribunal) se nossa consciência está limpa de que não fizemos nada de errado:

Mas a mim pouco importa ser julgado por vocês ou por um tribunal humano; nem eu julgo a mim mesmo. Porque a consciência não me acusa de nada. Mas nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, não julguem nada antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações. E então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus. 1 Coríntios 4:3-5

Não questiono a legitimidade de qualquer pessoa objetar que a justificação diante de Deus não é adquirida somente pela fé, mas negar a necessidade de um bom testemunho para que os homens também nos considerem justos é de fato uma surpresa para mim. Será que o senhor Armstrong acredita que nosso testemunho diante do mundo é irrelevante? Será que ele nega que os homens também nos consideram justos quando veem nossa mudança de comportamento? O debate deve girar em torno da nossa justificação diante de Deus, se é somente pela fé, que afirmo, ou se é pela fé e pelas obras, que o senhor Armstrong afirma, mas negar que há uma justificação diante dos homens é um extremo que causa espanto. Perguntar “onde esta distinção é encontrada na Sagrada Escritura?” É o mesmo que afirmar: não existe na Escritura o ensino da necessidade de um bom testemunho diante dos homens, quando a Escritura diz: “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mateus 5:14-16 Novamente:
Seja exemplar o vosso comportamento entre os gentios, para que naquilo que falam mal de vós, como se fôsseis pessoas que vivem praticando o que é mau, ao observarem as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia em que receberem a sua revelação.” 1 Pe 2:12

Repito: é razoável questionar se a justificação diante de Deus se dá somente pela fé ou se pela fé e pelas obras, mas está totalmente fora de questão afirmar que não há uma justificação diante dos homens.

É importante ressaltar, porém, que as boas obras, embora conquistem o bom testemunho dos homens, não devem ser feitas para agradar aos homens, mas serem feitas com o fim de glorificar o nome de Deus, para não sermos enquadrados como fariseus que queriam justificar-se diante dos homens, mas sem querer glorificar a Deus.

As objeções específicas feitas a esses versículos serão tratadas no local apropriado.


Continuando, citei as definições de Justificação segundo João Calvino. A elas, o senhor Armstrong respondeu:

Eu queria responder diretamente à pergunta de Francisco sobre definições de termos, que parecem necessárias. Mas agora corremos o risco de nos desviarmos do objetivo de nos atermos à Bíblia e sua exegese e comentários relacionados a passagens individuais.”

Meu objetivo era trazer uma definição de acordo com a teologia reformada, para que ninguém me acuse de inventar conceitos ou de cometer qualquer imprecisão a respeito do que estou defendendo. Isso não é contra as regras do debate.

Armstrong continua:

Esperemos que voltemos às alegadas provas bíblicas de ambos os lados. Em última análise, não estamos aqui para determinar o que Trento ou Calvino pensam, mas o que cada um de nós acredita que a Bíblia ensina, uma vez que temos total concordância sobre sua autoridade inspirada. Debates bons e construtivos devem prosseguir em um terreno comum, antes de levar em consideração diferenças honestas.”

Minha posição pessoal é a mesma de João Calvino, o que me ajuda a criar uma conexão com outros leitores que são defensores do mesmo credo que tenho. Isso não é contra as regras. O senhor Armstrong teria razão se a Escritura estive totalmente ausente em meu arrazoado, o que não é verdade. Cito as Escrituras e também cito João Calvino como apoio, não como fundamento do que acredito. Cito João Calvino porque acredito que o que ele defende concorda com a Escritura, não porque ele tenha uma autoridade independente. Continuamos no terreno comum, pois João Calvino não é o fundamento de minha crença, mas uma fonte que explana bem o que penso.

Importante ressaltar que quando digo que “[c]oncordo com o Sr. Armstrong que católicos e protestantes, especialmente os reformados, que estou defendendo, concordam com as sentenças A e B”, isto não significa que concordo com o conteúdo do que foi dito, mas com a enunciação da frase desconexa de seus contextos. Palavras iguais podem ter significados diferentes, e acredito que seja o caso aqui.

Em ato contínuo, argumento que há uma diferença prática se cremos na imputação dos méritos e da conquista de Cristo sobre todo aquele que o recebe, sendo esta a típica doutrina reformada, ou se cremos na típica doutrina católica romana em que a justificação é um processo ao longo de toda vida. Assim digo:

Minha segunda opinião é que há uma diferença na vida cotidiana das pessoas que realmente entendem o que está envolvido. Não pretendo ser exaustivo na minha exposição de motivos agora, mas o farei mais tarde. Se a justificação é uma afirmação forense na qual os méritos de Cristo são todos imputados a mim pela fé, então posso ter paz com Deus, como diz São Paulo em Romanos 5:1: “ Justificados pela fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo ”. Se Cristo cumpriu a Lei e também teve obediência perfeita, então seus méritos são perfeitos quando imputados a mim, portanto, posso ter paz com Deus – o justo pelos injustos. Esta paz não será obtida se a justificação for um processo ao longo da vida, não sem grande dificuldade.”

O Senhor Armstrong responde:

As palavras de São Paulo abaixo implicam fortemente que não é um acordo único, mas um processo, uma vez que ele mesmo não tem certeza de que ele ou alguém entre seus conhecidos cristãos e amigos e rebanho) certa ou indubitavelmente o alcançou:”

Alego haver aqui um desvio de foco, pois minha objeção não foi respondida. Minha alegação é que há uma diferença prática se cremos de forma diferente, ao que o senhor Armstrong responde fazendo uma defesa da justificação como um processo e não por imputação. O senhor Armstrong, para responder minha pergunta, deveria mostrar o porquê de não haver diferenças práticas mesmo existindo diferenças teóricas. Ao invés disso, ele apenas ratificou as diferenças teóricas e não mostrou como estas diferenças não impõem diferenças práticas.

Ele cita vários versículos bíblicos que, segundo ele, provam que a justificação é um processo. Apesar disso não responder o meu arrazoado neste momento, replicarei tais versículos. Segue-se:

Romanos 8:13-17 (RSV) porque, se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.[14] Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. [15] Pois vocês não receberam o espírito de escravidão para voltarem ao medo , mas receberam o espírito de filiação. Quando clamamos: “Abba! Pai!” [16] é o próprio Espírito que testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus, [17] e, se filhos, então herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que com ele padeçamos para que também possamos seja glorificado com ele.

Ao que o senhor Armstrong chama de justificação, eu chamo de santificação. Aliás, não há menção da palavra justificação neste versículo. Para entendermos melhor o meu argumento, é preciso distinguir entre duas coisas:

1 – Ser justo pelo mérito de outro.

2 – Ser tomado por justo por causa de nossas ações.

À primeira eu dou o nome de justificação imputada. À segunda, de santificação.

A primeira tem a ver com os méritos de Cristo que nos são imputados somente pela fé. O próprio Armstrong ensina uma justificação inicial, algo que se identifica totalmente com uma ação transformadora da graça preveniente que conduzirá o homem ao ato de crer, e a essa ação de crer o senhor Armstrong chama de fé. Essa graça inicial, que já transforma porque é monergística (usando o termo do próprio autor), pode ser rejeitada. Aqui, contudo, temos um problema lógico. Atentai bem: se é a graça que concede a fé, e essa justificação inicial é monergística, como pode o homem não crer se a fé já está na graça? Pode um homem ter fé e não crer? E se o homem precisa não resistir à graça para que assim possa ter fé, então essa graça precisa do concurso da liberdade, não sendo monergística, mas sinergística. Colocando em outras palavras:

1 – A justificação se dá pela fé.

2 – A fé é dada pela graça.

3 – A justificação inicial (que já deve incluir a fé, pois o contrário não poderia ser justificadora) acontece monergisticamente.

4 – A justificação inicial já inclui a fé.

5 – É impossível ter fé e não crer.

6 – Logo, é impossível ser alvo da graça e não crer ou é impossível a graça ser rejeitada.

Este silogismo mostra a inconsistência do próprio argumento Católico Romano conforme apresentado pelo senhor Armstrong. Se há uma justificação inicial por uma graça que é monergística, segue-se que esta graça não pode ser rejeitada porque é ela quem dá a fé e sem fé não há justificação. Se a graça é justificadora desde o início e a justificação se dá pela fé, segue-se que tal graça deve conter a fé desde o começo; logo, é impossível de ser rejeitada, pois é contraditório ter fé e não crer.

No tocante ao segundo modo, quando digo: Ser tomado por justo por causa de nossas ações, afirmo que a Escritura é claríssima ao afirmar que as boas obras não são causas da nossa justificação segundo o ponto de vista divino, pois o Senhor Jesus diz: “Não existe árvore boa produzindo mau fruto; nem inversamente, uma árvore má produzindo bom fruto. 44Pois cada árvore é conhecida pelos seus próprios frutos. Não é possível colher-se figos de espinheiros, nem tampouco, uvas de ervas daninhas. 45Uma pessoa boa produz do bom tesouro do seu coração, o bem, assim como a pessoa má, produz toda a sorte de coisas ruins a partir do mal que está em seu íntimo, pois a boca fala do que está repleto o coração.” (Lc 6. 43-45) Isso porque somos conhecidos através de nossas obras, mas conhecidos por quem? Por Deus ou pelos homens? Porque se só somos conhecidos por Deus quando mostramos nossas obras, então Deus não conhece os nossos corações, mas, por ser Deus é onisciente, esse conhecimento não se refere a Deus e sim aos homens. A máxima escolástica que diz “O Ser precede o operar” cabe muito bem aqui, pois primeiro somos santos para depois agirmos santamente. Dizer que as boas obras são causas da nossa justificação diante de Deus é o mesmo que dizer que o operar é causa do Ser, que é um absurdo lógico e bíblico, principalmente quando se toma justificação como sinônimo de santificação, sendo este o caso do senhor Armstrong. Assim também afirma São Tiago: “Ora, meus irmãos, é possível que uma figueira produza azeitonas ou uma videira, figos? Assim, também, uma fonte de água salgada não pode jorrar água doce.” (Tg 3.12) Em outras palavras, a fonte já é salgada para jorrar água salgada; não é o jorrar da água salgada que a transforma em uma fonte que jorra água salgada. Os homens só sabem que a fonte é de água salgada quando a bebe, e pelo seu “fruto” conhecem o que é, mas não é assim para Deus. Deus sabe que a fonte é de água salgada sem precisar experimentar de sua água, e tal fonte estaria condenada mesmo sem apresentar essas más obras, pois a questão em Deus nunca girou em torno do fazer, mas do que se é! Assim, somos tomados por justos diante dos homens através de nossas obras, porque os homens não conhecem o nosso coração, mas porque a boca fala do que está cheio o coração, as minhas obras mostram o que meu coração é, por isso se diz: a sabedoria é justificada por suas obras.” (Mt 11.16–19 RA), ou seja, a sabedoria é revelada através das obras, mas revelada diante de quem? Deus precisa ver minhas obras para saber que eu sou justo? Ou Deus já conhece a minha raiz? São Paulo dirá: “se a raiz é santa, todos os ramos também o serão” (Rm 11.16) basta que a raiz seja conhecida para sabermos que o que virá é bom. Se Deus conhece a raiz, tampouco precisa ter como causa da santidade os frutos produzidos pelos ramos.

O senhor Armstrong destaca uma condicional no versículo para ratificar seu argumento: “contanto que com ele padeçamos para que também possamos seja glorificado com ele.” Ao que respondo que o argumento da condicionalidade não logra êxito, uma vez que se for levado ao extremo, colocará potência passiva em Deus. Como podemos aplicar uma condicional a um Deus que tudo sabe infalivelmente? Como um Deus que tudo sabe pode dizer a um homem: “se tu fizeres bem, te darei um prêmio, se tu fizeres mal, se castigarei”? A única resposta é que essa pergunta é feita antropopaticamente, ou seja, ao modo humano, levando em consideração a ignorância humana, pois somos nós homens que temos a dúvida do que ocorrerá amanhã, não Deus. Para Deus, não há “se”, “contanto”, nem partícula indeterminada alguma! Assim, São Paulo ao usar uma condicional, fala ao modo humano pressupondo a ignorância humana inerente aos seus ouvintes e a si mesmo com o fim de admoestar todos a se manterem firmes, pois “vós não tendes o poder de saber o que acontecerá no dia de amanhã.” (Tg 4,14).

Tal erro é comum em vários teólogos, não só no tocante à interpretação da Escritura, mas em relação à interpretação dos pais da Igreja, conforme ensina o padre Garrigou-Lagrange em seu livro “La Predestinación de los Santos a la Gracia” que demonstra que os pais da Igreja anteriores a Agostinho avaliaram a predestinação sempre sob a ordem da execução, ou seja, dos acontecimentos no tempo, enquanto Agostinho a desenvolveu segundo a ordem da intenção, ou seja, sob a perspectiva divina. Diz o padre que os pais da Igreja anteriores a Agostinho, por falarem da ordem da execução, ou seja, do que acontece no tempo, ensinaram uma“vontade de dar glória depois desta vida… e o fizeram como uma exortação e, portanto, na ordem da execução preconcebida, os méritos precedem a glorificação, enquanto a ordem da intenção é inversa. (Garrigou-Lagrange. La Predestinación de los Santos a la Gracia. Doctrina de Santo Tomás Comparada con los Otros Sistemas Teológicos. DEDEBEC. Buenos Aires. p 56.) Assim, continua o padre, “Deus, na ordem da intenção, quer o fim antes dos meios (porque quer salvar o bom ladrão de acordo com a graça da perseverança final), mas na ordem da execução, quer dar a glória como recompensa pelos méritos” (Garrigou-Lagrange, p 57)

O exemplo do dileto padre ilustra bem o erro do senhor Armstrong ao usar versículos que tratam da ordem da execução (dos acontecimentos no tempo) com os versículos que tratam da ordem da intenção (sob vetor da eternidade).

Se em um versículo há uma condicional, ela não pode ser aplicada a Deus, pois este é infalível e, não importando qual seria a condição, tal condição depende Dele mesmo para ser cumprida ou não, pois somente Deus pode atualizar um evento, tornando-o real, não apenas hipoteticamente real, mas trazendo-lhe à certeza do evento.

Dessa forma, no vetor da eternidade “aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” (Rm 8:30) Mas no vetor das criaturas é “contanto que com ele padeçamos para que também possamos seja glorificado com ele.” (Rm 8.17)

Dada a explicação acima, sigamos na análise de outros versículos citados pelo senhor Armstrong:

1 Coríntios 9:27 mas eu cerco o meu corpo e o subjugo, para que, depois de pregar a outros, eu mesmo não seja desqualificado.

Primeiro, este texto não trata de justificação, mas de santificação. Ainda que o senhor Armstrong iguale os termos, sua conclusão não se segue do texto, pois São Paulo apenas supõe sua própria ignorância a respeito dos atos futuros, e disto não se segue que para Deus o futuro de São Paulo fosse indefinido. São Paulo está admoestando aos seus irmãos da Igreja de Corinto tomando a si mesmo como exemplo, assim como o próprio Cristo foi tentado mesmo sem poder pecar. Ora, dizer que a salvação pode ser perdida porque o apóstolo declara suas obrigações, sua submissão à lei e também a hipótese de ser desqualificado, não significa que isso possa acontecer na realidade, ao menos não da perspectiva divina, pois se assim fosse, eu poderia afirmar que Cristo poderia pecar, pois Ele mesmo diz: “não nos deixeis cair em tentação” (Lc 11.4). O simples fato de Cristo ter sido tentado supõe uma possibilidade de queda se olharmos pelo ângulo que o senhor Armstrong interpreta esses versículos. De outro, modo não seria tentação, seria teatro, mas Cristo não pode realmente cair, portanto, não é necessária uma possibilidade real de uma queda para sermos admoestados e nos esforcemos para não fazê-lo. Ninguém foi mais esforçado do que Cristo, ninguém orou mais do que Cristo, ninguém sofreu piores tentações do que Cristo, e, ainda assim, nada disto significa que Cristo poderia cair da graça, assim como Paulo dizer de si mesmo que se esforça para não ser desqualificado não significa uma possibilidade real de queda. Será que Cristo cairia se fosse menos esforçado? Se orasse menos? Se a tentação fosse maior? Assim também ninguém cai, a não ser aqueles que desde sempre nunca foram verdadeiramente, como diz São João: “Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos.” 1 Jo 2.19

O pensamento do senhor Armstrong, quando levado às últimas consequências, pode produzir efeitos bem adversos. Vejamos o caso de Prudêncio Montemayor, que defendeu que “Se Cristo recebeu o preceito de morrer ele não morreu livremente, então, não houve mérito nele” (CUADRADO, J. A. G. La obra filosófica y teologica de Domingo Bañez (1528-1604). AHIg, 1998, p. 209). Em outras palavras, se os preceitos não poderiam ser desobedecidos por Cristo, então sua morte não poderia salvar, pois não haveria mérito. Acertadamente, Montemayor foi proibido pelo Tribunal do Santo Ofício de continuar ensinando esse modo de pensar, mas parece que esses pressupostos de que um preceito dado é um preceito que pode ser desobedecido na realidade está bem vivo no meio Católico Romano.

De acordo com o ensino de São João, os que saem de nós, apenas manifestam, revelam que não eram dos nossos (1 Jo 2.19). Ou seja, enquanto para nós, estava escondido, para Deus, que sonda os corações, já era tudo conhecido. A salvação só se perde sob um olhar humano, não sob um olhar divino, isso porque Deus sabe a quem concedeu o dom da fé verdadeira e a quem imputou os méritos de Cristo.

Mais um:

1 Coríntios 10:12 Portanto, quem pensa estar em pé, olhe para que não caia.

A mesma situação da explicação anterior. Há uma clara confusão entre justificação e santificação, entre a ordem da intenção e da execução.

Além disso, quem disse que cair significa perder a salvação? O filho pródigo, por um acaso, deixou de ser filho em algum momento? A ovelha perdida deixou de ser ovelha? A dracma perdeu o seu valor quando foi perdida? Ou foi o seu valor que fez sua dona resgatá-la? Para o que é eleito, a queda não é a perda da salvação, mas um meio de aperfeiçoamento, tal qual o filho pródigo que após comer com os porcos volta para seu pai com um espírito muito superior ao do seu irmão que nunca caiu.

Cito a seguir todos os textos com os mesmos erros interpretativos baseados na confusão entre as ordens de intenção e execução, imputando potência passiva em Deus, confundindo uma vontade de signo com uma vontade de beneplácito, confundindo justificação e santificação, confundindo a ordem transcendental com a predicamental. São tantos erros que é impossível que o senhor Armstrong esteja correto em sua análise. Seguem-se os textos:

1 Coríntios 16:13  Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos, sede fortes.

2 Coríntios 1:24  . . . você se mantém firme em sua fé.

2 Coríntios 13:5  Examinem a si mesmos, para ver se estão mantendo a sua fé. Teste-se. Você não percebe que Jesus Cristo está em você? — a menos que você falhe no teste !

Gálatas 5:1  . . . Permanecei, pois, firmes e não vos submetais novamente a um jugo de escravidão . . .

Filipenses 2:12-13  Portanto, meus amados, como sempre obedecestes, assim agora, não somente como na minha presença, mas muito mais na minha ausência,  operai a vossa salvação com temor e tremor ; pois Deus está operando em você, tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.

Filipenses 3:11-14 para  que , se possível , eu alcance a ressurreição dos mortos. [12]  Não que eu já tenha obtido isso ou já seja perfeito; mas prossigo para torná -lo meu , porque Cristo Jesus me fez seu. [13] Irmãos, não considero que o tenha feito meu ; mas uma coisa faço, esquecendo o que fica para trás e avançando para o que está adiante, [14] prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.

Filipenses 4:1  . . . fique firme assim no Senhor. . .

Colossenses 1:22-23  ele agora se reconciliou no seu corpo de carne pela sua morte, a fim de apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis ​​e irrepreensíveis, [23] contanto que permaneçais na fé, estáveis ​​e firmes , não mudando de a esperança do evangelho que ouvistes, . . .

1 Timóteo 4:16  Guarda-te a ti mesmo e ao teu ensino; guarda- o , porque assim o salvarás. . . você mesma . . .

A mesma explicação pode ser aplicada a todos esses textos, que nada provam do ponto de vista do senhor Armstrong.

Desde quando um preceito (admoestação) supõe uma possibilidade real de acontecimento? Seria como dizer que Deus considerou realmente que Isaac fosse sacrificado por Abraão e oferecido pelo fato de ter preceituado a Abraão que isso fosse feito. Que fique bem claro de uma vez por todas para que nunca mais erremos: a informação de um dever não é o mesmo que poder atualizar o cumprimento desse dever. Não foi por acaso que os escolásticos desenvolveram a distinção entre poder e querer, pois todos recebem o poder, mas nem todos recebem o querer, isto é, nem todos atualizam a possibilidade.

Alguns desses versículos serão visitados mais adiante para provar a impossibilidade da tese do senhor Armstrong.

Sigamos em frente.

Perguntei ao senhor Armstrong “quando serei justo diante de Deus se minha justificação também depender de minhas boas obras?”

Recebi como resposta:

Obviamente, se você fizer boas obras meritórias (sempre com fé e capacitada pela graça) para a satisfação Dele. Ele é um Deus justo e misericordioso.”

A pergunta que fiz foi QUANDO serei justo, e não o COMO serei justo. A resposta a esta pergunta é NUNCA. O sistema de justificação por um processo causado pelas boas obras e fé dependem de uma fé perfeita e de uma quantidade imensurável de obras perfeitas.

Se os versículos dantes citados pelo senhor Armstrong tratam de justificação, então nem mesmo São Paulo ao fim de sua vida era justo, pois ele diz: Filipenses 3:11-14 para que, se possível, eu alcance a ressurreição dos mortos.[12] Não que eu já tenha obtido isso ou já seja perfeito; mas prossigo para torná-lo meu, porque Cristo Jesus me fez seu. [13] Irmãos, não considero que o tenha feito meu; mas uma coisa faço, esquecendo o que fica para trás e avançando para o que está adiante, [14] prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.

Se nem mesmo São Paulo alcançou a justificação, serei eu ou qualquer outro melhor que São Paulo? Se São Paulo está estritamente falando de justificação, como diz o senhor Armstrong, quando terei paz com Deus? Quando poderei afirmar que “temos paz com Deus mediante a fé”, se essa paz é condicional a uma série de boas ações que tenho que fazer? Mas a Escritura afirma o contrário: “Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé” Rm 1:17 Do princípio ao fim é fé. As obras na perspectiva divina são frutos de um homem já santo, que se santifica mais a medida que recebe mais graça. É totalmente recusado na Escritura que as boas obras são causas da santificação, da justificação ou da glorificação.

Em seguida pergunto: Quantas boas obras terei que fazer para ser considerado justo diante de Deus?

Senhor Armstrong responde:

Muitas, de acordo com a Bíblia, desde que encontrei 50 passagens bíblicas que ligam diretamente as obras à obtenção do céu. A fé é mencionada em apenas um deles, e mesmo assim, não é no sentido protestante de “fé somente”. Apocalipse 21:8 inclui os “infiéis” entre aqueles que serão condenados por toda a eternidade. Aqui estão eles (tem que amar essas provas da Bíblia!):

Muitas são exatamente quantas? Note o total relativismo da quantidade de obras que devem ser feitas para sermos salvos. A verdade é que, dada a possibilidade real da perda de salvação, o católico romano vive com a eterna incerteza de sua salvação ou perdição, pois não confia nos méritos de Cristo imputados mediante a fé, depositando confiança, antes, nas obras que são feitas para conquistar algo que Cristo já conquistou na cruz.

Seguem-se então as citações do senhor Armstrong de vários versículos bíblicos que tratam de como homens foram julgados pelos seus pecados no passado, como se isso provasse que os méritos conquistados por Cristo na cruz dependessem do concurso das boas obras para serem eficazes.

Primeiro ele cita vários textos do Antigo Testamento:

1 Samuel 28:16, 18 E Samuel disse: “…o Senhor se afastou de você e se tornou seu inimigo… [18] porque você não obedeceu à voz do Senhor, e não realizou a sua ira contra Am’alek…”

Um versículo que descreve as ações divinas sob o ângulo da ordem da execução, é óbvio que para um observador que narra esse evento, a perspectiva tomada será a do narrador que primeiro vê os meios para depois ver os fins. Volto ao ensino do padre Garrigou-Lagrange, que na ordem da execução “os méritos precedem a glorificação, enquanto a ordem da intenção é inversa”, pois na ordem da intenção (vetor da eternidade) os fins precedem os meios, assim os fins já estão certos e o fato de Saul ser abandonado pelo Senhor é apenas o meio de Deus alcançar o fim já estabelecido na eternidade, que era colocar Davi como rei. Prova-se que o fim era esse pelo simples fato de que Saul era da tribo de Benjamim, portanto, caso nunca tivesse perdido o trono, a linhagem real do Messias seria comprometida, pois era Davi que fazia parte da Tribo de Judá, portanto da genealogia que daria origem ao Messias. Como na ordem da execução os méritos precedem a glorificação, os deméritos precedem a desgraça, e assim todo aquele que fala sob uma perspectiva humana narra uma relação de causa e efeito tal qual se observa pelo olho humano. Isso serve para a interpretação de outros versículos.

O segundo ponto é que o senhor Armstrong assume nesse versículo que a justificação é o mesmo que santificação, e que esse é o processo até alcançar a glória final. O que comprova que o senhor Armstrong analisa o texto de acordo com a ordem da execução, onde os méritos precedem a glória, não na ordem da intenção em que a glória precede os méritos.

O terceiro ponto é que São Paulo ao falar do povo de Deus alerta que nem todos os que são de Israel são israelitas; Rm 9:6 , ou seja, nem todos os homens que são nascidos em Israel eram de fato eleitos, igual à Igreja dos nossos dias, em que temos muitas pessoas na Igreja que não fazem parte do povo separado de Deus, como São Paulo argumenta: “Assim, pois, em nossos dias, há igualmente um remanescente separado pela eleição da graça.” Rm 11.5

Saul poderia fazer parte do povo de Israel, ser circuncidado e ser tido como um salvo sob a perspectiva daquele que vê, mas nem tudo conhece, mas Deus sabe quem são os seus separados, Deus sabe quem são os verdadeiros Israelitas, e como ficou manifesto, Saul não era um deles.

Uma série de versículos, absolutamente todos padecendo do mesmo problema, são citados pelo senhor Armstrong. Certamente, se todos padecem do mesmo problema, ao responder um somente, terei derrubado todos os outros. Alguns deles sequer tratam da santificação ou justificação, como, por exemplo:

Eclesiastes 12:14 Porque Deus trará a juízo todas as obras, inclusive todas as coisas ocultas, sejam boas ou más.

O texto trata do juízo final. É certo que nem todos alcançam justiça aqui na terra. O restante dos textos são textos que tratam da ordem da execução, são admoestações, conselhos pastorais, que nada tem a ver com o tema proposto, porque a necessidade de fazer boas obras não foi negada em momento algum por mim. O senhor Armstrong deve mostrar como esses versículos provam que a boa obra é a causa da salvação, santificação ou justificação diante de um Deus que conhece a raiz de cada planta, diante de um Deus que já conhece o que falarei antes da palavra chegar em minha boca, que sonda o coração e conhece antes mesmo de qualquer ação minha. Somos julgados primariamente pelo que somos, secundariamente pelo que fazemos. Por isso mesmo um ateu que faz boas obras não pode ser salvo, pois as boas obras não causam a salvação, mas quem nós somos. Um cristão ruim pode ter menos boas obras que um ateu, mas quem vai para o céu é o cristão ruim e não o ateu, porque são os méritos de Cristo que conquista o céu, não o que eu faço.

2 Reis 22:13 (cf. 2 Cr 34:21) “… a ira do Senhor que se acendeu contra nós, porque nossos pais não obedeceram às palavras deste livro, para fazer conforme tudo o que está escrito a nosso respeito”.

Mostra uma relação de causa e efeito conforme a ordem da execução. Deus sequer pode ser causado, isso é negar os primeiros princípios.

Salmos 7:8-10 O SENHOR julga os povos; julga-me, ó Senhor, segundo a minha justiça e segundo a integridade que há em mim. Oh, deixe o mal dos ímpios chegar ao fim, mas estabelece o justo, tu que prova as mentes e os corações, tu Deus justo. Meu escudo está com Deus, que salva os retos de coração.

Uma oração de um homem, falando sob sua perspectiva, reconhecendo sua pequenez e pedindo que Deus julgue conforme sua justiça. Ora, por um acaso Deus deixa de julgar alguém? Por um acaso Deus pode julgar segundo outra justiça senão a Dele? O texto é uma oração; destarte, trata do drama humano, não trata de relações metafísicas soteriológicas.

Salmos 58:11 Os  homens dirão: “Certamente há recompensa para o justo; certamente há um Deus que julga na terra”.

Como isso prova que a justificação se dá por fé e obras?

Eclesiastes 12:14 Porque Deus trará a juízo todas as obras, inclusive todas as coisas ocultas, sejam boas ou más.

Trata do juízo final, não da salvação terrena. Inclusive os mortos também serão julgados, mas o texto não prova que a causa da salvação foram as boas obras.

Isaías 59:18 Conforme as obras deles, assim ele retribuirá, ira aos seus adversários, retribuição aos seus inimigos;…

Jeremias 4:4 (cf. 21:12) Circuncidai-vos ao SENHOR, removei o prepúcio de vossos corações, ó homens de Judá e habitantes de Jerusalém; para que a minha ira não saia como fogo, e queime sem que ninguém a apague, por causa da maldade das tuas ações”.

Ezequiel 7:3 (cf. 7:8; 33:20) Agora o fim está sobre vocês, e eu soltarei minha ira sobre vocês, e os julgarei de acordo com os vossos caminhos; e eu o castigarei por todas as suas abominações.

Ezequiel 36:19 Espalhei  -os entre as nações, e eles foram dispersos pelas terras; de acordo com sua conduta e seus atos eu os julguei.

Miquéias 5:15 E com ira e ira executarei vingança sobre as nações que não obedeceram.

Sofonias 2:3  Buscai ao Senhor, todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos; busque a justiça, busque a humildade; talvez você esteja escondido no dia da ira do Senhor.

Mateus 5:22 Mas eu vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão será julgado; quem insultar seu irmão estará sujeito ao conselho, e quem disser: ‘Tolo!’ estará sujeito ao inferno de fogo.

Todos textos admoestativos, que nada provam contra a doutrina da justificação pela fé. O próprio Cristo, ao orar o “Pai Nosso”, diz: “não nos deixeis cair em tentação”. Se uma oração ou admoestação provasse uma possibilidade real de queda de acordo com o vetor da eternidade, o próprio Cristo seria atingido por essa regra, caindo no erro de Prudêncio de Montemayor.

Mateus 7:16-27 Você vai conhecê-los pelos seus frutos. Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos cardos? Assim, toda árvore sadia dá bons frutos; mas a árvore má dá frutos maus. Uma árvore sã não pode dar maus frutos, nem uma árvore má dar bons frutos. Toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim os conhecereis pelos seus frutos. Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Naquele dia, muitos me dirão: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, e em teu nome não expulsamos demônios, e não fizemos muitos milagres em teu nome?” E então vou declarar a eles: “Eu nunca os conheci; apartai-vos de mim, malfeitores”. Todo aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica será como um homem sábio que edificou sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, mas ela não caiu, porque estava alicerçada na rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será como um homem insensato que construiu sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela caiu; e grande foi a queda dela.

Esse texto milita contra a causa do senhor Armstrong, primeiro, porque prova que nós conhecemos a árvore pelos seus frutos, mas Deus já conhece a árvore antes que se manifestem os frutos. Note que muitos homens faziam parte da Igreja, eram tidos como salvos, faziam boas obras, mas nunca foram salvos, pois Cristo diz: “nunca os conheci”. Conhecer é exatamente ter a união mística com Cristo, pois “a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (Jo 17.3) Esses homens nunca conheceram a Cristo, não um conhecer cognitivo, mas a união mística que ocorre no momento em que temos os méritos de Cristo ao recebê-lo como único e suficiente salvador.

Lucas 3:9 (Mt 3:10; 7:19) Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, portanto, que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo.”

O texto anterior esclarece este: conhece-se a árvore ruim pelos seus frutos, não são os frutos ruins que tornam a árvore má, assim como não são as boas obras que santificam, mas a santidade é provada pelas boas obras. O texto apresentado trabalha na ordem da execução (onde os méritos precedem a glória e os deméritos precedem a desgraça) não na ordem da intenção (onde o fim precede os meios ou a glória precede os méritos).

Mateus 10:22 (cf. Mt 24:13; Mc 13:13) …Mas aquele que perseverar até o fim será salvo.

Novamente um texto admoestativo que se direciona ao intelecto limitado do homem. Será que Deus já não sabe quem perseverará ou não? E quem perseverará, perseverará porque fez mais boas obras do que o outro que não fez? Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? 1 Co 4:7. Quem nos distingue diante de Deus não são as boas obas, mas a graça que transforma a cada um. Se o que diferencia um homem do outro é a quantidade de boas obras, então a salvação se dá pelo mérito humano, não pelo mérito de Cristo. As boas obras não causam a salvação, mas o contrário acontece, como já abordei em outros lugares.

Mateus 16:27 Porque o Filho do homem há de vir com os seus anjos na glória de seu Pai, e então retribuirá a cada um pelo que tiver feito.

Um texto que trata do juízo final não da justificação no tempo.

Mateus 18,8-9 (cf. Mc 9,43; 9,47) E se a tua mão ou o teu pé te fazem pecar, corta-o e lança-o fora; melhor é entrar na vida aleijado ou coxo do que com as duas mãos ou os dois pés ser lançado no fogo eterno. E se o seu olho o faz pecar, arranque-o e jogue-o fora; é melhor você entrar na vida com um olho do que com dois olhos ser lançado no inferno de fogo.

Padece do mesmo problema já antes denunciado: uma confusão entre a vontade de signo (preceito, proibições e permissões) e a vontade de beneplácito (absoluta ou decretiva).

Mateus 25:14-30 “Porque será como quando um homem, em viagem, chama os seus servos e lhes confia os seus bens; a um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um, a cada um segundo a sua capacidade. Então ele foi embora. Aquele que recebera os cinco talentos foi imediatamente negociar com eles; e ele fez mais cinco talentos. Assim também, aquele que tinha dois talentos fez mais dois talentos. Mas aquele que recebera um talento foi, cavou a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor. Agora, depois de muito tempo, o senhor daqueles servos veio e acertou contas com eles. E adiantou-se o que recebera cinco talentos, trazendo mais cinco talentos, dizendo: Mestre, entregaste-me cinco talentos; aqui ganhei mais cinco talentos.’ Seu senhor lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entre na alegria de seu mestre.’ E adiantou-se também o que tinha dois talentos, dizendo: Mestre, entregaste-me dois talentos; aqui ganhei mais dois talentos.’ Seu senhor lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entre na alegria de seu mestre.’ Adiantou-se também aquele que recebera um talento, dizendo: Mestre, eu sabia que és homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não joeiraste; então eu estava com medo, e fui e escondi o seu talento no chão. Aqui você tem o que é seu. Mas seu senhor lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não semeei e recolho onde não joeirei? Então você deveria ter investido meu dinheiro com os banqueiros, e na minha vinda eu deveria ter recebido o que era meu com juros. Então pegue o talento dele, e dê ao que tem os dez talentos. Pois a todo aquele que tem se dará mais, e terá em abundância; mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. E lançar o servo inútil nas trevas exteriores; lá os homens chorarão e rangerão os dentes.’

Não entendo o que este texto prova que já não tenha sido explicado.

Mateus 25:31-46 “Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará em seu trono glorioso. Diante dele serão reunidas todas as nações, e ele as separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e colocará as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, herdai o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era estrangeiro e me acolheste, estava nu e me vestiste, adoeci e me visitaste, estive na prisão e tu veio até mim.’ Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? ou com sede e te der de beber? E quando te vimos estrangeiro e te recebemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão e te visitamos?’ E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.’ Então dirá aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era estrangeiro e não me recebestes, nu e não me vestistes, doente e preso e não me visitastes.’Então eles também responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, enfermo ou preso, e não te servimos? ‘Então ele lhes responderá: Em verdade vos digo: como você não fez isso com um desses menores, você não fez isso comigo.’E irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna”.

Lucas 14:13-14  Mas, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos, e serás bem-aventurado, porque eles não te podem retribuir. Você será recompensado na ressurreição dos justos.

Lucas 21:34-36  “Acautelai-vos, porém, para que o vosso coração não fique sobrecarregado com a libertinagem, a embriaguez e os cuidados desta vida, e aquele dia venha sobre vós subitamente como um laço; pois virá sobre todos os que habitam sobre a face de toda a terra. Mas vigie em todos os momentos, orando para que você tenha forças para escapar de todas essas coisas que vão acontecer, e ficar diante do Filho do homem.

João 5:26-29  Porque, assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo, e lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do homem. Não se maravilhe com isso; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão, os que fizeram o bem, para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal, para a ressurreição do juízo.

Romanos 1:18  Porque a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e maldade dos homens que pela sua maldade suprimem a verdade.

Romanos 2:5-13 Mas por seu coração duro e impenitente você está acumulando ira para si mesmo no dia da ira quando o justo julgamento de Deus será revelado. Pois ele retribuirá a cada um segundo as suas obras: Aos que, com perseverança em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade, ele dará a vida eterna; mas para aqueles que são facciosos e não obedecem à verdade, mas obedecem à maldade, haverá ira e fúria. Haverá tribulação e angústia para todo ser humano que pratica o mal, o judeu primeiro e também o grego, mas glória e honra e paz para todo aquele que pratica o bem, o judeu primeiro e também o grego. Pois Deus não mostra parcialidade. Todos os que pecaram sem a lei também perecerão sem a lei, e todos os que pecaram sob a lei serão julgados pela lei. Pois não são os ouvintes da lei que são justos diante de Deus,

1 Corinthians 3:8-9 O  que planta e o que rega são iguais, e cada um receberá o seu salário de acordo com o seu trabalho. Pois somos cooperadores de Deus; você é o campo de Deus, o edifício de Deus.

2 Coríntios 5:10  Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba o bem ou o mal segundo o que tiver feito por meio do corpo.

1 Tessalonicenses 3:12-13  . . . que o Senhor vos faça crescer e abundar em amor uns para com os outros e para com todos os homens, como nós vos fazemos, para que ele confirme os vossos corações irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus com toda a sua santos.

1 Tessalonicenses 5:23  O próprio Deus da paz vos santifique em tudo; e que seu espírito, alma e corpo sejam mantidos sãos e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

2 Tessalonicenses 1:7-12  . . . quando o Senhor Jesus for revelado do céu com seus anjos poderosos em chamas de fogo, infligindo vingança sobre aqueles que não conhecem a Deus e sobre aqueles que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Eles sofrerão o castigo da destruição eterna e exclusão da presença do Senhor e da glória do seu poder, quando ele vier naquele dia para ser glorificado em seus santos e ser maravilhado em todos os que creram, porque nossos testemunho para você foi acreditado. Para isso, sempre oramos por vocês, para que nosso Deus os torne dignos de seu chamado e cumpra toda boa vontade e obra de fé pelo seu poder, para que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vocês, e vocês nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.

Hebreus 6:7-8  Pois a terra que bebeu a chuva que muitas vezes cai sobre ela, e produz vegetação útil para aqueles por quem é cultivada, recebe uma bênção de Deus. Mas se tiver espinhos e cardos, é inútil e está perto de ser amaldiçoado; seu fim é ser queimado.

1 Pedro 1:17  . . . que julga cada um imparcialmente de acordo com suas ações. . .

1 Pedro 4:13  (cf. Rm 8:17) Mas regozijai-vos na medida em que participais dos sofrimentos de Cristo, para que também vos alegreis e alegreis quando a sua glória se manifestar.

2 Pedro 3:10-14  Mas o dia do Senhor virá como um ladrão, e então os céus passarão com grande estrondo, e os elementos se desfarão pelo fogo, e a terra e as obras que estão sobre ela será queimado. Visto que todas essas coisas hão de ser dissolvidas, que tipo de pessoas vocês devem ser em vidas de santidade e piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus, por causa do qual os céus serão acesos e dissolvidos, e o elementos vão derreter com fogo! Mas, de acordo com sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra em que habita a justiça. Portanto, amados, já que você espera por isso, seja zeloso de ser encontrado por ele sem mancha ou defeito, e em paz.

Judas 6-16 E os anjos que não mantiveram sua própria posição, mas deixaram sua própria morada, foram mantidos por ele em cadeias eternas nas trevas inferiores até o julgamento do grande dia; assim como Sodoma e Gomor’ra e as cidades vizinhas, que também agiram imoralmente e se entregaram à luxúria antinatural, servem de exemplo ao sofrerem um castigo de fogo eterno. No entanto, da mesma maneira esses homens em seus sonhos contaminam a carne, rejeitam a autoridade e insultam os gloriosos. Mas quando o arcanjo Miguel, contendendo com o diabo, discutiu sobre o corpo de Moisés, ele não ousou pronunciar um julgamento injurioso sobre ele, mas disse: “O Senhor te repreenda”. Mas esses homens insultam tudo o que não entendem e, por aquelas coisas que conhecem por instinto, como os animais irracionais, são destruídos. Ai deles! Pois andam no caminho de Caim, e abandonam-se por causa do ganho ao erro de Balaão, e perecem na rebelião de Coré. Estas são manchas em seus banquetes de amor, enquanto eles festejam ousadamente juntos, cuidando de si mesmos; nuvens sem água, levadas pelos ventos; árvores infrutíferas no final do outono, duas vezes mortas, desenraizadas; ondas selvagens do mar, lançando a espuma da sua própria vergonha; estrelas errantes para as quais a escuridão das trevas foi reservada para sempre. Foi destes também que Enoque, na sétima geração de Adão, profetizou, dizendo: “Eis que o Senhor veio com suas santas miríades, para executar julgamento sobre todos e condenar todos os ímpios de todas as suas obras de impiedade que cometeram. de maneira tão ímpia, e de todas as duras coisas que os ímpios pecadores falaram contra ele”. Estes são murmuradores, descontentes, seguindo suas próprias paixões,

Judas 20-21  Mas vós, amados, edificai-vos na vossa santíssima fé; orar no Espírito Santo; mantenha-se no amor de Deus; esperar pela misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna.

Apocalipse 2:5  Lembre-se então do que você caiu, arrependa-se e faça as obras que você fez no início. Se não, virei até você e tirarei o seu candelabro do seu lugar, a menos que você se arrependa.

Apocalipse 2:23  . . . Eu sou aquele que sonda a mente e o coração, e darei a cada um de vocês conforme suas obras merecem.

Apocalipse 20:11-13  Então vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele; da sua presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E eu vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono, e os livros foram abertos. Também foi aberto outro livro, que é o livro da vida. E os mortos foram julgados pelo que estava escrito nos livros, pelo que haviam feito. E o mar entregou os mortos nele, a Morte e o Hades entregaram os mortos neles, e todos foram julgados pelo que fizeram.

Apocalipse 21:8  Mas quanto aos covardes, aos infiéis, aos poluídos, aos homicidas, aos fornicadores, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua sorte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte.

Apocalipse 22:12 Eis que venho em breve, trazendo a minha recompensa, para retribuir a cada um o que fez.

A redundância e os erros são repetidos em cada abordagem, eximindo-me da obrigação abordar cada versículo em particular. Todos, absolutamente todos, caem nos mesmos erros interpretativos dos que foram comentados.

Após essa enxurrada de textos que preceituam o bom modo cristão de viver, minha pergunta continua em aberto:

Quantas boas obras devo fazer para ser justo diante de Deus?”

Ao citar os versículos, o senhor Armstrong mostrou que Jesus e os apóstolos nos alertaram contra a maldade e nos incentivaram a fazer boas obras, mas como isso responde minha pergunta?

Dos versículos citados, então, em uma tentativa de mostrar quantas são as boas obras que precisamos fazer para Deus nos considerar justos, ele deduz, a partir deles, que devemos ser da seguinte maneira para Deus nos considerar justos. Em alguns pontos teci os comentários pontuais que mostram a improcedência de tal relação:

1) Eu sou caracterizado pela justiça.

Mas nós somos justos porque fazemos boas obras, ou as obras manifestam nossa justiça?

2) Eu tenho integridade.

3) Eu não sou mau.

Isso significa nem um rastro de maldade? Perfeição absoluta?

4) Eu sou reto de coração.

Isso significa totalmente reto? Perfeição absoluta?

Com total ausência de maldade, e total ausência de desvios, me assusta saber que tal pessoa pode perder a salvação.

5) Eu fiz boas ações.

Quantas boas ações para poder ser considerado justo diante de Deus?

6) Eu tenho boas maneiras.

Boas maneiras segundo qual cultura?

7) Não estou cometendo abominações.

8) Tenho boa conduta.

9) Não estou com raiva do meu irmão.

10) Não estou insultando meu irmão.

11) Não estou chamando alguém de tolo.

12) Tenho bons frutos.

13) Eu faço a vontade de Deus.

14) Eu ouço as palavras de Jesus e as pratico.

15) Eu perseverei até o fim.

16) Alimentei os famintos.

17) Dei de beber ao sedento.

A quantos sedentos preciso alimentar?

18) Vesti os nus.

Quantos nus preciso vestir? Quem vestir mais, será mais justificado?

19) Dei boas-vindas a estranhos.

A quantos deles?

20) Visitei os doentes.

Quantas visitas preciso fazer para que eu seja considerado justo diante de Deus?

21) Visitei prisioneiros.

Quantos prisioneiros preciso visitar para ser considerado justo diante de Deus?

22) Convidei os pobres e os aleijados para a minha festa.

Quantos? Todos os pobres do mundo?

23) Não estou sobrecarregado com dissipação.

24) Não estou sobrecarregado com a embriaguez.

25) Não estou sobrecarregado com os cuidados desta vida.

26) Eu não sou ímpio.

27) Não suprimo a verdade.

28) Fiz boas obras.

Quantas boas obras tenho que fazer para ser considerado justo? E, se as boas obras têm uma gradação de bondade diante de Deus, então quantas pequenas boas obras tenho que fazer para me igualar a uma grande boa obra? E quantas grandes obras devo fazer para ter paz com Deus?

29) Eu obedeci a verdade.

30) Não estou fazendo o mal.

31) Eu tenho sido um “cumpridor da lei”.

32) Tenho sido um bom obreiro e colaborador de Deus.

33) Sou inculpável em santidade.

34) Fui totalmente santificado.

Esse ponto é importante, pois significa uma total ausência de pecado, algo que, segundo o senhor Armstrong, nem mesmo os apóstolos alcançaram, já que estavam sempre admoestando e colocando-se como aqueles que poderiam cair.

35) Meu espírito, alma e corpo são íntegros e irrepreensíveis.

36) Eu conheço Deus.

O problema é que as boas obras não provam que uma pessoa conhece a Deus, há vários ateus filantropos.

37) Obedeci ao evangelho.

38) Eu compartilhei os sofrimentos de Cristo.

39) Estou sem mancha ou defeito.

40) Eu me arrependi.

41) Não sou covarde.

42) Não sou infiel.

43) Não estou poluído.

44) Eu não sou um assassino.

45) Eu não sou um fornicador.

46) Eu não sou um feiticeiro.

47) Não sou idólatra.

48) Eu não sou um mentiroso.

49) Convidei o coxo para minha festa.

50) Convidei os cegos para minha festa.”

O senhor Amstrong citou um conjunto de regras subjetivas, e se eu obedecer esse conjunto de regras, posso ser considerado justo diante de Deus. Em um total de 50, um conjunto de regras bem robusto, que qualquer homem instruído sabe ser impossível cumprir tudo, e mesmo cumprindo, ao derrapar em apenas um, se tornará culpado de todos. Não importa o quão esforçado você seja, se não for perfeito no sentido literal do termo, você não pode ter paz com Deus. Essa é a questão, pois Paulo alega ter paz com Deus. Mas como pode ser assim se, segundo o senhor Armstrong, São Paulo não era totalmente santo e perfeito, já que tinha medo de ser desqualificado? Segue-se a conclusão inequívoca: a justificação diante de Deus é somente pela fé, e a santificação é que se dá pela fé e pelas obras, sendo a fé sua causa formal e a obra o resultado dessa santificação.

Vendo esse conjunto de 50 regras, não consigo ver como isso difere do legalismo farisaico, pois ensina que santidade e justificação vêm pela prática das boas obras, quando a escritura apresenta as nossas obras como efeitos da santidade, não como sua causa. É claro que para nós, humanos, quase sempre descobrimos as coisas espirituais do efeito para a causa, e, por isso, às vezes a Escritura pode descrever assim também.

O que a Escritura ensina é o oposto:

Contudo, não existe um homem tão justo sobre a face da terra que saiba fazer o bem sem jamais pecar!.” Eclesiastes 7.20

Quem pode declarar: “Tenho consciência limpa! Estou livre de todos os meus pecados”? Pv 20.9

Quem poderá dizer que não tem pecado algum? Ora, se para ser justificado e ter paz com Deus tenho que ser perfeito em meus caminhos e isso significar não pecar de jeito algum, então quem estará livre da condenação? Quem terá paz com Deus já que ninguém está livre de todos os pecados? Sim, estará livre dos pecados aquele que recebe os méritos de Cristo imputados sobre si, pois não existe homem que seja inerentemente tão justo a ponto de não ter pecado, sendo sempre carente da graça de Deus. Ademais, é mentira dizer que não temos pecado:

Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.” 1 Jo 1.8

Mas se ser justificado é ser totalmente santificado, então não seria mentira alguém que chegou a tal padrão afirmar que não tem pecado. A Escritura, contudo, não abre exceção, a não ser o próprio Cristo.

Após isso usei como argumento Tiago 2.10: “Pois quem guarda toda a lei e tropeça em um ponto é culpado de todos. Pois quem transgride um mandamento da lei é culpado de transgredir todos eles”. Tg [James] 2.10. Quando serei justo se um pequeno pecado me torna culpado de todos?”

O senhor Armstrong respondeu:

Tiago 2:10 deve ser interpretado e entendido à luz dos versículos relacionados (referência cruzada e teologia sistemática). A Bíblia não ensina que todos os pecados são absolutamente iguais. Isso é fácil de provar. Francisco (e habitualmente os protestantes) usam um verso de estimação ou alguns versos altamente selecionados e favorecidos que aparecem à primeira vista (mas não após uma análise profunda ) para apoiar sua posição. Os católicos incorporam e seguem os ensinamentos da Bíblia como um todo, e não ignoram dezenas de passagens porque vão contra posições preconcebidas (como os protestantes costumam fazer).

Tiago 2:10 trata da incapacidade do homem de guardar toda a Lei de Deus: um tema comum nas Escrituras. Tiago aceita diferenças em graus de pecado e justiça em outras partes da mesma carta: “nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor” (3:1). Em 1:12, o homem que suportar a provação receberá uma “coroa da vida”. Em Tiago 1:15 ele afirma que “o pecado, quando adulto, produz a morte.

Primeiro saliento que jamais afirmei que todos os pecados são iguais, e os teólogos calvinistas clássicos estão dispostos a concordar que os pecados não são iguais, mas é preciso clarificar alguns pontos:

1 – Conforme a teologia reformada clássica, os pecados não são iguais, como ensina a Segunda Confissão Helvética: “Confessamos também que os pecados não são iguais: embora surjam da mesma fonte de corrupção e incredulidade, alguns são mais graves que os outros. Como disse o Senhor, haverá mais tolerância para Sodoma do que para a cidade que rejeita a palavra do Evangelho (Mat 10.14 ss; 11.20 ss)”.

Também ensina Johannes Wollebius:

XIV. O julgamento concernente à relativa seriedade [de gradibus] dos outros pecados precisa ser feito sobre a base das circunstâncias, em consideração do que eles podem ser avaliados, como mais ou menos graves. Por exemplo, um pecado é mais grave se cometido por uma pessoa de alto grau, mais do que cometido por uma pessoa de baixa posição. “Quanto mais atraente é o crime em si, maior a culpa do criminoso.” Um pecado premeditado é mais grave do que quando meramente pensado, e o de palavra e ação é mais grave do que o praticado em pensamento e desejo. Um pecado deliberado é pior do que um de omissão da mesma ordem. Um pecado contra Deus é pior do que o que é cometido contra o próximo. Um pecado cometido em relação a quem temos razões para sermos contidos do pecado é mais grave do que se cometido em relação qualquer um; por exemplo, um pecado contra os pais é mais grave do que um da mesma ordem contra um irmão. Um mau exemplo [scandalum] é mais grave quando diante dos jovens do quando o praticamos em relação aos adultos.” WOLLEBIUS, J. Compendio de Teologia Cristã. Peregrino. 2020. 1 ed. Eusébio-CE. p. 91.

Diz também João Calvino:

O que ele quer dizer com isso é que Deus não será honrado com exceções, nem permitirá que cortemos de sua lei o que é menos agradável para nós. À primeira vista, essa sentença parece difícil para alguns, como se o apóstolo considerasse o paradoxo dos estóicos, que torna todos os pecados iguais, e como se ele afirmasse que aquele que ofende uma coisa deve ser punido igualmente com aquele cujo todo a vida tem sido pecaminosa e perversa. Mas é evidente a partir do contexto que nada disso entrou em sua mente.” (Comentário à carta de São Tiago, cap 2 vers 10 Disponível em: https://www.bibliaplus.org/pt/commentaries/3/comentario-biblico-de-joao-calvino/tiago/2/10.)

Poderia citar mais autores, mas considero desnecessário.

2 – Há um ângulo em que consideramos os pecados iguais, pois cremos que Cristo morre igualmente por todos os pecados, não somente por um grupo de pecados; logo, todos os pecados são condenatórios e todos os pecados são mortais, pois precisam do sangue da morte de Cristo para serem expiados.

3 – Permanece de pé que São Tiago diz que se tropeçarmos em um só mandamento, tornamo-nos impuros, embora não seja negado que há pecados mais graves e menos graves. É também certo que todo pecado é uma impureza, portanto, fere a santidade. Se santidade e justificação são as mesmas coisas, como pensam os católicos romanos, então só é justo aquele que não tropeça na lei em ponto algum, e aqui reside a força do meu argumento. Quando seremos justos? Quando teremos paz com Deus? A resposta católica romana é: quando não tropeçarmos em absolutamente NENHUM ponto da lei. Pelo menos esta deve ser a resposta, caso queiram manter a coerência. Porém, como o próprio senhor Armstrong admite que “Tiago 2:10 trata da incapacidade do homem de guardar toda a Lei de Deus: um tema comum nas Escrituras”, conclui-se que é impossível ao homem guardar toda a lei, sendo, portanto também impossível ao homem ser justificado diante de Deus e ter paz. Esse argumento, em meu ver, ficou muito bem estabelecido de minha parte.

4 – Rejeitamos a distinção católica romana entre pecados veniais e pecados mortais, pois Cristo morre por todos os pecados; logo, todos são mortais e devem ser expiados pela morte de Cristo. Como valorizamos a santidade, não desprezamos o poder de qualquer pecado, achando que alguns deles possam ser tão pequenos que sejam desprezíveis. Para estabelecer tal argumento, basta pensarmos da seguinte forma: qual mandamento Deus poderia dar a Adão que, caso fosse desobedecido, Adão se manteria no paraíso? Há algum tipo de pecado que Adão pudesse cometer que Deus não o expulsaria do jardim? Se há, então a distinção entre pecado venial e mortal é válida, se não há, então todos os pecados são mortais, pois qualquer pecado cometido por Adão o levaria à morte.

5 – Rejeitamos o ensino escolástico que diz que há mérito em uma justiça parcial e há justificação em uma justiça parcial. Se há algo que São Tiago 2.10 ensina é que a justiça está na obediência completa da lei, portanto, concluímos que somente Cristo conseguiu tal feito, então somente em Cristo podemos ser completamente justos com sua justiça imputada sobre nós.

6 – A acusação de que os protestantes isolam textos de seu contexto não merece resposta.

Senhor Amstrong continua:

Portanto, deve haver pecados que não são maduros e não trazem morte espiritual. Tiago também ensina que “a oração de um justo tem grande poder em seus efeitos” (5:16), o que implica que há relativamente mais justos, a quem Deus honra mais, tornando suas orações mais eficazes (ele usou o profeta Elias como exemplo). Se há uma justiça menor e maior, então também há pecados menores e maiores, porque ser menos justo é ser mais pecaminoso, e vice-versa.”

Respondo que:

1 – Concordo que há pecados maiores que outros, mas nego que existam pecados que não são mortais. Como já fora dito, Cristo morre por todos os pecados, logo, todos são mortais, todos são condenatórios.

2 – O texto de Tiago 5.16 deve ser avaliado não só pelo consequente, mas também pelo antecedente. Os versículos antecedentes apontam para a realidade do poder da oração mesmo diante da condição de pecado, pois dizem: Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.” Tiago 5:16

3 – O mais impressionante vem no consequente, quando trata de Elias. Sim, Elias é chamado de justo, e o senhor Armstrong concorda que o profeta Elias era totalmente justo. São Tiago então diz algo que desmonta o argumento do senhor Armstrong, assim diz: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra.” Tiago 5:17 Deve-se refletir sobre o significado de paixões nesse texto, pois o termo grego usado é ομοιοπαθες (homoiopathés) e tem um sentido de mesma natureza, mesma constituição frágil e imperfeita, mesma condição. Longe de ser alguém absolutamente perfeito, como exige a teologia católica romana, para que alguém seja considerado justo, Elias era alguém sujeito a paixões como “qualquer um de nós”, ou seja, todos os homens comuns.

4 – Quando São Tiago cita Elias, ele quer ensinar que toda oração deve ser feita pela fé. Ele usa o exemplo de Elias para mostrar que, se ele foi ouvido, também seremos ouvidos, pois a ordem de orar com fé é dada a todos, não somente a um grupo daqueles que seriam justos iguais a Elias. O senhor Armstrong diz que: “há relativamente mais justos, a quem Deus honra mais, tornando suas orações mais eficazes (ele usou o profeta Elias como exemplo)”, e eu concordo que há pessoas mais santas do que outras, mas se a medida da oração fosse o grau de santidade, então deveria ser adicionado ao texto que todos só seríamos ouvidos se fôssemos tão santos quanto Elias, o que é totalmente estranho ao texto. Além disso, se o grau de santidade determinasse o tamanho da resposta divina, então a resposta de uma oração seria por mérito humano, não pela misericórdia divina, graciosa e imerecida, independente do grau de santidade que qualquer homem tenha alcançado. O texto não ensina que devemos ser tão santos como Elias para que nossas orações sejam tão ouvidas quanto a sua foi, pelo contrário, o texto nivela Elias com todos os justos, com os presbíteros da Igreja e com as pessoas com que nós nos confessamos, ou seja, se Elias foi ouvido, também seremos ouvidos quando orarmos com fé. O texto, longe de ensinar graus de justificação, iguala todos os homens de fé, pois acrescenta Elias era um “homem e sujeito às mesmas paixões” que nós, ou seja, Elias não diferia de qualquer um de nós no tocante à sua justiça. O próprio profeta Elias dirá que não era melhor que seus pais: “e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte. “Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados. ” 1 Reis 19.4. Mesmo assim, Elias é tido como o maior dos profetas, porém, não é colocado como mais justificado, pois não é melhor que seus antepassados e também é apresentado como menor que João Batista (Mateus 11.11), que no fim da vida chegou a duvidar do ministério de Cristo (Mateus 11.3), provando inequivocamente que a justificação não é medida pela absoluta perfeição e, se assim o fosse, ninguém teria paz com Deus, pois não existiria ninguém justo. Ora, se João Batista, que duvida da própria obra de Cristo, é maior que todos os profetas, incluindo Elias, que é tomado como exemplo de homem de fé no texto de São Tiago, qual será minha situação diante de Deus?

5 – Podem existir pessoas mais santas que outras, o que não pode existir é alguém com total ausência de pecado: “Quem pode declarar: “Tenho consciência limpa! Estou livre de todos os meus pecados”? Pv 20.9 Todos somos justos e pecadores, porque a justiça não é nossa, mas de Cristo, os méritos não são nossos, mas de Cristo.

6 – Lembro que não discordo que se os termos justiça e santidade forem tomados univocamente, não discordo que há pessoas mais justas que outras, pois não discordo que há pessoas mais santas que outras, mas somente sob essa condição. Porém, no conceito protestante, justificação é distinta de santidade, e se o termo justo for tomado univocamente como santidade, então há uma distinção entre ser justo e ser justificado, tal qual haveria uma distinção similar entre “Righteous e Just” na língua inglesa.

O senhor Armstrong continua: “A justiça não deriva da lei. Ela vem de Deus e de Sua graça capacitadora, não palavras escritas em uma página, por melhores e verdadeiras que sejam.”

Concordo que a justiça não deriva da lei, e é justamente por isso que não é a obediência à lei a causa da nossa justificação. Para nós protestantes, a justiça que nos justifica, vem de Cristo e dos seus méritos adquiridos na cruz (Solus Christus), pois somente os méritos de Cristo justificam.

Gálatas 3:21 afirma que “se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, então a justiça seria de fato pela lei” (cf. 2:16-17,21; 5:4-6,14,18; Rm 3: 21-22; 4:13; 9:30-32). Paulo escreve em Romanos 10:3: “Porque, ignorando a justiça que vem de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não se submeteram à justiça de Deus”.

Concordo plenamente, mas o que foi dito agora contradiz o que o senhor Armstrong tem defendido. Uma vez que estabeleço 50 regras para cumprir para assim ser considerado justo diante de Deus, estou falando sim de uma justiça própria, mas se eu digo que a justiça é inteira de Cristo, então eu falo de uma justiça imputada, não de uma justiça infusa como entende o senhor Armstrong. Somente uma justiça externa a nós pode nos justificar, não as nossas obras, é isso que o texto ensina ao dizer que procuramos estabelecer uma justiça própria.

O senhor Armstrong continua:

João Calvino ensina algo bem diferente da Bíblia, quando se dirige a Tiago 2:10:

Mesmo se fosse possível realizarmos obras absolutamente puras, ainda assim um pecado é suficiente para apagar e extinguir toda lembrança da justiça anterior, como diz o profeta (Ez 18:24). Com isso, Tiago concorda: “Todo aquele que guardar toda a lei, e ainda tropeçar em um ponto, é culpado de todos” (Tiago 2:10). E uma vez que esta vida mortal nunca está inteiramente livre da mancha do pecado, qualquer justiça que pudéssemos adquirir seria corrompida, subjugada e destruída pelos pecados subsequentes, de modo que não poderia resistir ao escrutínio de Deus, ou ser imputada para nós para a justiça. ( Institutas III, 14:10)

Mas a regra com respeito à injustiça é muito diferente. O adúltero ou ladrão é por um ato culpado de morte, porque ofende a majestade de Deus. O erro desses nossos argumentadores está aqui: eles não atendem às palavras de Tiago: “Aquele que guardar toda a lei, e ainda assim tropeçar em um ponto, é culpado de todos. Pois aquele que disse: Não cometa adultério, disse também: Não mate”, etc. (Tiago 2:10, 11). Portanto, não deve parecer absurdo quando dizemos que a morte é a justa recompensa de todo pecado, porque cada pecado merece a justa indignação e vingança de Deus. ( Institutas III, 18:10)

É muito fácil no contexto ver o erro que ele comete em relação a Ezequiel 18. Ele declara sua interpretação de Ezequiel 18:24 como: “ainda que um pecado seja suficiente para apagar e extinguir toda lembrança da justiça anterior”. Mas o profeta  não  diz nada disso! Ele está falando geral e amplamente da vida dos pecadores versus a vida do homem justo e redimido. O versículo (primeira parte) declara: “Mas, desviando-se o justo da sua justiça e cometendo iniqüidade e praticando as mesmas coisas abomináveis  ​​que o ímpio, porventura viverá?”

Observe que os pecados são  plurais : não um pequeno pecado que supostamente desfaz tudo, como no esquema de Calvino. Ezequiel está ensinando, com efeito: “se você viver em pecado como as pessoas más e más, você morrerá [espiritualmente]”. Isso se refere a pessoas que se entregam totalmente ao pecado (incluindo pecados mortais). Isso é o que separa uma pessoa de Deus, não uma mentira inocente ou pensamento lascivo ou roubar um biscoito do pote de biscoitos.”

Agora o senhor Armstrong curiosamente faz um esforço homérico para provar que existem pecados aceitáveis, que não matam a alma e que não ofendem a majestade divina.

Para isso ele analisa um texto das Institutas de João Calvino. Ele foca o seu argumento em Ezequiel 18.24 afirmando que o profeta fala de muitos pecados e não somente de um pecado, e que a queda do justo só se dá por muitos pecados e não por poucos pecados. Há muito o que se observar, o que farei a seguir:

1 – O profeta Ezequiel 18.24 usa o termo no plural e também no singular, veja o texto: “Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade (singular), fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão (singular) Ezequiel 18:24

Novamente: Desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo iniquidade (singular), morrerá por ela; na iniquidade (singular), que cometeu, morrerá.” Ezequiel 18:26

É claro que o texto não limita a uma só iniquidade, podem ser várias, mas note algo importante: quando o profeta diz: Não comendo sobre os montes, nem levantando os seus olhos para os ídolos da casa de Israel, nem contaminando a mulher do seu próximo, nem se chegando à mulher na sua separação, Não oprimindo a ninguém, tornando ao devedor o seu penhor, não roubando, dando o seu pão ao faminto, e cobrindo ao nu com roupa, Ezequiel 18:6,7

Será que o homem precisa realmente cometer todos esses pecados para ser considerado injusto? O profeta cita a idolatria – mas não é a idolatria um pecado mortal segundo a teologia de Roma? Agora pergunto: é preciso mais do que o pecado da idolatria para tornar o homem injusto? O profeta cita o adultério, que também é pecado mortal segundo a teologia de Roma, e novamente pergunto: é preciso mais do que o adultério para que o homem seja considerado injusto? O profeta também cita o roubo, que também é um pecado mortal segundo a teologia da Igreja Católica Romana e repito: é preciso mais do que o roubo para que o homem caia da justiça? Calvino cita coerentemente: “O adúltero ou ladrão é por um ato culpado de morte, porque ofende a majestade de Deus” e o senhor Armstrong, curiosamente, contra a própria doutrina da Igreja Católica Romana, nega que o adultério seja um pecado mortal, ou o roubo, e que somente se somar todos os pecados mortais é que caímos da justiça. O argumento contra Calvino é totalmente improcedente até mesmo dentro da teologia romana. Não são necessários vários pecados, mas somente um pecado para que toda a justiça vá por terra. Basta um pecado não confessado, cometido voluntaria e conscientemente (ver o Catecismo da Igreja Católica Romana em seus parágrafos 1861 e 1874). Então Calvino diz: “Com isso, Tiago concorda: “Todo aquele que guardar toda a lei, e ainda tropeçar em um ponto, é culpado de todos” (Tiago 2:10).” E o senhor Armstrong simplesmente nega que São Tiago ressalta que é em qualquer ponto da lei, um só ponto, já torna o homem culpado de todos os outros, ou seja, injusto. O senhor Armstrong tenta jogar um texto contra o outro, mas não obtém êxito nem em sua exegese da Escritura, nem na refutação aos ensinos de Calvino.

2 – Embora João Calvino negue a distinção entre pecado venial e pecado mortal, é certo que nenhum dos pecados citados pelo profeta é um pecado venial. O comentário do senhor Armstrong sobre uma mentira inocente ou… roubar um biscoito do pote de biscoitos, não encontra amparo nenhum no texto do profeta porque em momento algum é citado qualquer pecado que possa ser enquadrado naquilo que poderia ser considerado um pecado venial. Logo, mesmo na concepção católica romana, Calvino não pode ser refutado com esse comentário.

Na continuação do seu discurso, o senhor Armstrong não consegue mostrar onde o profeta citou qualquer pecado venial, e mesmo que ele mantenha a distinção (mortal e venial), não poderá usar esse texto contra Calvino, já que um só pecado mortal é suficiente para tornar o homem injusto, não precisando de vários deles.

O senhor Armstrong continua:

Ele faz o mesmo com Tiago 2:10: “Pois quem guardar toda a lei, mas falhar em um ponto, tornou-se culpado de tudo.” A falácia aqui é a equação de manter a lei com todas as tentativas de ser moral e justo, seja o que for. Os dois não são idênticos.

São Tiago deixa claro a que lei ele está se referindo: Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei. Tiago 2:11. Essa é uma menção direta aos 10 mandamentos, e sabemos que mesmo na teologia de Roma uma infração ao decálogo é um pecado mortal. Como podem não ser idênticos? Como não são equiparados? E onde há uma distinção entre pecado venial e mortal nesse texto? O texto simplesmente fala da transgressão da lei de Deus, ou seja, de “anomia”, referindo-se, portanto, a qualquer pecado. São Tiago trata de qualquer pecado indefinidamente, como fica provado por suas palavras generalistas, qualquer que tropeça em um só ponto (qualquer ponto)”, uma vez que os preceitos são dados para serem obedecidos universalmente, não parcialmente, toda e qualquer transgressão de qualquer ponto é primeiramente o pecado da desobediência, e, por conseguinte, uma ofensa a Deus.

O senhor Armstrong continua:

Se fossem, Paulo não teria contrastado a lei e a graça, como costuma fazer (por exemplo, Rm 5:20; 6:14-15; Gl 2:21; 5:4; cf. Jo 1:17). Calvino entende essa distinção muito bem e a ensina ele mesmo. É a soteriologia elementar do Novo Testamento. No entanto, quando convém ao seu propósito, todo esse conhecimento é jogado pela janela, e ele se envolve em sofismas e eisegeta um versículo para tentar provar uma doutrina falsa. Isso não vai funcionar. É preciso ser consistente e honesto na interpretação da Bíblia.

Lei e graça é uma distinção de antes e após Cristo, mas pecado é pecado antes e após Cristo. Este apelo do senhor Armstrong me parece um non sequitur.

O senhor Armstrong insiste em sua defesa da distinção entre pecado mortal e venial:

Aqui estão passagens que mostram as diferenças na gravidade dos pecados (ou seja, alguns deles – pecados mortais – podem fazer com que alguém perca suas boas graças com Deus e até mesmo justificação e/ou salvação, enquanto outros – pecados veniais – não o fazem):

1 João 5:16-17 Se alguém vir seu irmão cometendo pecado não mortal, pedirá, e Deus lhe dará vida por aqueles cujo pecado não é mortal. Há pecado que é mortal; Eu não digo que se deve orar por isso. [17] Todo o mal é pecado, mas há pecado que não é mortal.

Este texto não afirma que há pecados que não matam espiritualmente, mas ensina que aquele que peca impenitentemente até sua morte, não devemos mais orar por essa pessoa. Há várias razões para pensar assim. Seguem-se:

1 – São Tiago 1.15 diz que todo “pecado, após ter se consumado, gera a morte”. Como a Escritura não se contradiz, então não há pecado que não mate.

2 – A tradução usada pelo senhor Armstrong está obscura, pois omite a preposição grega prós (πρὸς) que tem o sentido de continuidade, movimento em direção a um lugar, a um momento, como usado em Mateus 3:14: “Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu até (πρὸς) mim?” em outras palavras, “vens tu até chegares em mim”, dando o sentido de um caminho a ser percorrido até um destino final (Jesus seguiu o caminho até chegar em seu destino final que era João Batista). Novamente em Mateus 7.15: “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm até (πρὸς) vocês vestidos de peles de ovelhas”, ou seja, eles percorrem um caminho até um destino final, eles se movimentam em direção a um lugar, a um destino, a um momento (os falsos profetas seguiam o caminho até chegar em seu destino final, que são as ovelhas). Novamente em Mateus 10.13: “Se a casa for digna, que a paz de vocês repouse sobre ela; se não for, que a paz retorne para (πρὸς) vocês.”, ou seja, que a paz retorne até chegar em vocês (a paz seguiria um caminho até chegar em seu destino final que era a pessoa que a enviou). O mesmo ocorre em Mateus 13.12, Mateus 14.25, Mateus 14.29, Mateus 17.14, Mateus 19.14, Mateus 21.32, Mateus 21.37, Mateus 23.34, Mateus 23.37, Mateus 25.36, Mateus 26.14 etc etc;

São mais de 500 (quinhentas), isso mesmo, não é erro de digitação, mais de 500 (quinhentas) ocorrências desse termo com esse mesmo sentido no Novo Testamento. O apóstolo João também a usa quando diz: “Vocês enviaram a João” João 5.33, novamente: “multidão está vindo até ele” João 6.5, sempre com o mesmo sentido de se mover em direção a um destino.

Assim, a melhor tradução seria: “Se alguém vir seu irmão cometendo pecado não até a morte, pedirá, e Deus lhe dará vida por aqueles cujo pecado não é até a morte. Há pecado que é até a morte; Eu não digo que se deve orar por esse. Todo o mal é pecado, mas há pecado que não é até a morte.”

3 – O texto ensina que o pecado “mortal” seria o pecado praticado “até a morte”, ou seja, o pecado impenitente, nunca confessado, nunca perdoado.

4 – O contexto reforça essa interpretação, pois primeiramente São João diz que “por esses não devemos orar” refletindo o ensino de que o homem incorrigível é abandonado por Deus e, por isso, deve ser abandonado pelos homens santos, como diz o Livro Santo:

Ao homem faccioso, depois da primeira e segunda admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido, e vive pecando, e já por si mesmo está condenado.” (Tito, 3.10,11)

Contudo, se ele se recusar a considerá-los, dizei-o à igreja; então, se ele se negar também a ouvir a igreja, trata-o como pagão ou publicano.” Mt 18.17

Tratar como pagão é o mesmo que tratá-lo como alguém que não conhece a Deus: “não dominados pela paixão de desejos sem controle, à semelhança dos pagãos que não conhecem a Deus. 1 Tess 4.5

Por isso os entreguei a seu próprio coração teimoso, a fim de que seguissem seus intentos e desejos!” Salmos 81.12

Por esse motivo, Deus entregou tais pessoas à impureza sexual, segundo as vontades pecaminosas do seu coração, para degradação de seus próprios corpos entre si.” Rm 1.24

O texto não trata de uma lista de pecados que sejam veniais (comuns) e uma lista de pecados mortais (graves), mas de pecados que foram expiados mediante o concurso da fé e o arrependimento e pecados que não foram expiados mediante o arrependimento com fé. Por isso São João diz: “O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus.” 1 João 5:4,5 Crer de todo coração é ter nascido de novo e vencer o mundo, portanto, quem nasce de “Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus, por Deus é protegido, e o Maligno não o toca.” 1 João 5:18. É no Poder de Deus, que é Onipotente, que confiamos. Mesmo que existisse tal pecado mortal, de acordo com os termos do catolicismo romano, um homem que nasceu de novo jamais cairia nesse pecado, pois o texto diz que “Deus o protege”; é uma promessa de que Deus é fiel para cumprir mesmo quando não somos fiéis. Homens que verdadeiramente nasceram de novo não perdem sua salvação porque Deus é poderoso e promete protegê-los da impenitência. É vedado ao maligno tocar de forma definitiva em um homem de Deus, Deus pode permitir temporariamente, mas nunca definitivamente. O texto não trata de um pecado mortal em contradição ao pecado venial, mas milita contra o que vive em pecado e o que peca, mas se arrepende, e por estes devemos orar, enquanto os impenitentes, após serem advertidos, devem ser abandonados.

5 – O texto trata de pecados que são perdoáveis e pecados que não são perdoáveis, qual o pecado que não tem perdão? Segundo a Escritura, somente um: a blasfêmia contra o Espírito Santo. É certo, por dedução, que a impenitência é uma forma de blasfemar contra o Espírito Santo, pois sabemos que para a impenitência não há perdão.

6 – Curiosamente, parece-me que a acusação do senhor Armstrong de que isolamos versículos de seus respectivos contextos volta-se contra ele.

O senhor Armstrong continua sua argumentação tentando provar a distinção entre pecado mortal e venial. A questão é que essa doutrina não pode ser deduzida da Escritura. A Escritura ensina haver pecados mais graves do que outros, mas nunca diz haver pecados que não levam ao inferno, ou seja, à morte eterna, sendo todos os pecados, portanto, mortais. Como já foi mostrado em outra ocasião, o senhor Armstrong erra quando nos atribui o erro dos estóicos, de que toda anomia é exatamente igual em todos os aspectos. Isto não é verdade sobre nós.

O senhor Armstrong diz:

As pessoas nem sempre estão completamente cientes de que certos atos ou pensamentos são pecaminosos. Na teologia católica e bíblica, para cometer um pecado grave, ou mortal, onde se deixa de estar em estado de graça e está literalmente em potencial, mas perigo real do fogo do inferno, são necessários três requisitos: 1) deve ser um assunto muito sério, 2) o pecador deve ter refletido suficientemente ou ter conhecimento adequado do pecado, e 3) ele deve ter consentido plenamente em sua vontade.”

O senhor Armstrong sugere que o pecado consciente é um pecado mortal e o pecado ignorante não é um pecado mortal, mas isso não é verdadeiro por vários motivos:

1 – O homem que nunca ouviu o Evangelho e peca por pura ignorância também é réu do inferno. Embora seu pecado seja menor do que aquele que comete o pecado conscientemente, isso não significa que seu pecado não seja mortal diante de Deus. A Escritura assim ensina:

Eu, que antes fui perseguidor blasfemo e contumelioso, consegui misericórdia, porque obrei por ignorância, como quem ainda não tinha a Fé.” (I Timóteo 1:13).

São Paulo confessa ter agido na ignorância, mas não deixa de enumerar seu pecado como sendo blasfêmia (um pecado mortal segundo a teologia católica romana). Paulo não faz distinção alguma entre pecado mortal e venial, embora seja claro em outros lugares da Escritura que existem pecados maiores e menores, em lugar algum aparece algum pecado que não seja digno de morte eterna, portanto mortal, pelo contrário o Senhor Jesus ensina que prestaremos conta até mesmo das palavras inúteis que proferimos: “Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras você será absolvido, e por suas palavras será condenado”.Mateus 12:36,37.

São Lucas também diz:

Aquele que não conheceu a vontade de seu Senhor, e fez cousas dignas de castigo, será menos castigado.” (Lucas 12:48).

O texto é claro ao dizer que aquele que peca por ignorância, embora receba uma pena menor, não será livre de castigo eterno. Assim como a quantidade de boas obras refletem no galardão celestial, a gravidade dos pecados refletem na pena que se recebe no inferno, mas todos os pecados conduzem à morte eterna.

3 – Se o pecado cometido por ignorância não fosse digno de morte eterna, portanto venial, então melhor seria que o Evangelho nunca fosse pregado e que todos os ignorantes tivessem seus pecados veniais expiados em um purgatório (para quem acredita) ou fossem salvos pela ignorância, conclusão que é contrária à Escritura, que ordena que se pregue o evangelho a toda criatura para que todos sejam salvos. Mas como serão salvos se não podem ser condenados pela sua ignorância?

4 – A concepção de que o pecado por ignorância é venial milita contra a fé de nossos pais, pois ensinam que o pecado original é suficiente para condenação, inclusive de crianças que não receberam o batismo: Papa São Zósimo, Concílio de Cartago, cânon sobre o pecado e a graça, 417 d.C.: Foi de igual maneira estipulado que se alguém disser que por esta razão o Senhor disse: ‘Na casa de meu Pai há muitas moradas’ (João 14:2), para que se pudesse entender que no reino dos céus haverá algum lugar intermédio ou qualquer outro lugar onde vivem as crianças benditas que partiram desta vida sem o batismo, sem o qual não podem entrar no reino dos céus, que é a vida eterna, seja anátema.” (Denzinger 102, adição autêntica ao cânon 2)

Ou seja, se não existe lugar intermédio, então o pecado leva ao inferno, ou sua ausência leva ao céu, ou o pecado é mortal, ou não há pecado, não existindo meio-termo. Ressalto que o “pecado original” não é um pecado consciente de cada ser humano, mas um pecado herdado e uma culpa herdada.

Santo Agostinho afirmará categoricamente que aqueles que nunca ouviram o evangelho ou desconhecem a lei de Deus sem conhecer a lei de Deus, são dignos da morte eterna: “Agora eles são indesculpáveis por seus pecados: isso pode induzir os homens a perguntar se aqueles a quem Cristo não veio nem falou podem ter alguma desculpa para seus pecados. — A esta pergunta, de acordo com o meu entendimento, eu respondo: que eles não podem ser indesculpáveis por todo pecado que cometeram, mas por este pecado, que eles não creram em Cristo, para quem Cristo não veio e para quem ele não falou. Mas não estão neste número os quais ele falou a seus discípulos e por seus discípulos, o que também agora faz. Pois ele veio aos gentios, por sua Igreja. – Resta-nos perguntar se eles podem ter esta desculpa que foram impedidos pela morte antes de Cristo vir em sua Igreja aos gentios, e antes de ouvirem seu Evangelho. Eu respondo que, sem dúvida, eles podem, mas eles não podem, portanto, escapar da condenação: porque todo aquele que pecou sem a lei, também perecerá sem a lei” (AGOSTINHO. Trato LXXXIX in Iohan).

Em outras palavras, o pecado cometido ignorantemente, embora seja menos grave, é mortal, pois é digno de morte eterna.

A natureza é comum a todos, mas não a graça” (Da predestinação dos Santos, cap.V)

A fé reformada está de acordo com a fé dos pais da Igreja, e nega as novidades como o Batismo de Desejo e salvação em estado de ignorância invencível, que vão contra a fé unânime dos pais.

O senhor Armstrong continua:

As Escrituras fornecem muitas indicações dessa diferença na gravidade do pecado e na culpa subjetiva por ele:

Números 15:27-31 Se alguém pecar inconscientemente, oferecerá uma cabra de um ano como oferta pelo pecado. [28] E o sacerdote fará expiação perante o Senhor pelo pecador, pecando inadvertidamente, para fazer expiação por ele; e ele será perdoado. [29] Uma só lei terás para quem fizer alguma coisa inadvertidamente, para o natural entre os filhos de Israel e para o estrangeiro que peregrina entre eles. [30] Mas aquele que fizer alguma coisa com altivez, seja natural ou peregrino, injuria o Senhor, e será extirpado do meio do seu povo. [31] Porquanto desprezou a palavra do Senhor, e transgrediu o seu mandamento, será totalmente exterminado; a sua iniqüidade cairá sobre ele.

Ezequiel 45:20 O mesmo farás no sétimo dia do mês para quem tiver pecado por engano ou por ignorância; assim farás expiação pelo templo. (cf. Rm 10:3; 1Tm 1:13; 1Pe 1:14)

Lucas 12:47-48  E aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou ou agiu de acordo com a sua vontade, receberá uma severa surra. Mas aquele que não sabia, e fez o que merecia uma surra, receberá uma surra leve. Todo aquele a quem muito é dado, muito será exigido; e daquele a quem os homens se comprometem muito, eles exigirão mais. (cf. Lev. 5:17, Lc. 23:34)

Lucas 23:34 E Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes; pois não sabem o que fazem.”…

João 9:41 Jesus lhes disse: “Se vocês fossem cegos, não teriam culpa; mas agora que você diz: ‘Nós vemos’, sua culpa permanece”.

Atos 3:17 E agora, irmãos, eu sei que vocês agiram na ignorância, como também os seus governantes.

Atos 17:30 Os tempos de ignorância Deus negligenciou, mas agora ele ordena que todos os homens em todos os lugares se arrependam (cf. Rom. 3:25)

1 Timóteo 1:13 embora outrora eu o blasfemasse, o perseguisse e o insultasse; mas recebi misericórdia porque agi ignorantemente na incredulidade.

Hebreus 10:26 Porque, se pecarmos intencionalmente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados,

1 Pedro 1:14 Como filhos obedientes, não vos conformeis com as paixões da vossa antiga ignorância,

Muitas outras passagens expressam as mesmas noções, referindo-se a pecados cometidos “inconscientemente” (Lv 4:2, 13, 22, 27; Lv 5:15, 18; 22:14; Nm 15:24; Js 20:3, 5; Tobias 3:3) que são “perdoados” (Lv 4:20, 26, 31, 35; 5:10, 16, 18; Nm 15:25-26) através dos processos usuais de sacrifício e expiação sacerdotal, baseados na Lei de Moisés.

O senhor Armstrong cita uma série de versículos que ensinam haver pecados mais graves do que outros, mas onde está o versículo que ensina que há pecados que não levam ao inferno caso não sejam expiados? Onde está o versículo que ensina que Cristo morreu por alguns pecados e por outros não? Ora, se há pecado que não é mortal, então esse pecado não pode ter sido causa da morte de Cristo, mas tal não é o ensino das Escrituras. Aliás, isso milita até mesmo contra a doutrina de sua própria Igreja de Roma, que diz que Cristo morreu até mesmo pelo pecado da impenitência, pois morreu pelo pecado daquelas pessoas que nunca crerão, logo, morreu também pelos pecados cometidos ignorantemente.

Dentre os versículos citados, há alguns curiosos, como por exemplo:

Lucas 23:34 E Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes; pois não sabem o que fazem.”…

Perdoar de que se, segundo o senhor Armstrong, quem não sabe o que faz não tem culpa?

Muito pelo contrário, esses homens são chamados de assassinos e chamados ao arrependimento: “Vocês mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E nós somos testemunhas disso. Pela fé no nome de Jesus, o Nome curou este homem que vocês vêem e conhecem. A fé que vem por meio dele lhe deu esta saúde perfeita, como todos podem ver. Agora, irmãos, eu sei que vocês agiram por ignorância, bem como os seus líderes. Mas foi assim que Deus cumpriu o que tinha predito por todos os profetas, dizendo que o seu Cristo haveria de sofrer. Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados, para que venham tempos de descanso da parte do Senhor, e ele mande o Cristo, o qual lhes foi designado, Jesus.” (Atos 3:15-20).

Mais este:

Atos 17:30:Os tempos de ignorância Deus negligenciou, mas agora ele ordena que todos os homens em todos os lugares se arrependam” (cf. Rom. 3:25)

O texto trata de um antes e depois de Cristo e que agora, somente agora, Deus ordena que todos os homens creiam e arrependam-se, pois em tempos anteriores a Cristo, esses homens foram negligenciados. O texto não diz que o pecado desses homens foi negligenciado, mas que os homens antes de Cristo, que não ouviram o evangelho, foram, negligenciados. Contrariamente ao que o senhor Armstrong tenta sugerir, o texto milita contra a vontade salvífica universal, pois ensina que a vontade divina de salvar todos os homens sem exceção aparece somente após a morte de Cristo, antes não havia preceito para isso, pois somente “agora Ele ordena que todos se arrependam”. Note os textos paralelos:

Rm 16.25: “Pela revelação do mistério que foi mantido em segredo desde o início do mundo. Mas, agora está aberto e revelado – para a obediência da fé entre todas as nações;” Cl 1.26,27: “O mistério que estava oculto desde o início do mundo e desde todos os tempos, agora é manifestado aos santos. A quem Deus daria a conhecer a Cristo a quem pregamos, admoestando a cada homem e ensinando a cada um, para que apresentemos todos os homens perfeitos em Cristo Jesus” Em 2 Co 6.2, é exposto aquele texto de Isaías, onde está dito: Porquanto diz o Senhor: “Eu te ouvi no tempo oportuno e te socorri no dia da salvação” Com certeza vos afirmo que esse é o tempo propício (o tempo do novo testamento), agora é o dia da salvação.”; Jo 1.9 “saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem.”. Todos os versículos apontam para uma vontade salvífica universal após a morte de Cristo, não antes, o que significa que Deus nunca quis salvar todos os homens, pois todos os homens, refere-se a toda posteridade de Adão até agora, não somente após a morte de Cristo. O texto de Atos 17.30, citado pelo senhor Armstrong não mostra uma negligência de culpa, mas uma negligência da graça a muitos homens que se perderam na ignorância.

A vontade salvífica universal é uma vontade de signo (preceito), não de beneplácito, portanto, como confirma Santo Agostinho:

“A natureza é comum a todos, mas não a graça” (Da predestinação dos Santos, cap.V)

Outro versículo curioso:

Hebreus 10:26Porque, se pecarmos intencionalmente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados”

Se não há mais sacrifício pelo pecado mortal, para que servem as penitências, a confissão auricular e todos os artifícios criados para o perdão? Certamente o texto está tratando de outro assunto, não convém ao que estamos tratando.

Agora, graças dou a Deus que voltamos para o assunto principal, a justificação.

Pedi ao senhor Armstrong, mais uma vez, que fosse definido a distinção entre justificação inicial, justificação e santificação. Essa distinção foi feita anteriormente, mas de forma obscura, razão pela qual pedi uma clarificação. Como pedi apenas uma clarificação e ele está simplesmente expondo seu conceito, conforme seu entendimento, não farei oposição neste momento. Apenas as guardarei com a finalidade de guiar o meu entendimento durante a análise das próximas questões levantadas pelo senhor Armstrong.

Uma resposta em “Justificação pela fé: perspectiva protestante (contra Armstrong): Rodada 3. Parte 1.”

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